5 de julho de 2009

Momento enxaqueca

Senhores, boa tarde.

Antes de mais nada, sim, advogarei em causa própria. O que normalmente não é uma boa recomendação, mas neste caso hão de convir que só advogando em causa própria, mesmo.

Fora isso, não pertenço ao time do Aldo Rebelo (um xarope que devia tomar tomar surra de peixe morto todas as manhãs, a ver se virava gente), que acredita que não se devam usar palavras de outros idiomas misturadas com o português sob hipótese alguma. Não me apetece fazer como os lusos que chamam o mouse do computador de rato.

Isto posto, meu protesto é contra o uso da palavra NERD. Afirmo e reitero a quem pedir que todo aquele que a usa está prestando um desserviço a si e a todos a seu redor; quer fale a sério, quer esteja de brincadeira ou mesmo ainda se o disser por pura preguiça mental.

Muito embora eu saiba que o inventor do avião é Alberto Santos Dumont e que o melhor refrigerante do mundo é o Guaraná Champagne Antártica e prefira folclore nacional a essas histórias de Santa Claus e Halloween, não sou lá muito patriota. Não implico com o uso de termos em inglês quando importamos para a nossa um artefato de outra realidade. Pessoas que se divertem quebrando códigos de segurança em computadores e coisas do gênero são hackers, não há por que quebrar a cabeça inventando um nome em português para isso. Assim como ludopédio é o raio que o parta, fique sabendo quem quis renomear o tal do futebol.

Mas a palavra NERD se refere a um arquétipo de per si extremamente nefasto e amaldiçoadamente arraigado à psiquê nacional, que é o popular CU-DE-FERRO. Trata-se da noção de que todo o ser humano com gosto pela aquisição de conhecimentos e desenvolvimento da própria potência intelectiva, marcadamente aqueles que tem maior predileção pelas áreas de ciências exatas, é uma espécie de "aleijão mental" sem direito a vida social ou afetiva.

Os componentes mais clássicos desse arquétipo são a noção de que sua aparência física é forçosamente repulsiva, os assuntos de sua predileção áridos e aborrecidos, seu senso estético absolutamente deformado e a convivência com tal ser uma experiência excruciante a ser evitada a todo e qualquer preço.

A origem do termo nacional, versão chula do arcaísmo "caxias" (homenagem ao Duque de Caxias, em virtude do alto grau em que este apresentava a virtude da disciplina), provém da alegação (por parte dos colegas inaptos e invejosos) de que, para obter a seqüência ininterrupta de altas notas que caracteriza a vida acadêmica deste tipo de indivíduo, ele deva ter glúteos de aço, para suportar permanecer tanto tempo sentado diante dos livros.

Como podemos ver, o uso desse termo e as atitudes associadas integram-se à cultura da pessoa desde a mais tenra idade, pois que os alunos repetentes já o inculcam em seus coleguinhas. A explicação para isso é ainda mais simples. Em função dos instintos sociais inerentes ao ser humano, as classes costumam se organizar em estruturas sociais que giram em torno daquelas crianças que se destacam, sendo que todas, pelo instinto natural que nos leva a buscar a aceitação pelo grupo, desejam destacar-se de forma positiva. Os repetentes, obviamente, não conseguem fazê-lo em função de sua competência acadêmica, mas a natureza lhes deu a vantagem do tamanho e da força física, que eventualmente lhes conferem melhores resultados nas atividades esportivas e outras brincadeiras das aulas de Educação Física. Resultado óbvio, hostilizam os melhores alunos e criam em suas respectivas turmas uma cultura de que "quem gosta de estudar não é legal".

E se você "não é legal", não tem apelação. Passa sua vida escolar sem amiguinhos, sem namoradinha e sem ter a quem recorrer. Os psicologicamente mais fracos cedem e entram para a turma do fundão, tentando se integrar a essa estrutura social distorcida sendo bagunceiros e palhaços de turma.

Já os poucos fortes bastar-se-ão a si mesmos e comprazer-se-ão em desenvolver suas competências à revelia da patuléia desvairada, mas os anos de vida social escassa ou inexistente cobram o seu preço. Suas personalidades costumam se tornar introspectivas em maior ou menor grau, seu senso crítico torna-se altamente apurado e seu individualismo exacerbado a níveis incomuns (o proverbial "botão de FODA-SE" é apertado até o talo).

Alguns, a minoria barulhenta que dá munição ao estereótipo, chegam realmente a se tornar socialmente incapazes por misantropia pura e simples. Os demais desenvolvem personalidades próprias, sempre fora de conformidade com o que for mainstream à época, pelo único e suficiente motivo de que toda unanimidade é burra e eles não. Essa recusa automática a integrar-se ao mainstream completa a sentença de isolamento social (total ou parcial, dependendo da qualidade do ambiente humano que o cerca) do indivíduo, em função da preguiça mental da grande maioria das pessoas, que permanece presa à busca pela aceitação e via de regra tem por hábito escolher a rota mais fácil, que é abraçar as coisas e pessoas que forem mainstream e refugar as que não são.

Então, da próxima vez que você for chamar alguém de NERD, pense muito antes de fazê-lo.

  1. Você realmente acredita que é demérito para um ser humano o amor ao conhecimento?
  2. Você realmente acredita que inteligência é sinônimo de "não ser legal"?
  3. Você sincera e honestamente se orgulha de pertencer à mé(R)dia?
  4. Seus gostos são ditados pelos outros e você é feliz por isso?
  5. Você sincera e honestamente se orgulha de ter senso estético limitado e/ou capacidade intelectual inferior?

Para aqueles que responderam afirmativamente às cinco perguntas acima e estão estufando o peito e enchendo a boca para dizer que eu sou um nerd perdedor chorão, uma notícia e um conselho. Vocês são DESPERDÍCIOS DE OXIGÊNIO AMBULANTES. Aproveitem que não gostar de crianças está na moda e façam um favor à espécie: ABSTENHAM-SE DE SE REPRODUZIR, RETIREM SEUS GENES INFECTOS DO NOSSO POOL!

Mas se a sua resposta para qualquer uma daquelas perguntas for NÃO, então dobre a língua, peça mentalmente perdão a si mesmo (de joelhos, por que o desserviço que você estaria prestes a se fazer é do tamanho que você está sentindo agora para maior) e tire essa palavra do seu vocabulário e da sua mente.

Ufa! Falei.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pode me chamar de lixo ambulante, nem ligo. Eu sou nerd/geek/cdf whatever!

xD

Aliás, eu não gosto de muitas palavras que andam sendo usadas ultimamente. 'follow-up' pode continuar sendo 'acompanhamento' sem problemas. 'Customização' nunca deveria ter deixado de ser 'personalização' e 'performance' é 'desempenho' e não há quem mude isso na minha cabeça.

Mas quanto ao mouse, flash e futebol, concordo com você plenamente. XD

Seu Zé Nando disse...

Lai, Lai, Lai... O xingamento todo foi para quem respondeu SIM para todas aquelas 5 perguntas, e todos nós sabemos que não é o seu caso, guria!

Bom, da próxima vez vou tomar cuidado com a formatação do texto, agora que eu reli ficou uma mensagem subliminar estúpida. Vou editar isso agora.

Abração!

zecagado disse...

Caramba, escreve muito igual aos NERDs! Deve ser trauma de infância!

Seu Zé Nando disse...

De Zé para Zé:

Sou um CDF, avisei logo de saída que advogaria em causa própria.

Mas, e daí? O que mais você conseguiu tirar do texto?

Pense! Pensar é natural e faz bem. Não requer prática nem tampouco habilidade.

Saudações Zézenzes
Seu Zé Nando