16 de novembro de 2009

Música 2.1

Senhores, boa noite.

Dessa vez vou falar de música eletrônica, e a seleção não seguirá lá muito critério, exceto pelo meu gosto doido.

Começo com Tangerine Dream, banda alemã de um gênero conhecido como krautrock. Sons psicodélicos com linhas melódicas intrincadas, ora sutis ora passionais. Em alguns álbuns trabalharam temas mais dançantes, mas sem qualquer prejuízo da riqueza musical. Finalmente um som que permite a nós, ouvintes analíticos, sacudirmos nossos esqueletos sem culpa!

Alguns destes álbuns mais dançantes são: Hyperborea, Optical Race e Timesquare.

Já algumas sugestões para apenas ouvir e viajar são: Rubycon, Stratosfear, Phaedra (Mysterious Semblance at the Strand of Nightmares e Movements of a Visionary são arrepiantes) e Force Majeure (Thru Metamorphic Rocks é alucinante).

O grosso da música é feito a partir de sintetizadores eletrônicos e teclados. Alguns de seus trabalhos mais antigos podem propiciar até mesmo expansões de consciência, como o álbum Zeit (Birth of Liquid Plejades e Origin of Supernatural Probabilities são verdadeiros tônicos neurais).

Ficam aqui alguns links:

http://www.youtube.com/watch?v=eq_d0DKqyos&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=F0OrKx8DEYk&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=xJ-M_bieZ_4&feature=related

Na sequência, passo para outro "tecladista": Klaus Schulze.

Este, além de poder facilmente ser classificado como compositor de krautrock (afinal de contas participou como baterista de uma das primeiras formações do Tangerine), por várias vezes flertou descaradamente com o minimalismo, como nos álbuns Ion, Moonlake, The Dome Event e Timewind.

Seu som é a um mesmo tempo sutil e passional, 100% para ouvidos analíticos. Peças como Sequenzer (from 70 to 07), Mindphaser e Floating, em particular, são excelentes para estudar ou realizar qualquer tipo de tarefa de atenção concentrada.

Ficam alguns links (alguns de versões editadas):

http://www.youtube.com/watch?v=0vtE7--vetE
http://www.youtube.com/watch?v=dfzRq39DlX4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=wxph3ow9gs0&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Pi9HVZ4WCDo&feature=related
http://vimeo.com/4577981

Por vezes trabalhou de forma tão próxima ao minimalismo, que algumas de suas composições enveredaram pelo estilo "duração estendida", o que faz com que seja um pouco difícil encontrar links para peças completas.

Mais para a frente eu puxo mais 4 compositores nesse estilo, acredito que falarei de Kraftwerk, Aphex Twin, Jean-Michel Jarre e Kitaro. Se eu já tiver falado sobre algum deles, por favor, me avisem nos comentários.

Até a próxima (se houver, por que pode ser que eu esteja com câncer no cérebro...). See you later, alligator!

25 de outubro de 2009

Teatro infantil

Senhores, boa tarde.

Por que cargas d'água existe tanta peça infantil feita "para crianças"?

Antes de mais nada, atenção para as aspas. Por que uma coisa é fazer para crianças por que elas são o público, ou seja, usar abordagens adequadas e selecionar temas apropriados a essa faixa etária. Outra é fazer "para crianças", tratando o público infantil como se fossem todos sócios-atletas da APAE (ou como se de lá saíssem os envolvidos nestas produções).

Exemplo clássico: uma coisa é interagir com o público em um ou dois momentos da peça com o intuito de trabalhar as habilidades sociais da petizada, outra é gastar mais da metade do tempo naquela geração sistemática de vergonha alheia que é ficar "Ah, mas para onde foi Fulano? Para cá?" (isso quando Fulano foi para o outro lado e a molecada se esgoela de apontar, para o ator que "não entende").

Roteiros infantis são mesmo um caso a parte. Desconfie de quem relê um clássico, por que costumam confirmar de lavada o dito segundo o qual "Pretensão e água benta, cada um toma o quanto quer". Os clássicos levam esse título por que são fórmulas consagradas pelo grande público mundial, querer melhorar em cima deles exige talento ou pretensão demais, e o segundo é muito mais comum no mercado que o primeiro.

Então vamos à parte útil do post de hoje: sinais de identificação de roubadas.

Um sinal bem claro é o tamanho/qualidade do teatro. Se a sala de apresentação é chinfrim, a peça provavelmente também é. Peças mambembes dificilmente prestam. Exceções notáveis são os espaços de apresentação das diversas unidades da rede SESC que, apesar de mais das vezes serem bastante humildes em termos físicos, costumam receber produções de boa qualidade (e isso não apenas em termos de espetáculos infantis, a rede SESC costuma ser uma boa aposta para qualquer tipo de espetáculo).

Outro sinal inequívoco é aquele panfletinho de trocentos por cento de desconto no preço da inteira. Peça que tem isso costuma ser uma roubada federal. Hoje mesmo levamos o Webister para assistir Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Atrapalhado, no Teatro Jofre Soares (R. Major Diogo 547): como Pedro diria a Bino, fujam que é cilada! A escolinha nos deu um flierzinho de 50% para a dita cuja, e nosso garoto recebeu mais um desses quando de um passeio para o Aquário de São Paulo - sintam a vontade de desovar ingressos do pessoal...

Prestem atenção igualmente no elenco. Uma proporção muito desigual de mulheres para homens pode indicar apelação para levar papais babões a arrastar suas crias a assistir presepadas. Por outro lado uma ausência completa delas pode apontar para uma produção "rosada" (o estereótipo segundo o qual ator de teatro infantil costuma ser fruta é daqueles que nos lembram o dito "Onde há fumaça, há fogo"). E quando um único nome "estelar" consta de uma coleção de ilustres desconhecidos, aí é garantia indiscutível de batatada, podem escrever. Por que a direção torra o grosso dos lucros no salário da estrela para alavancar a bilheteria do que, de outro modo, seria fracasso na certa. Claro que quando o estrelo é um bonitão de novela também existe o efeito mamãe-babona (a exemplo de produções com gatas demais no elenco).

Aliás, estranho como é difícil uma atriz infantil não ser no mínimo "passável" ("Raimunda", mesmo). Serááá que rola teste do sofá, minha gente? Serááááá??? Por que além de 98% pelo menos darem um caldo, a imensa maioria é de um histrionismo e de uma canastrice que são fonte segura de vergonha alheia em escala industrial. Os atores ainda são mais ou menos suportáveis em ação, mas as atrizes são para fazer a gente querer descrer do futuro da humanidade.

Trilha sonora é outro sinal, mas esse só costuma aparecer quando já é tarde demais. CD da Xuxa ou congênere no sistema de som é indicativo fácil de programa de índio. Lembrando do panfleto, a dica mãe do post de hoje: atenção para o material de divulgação da peça. Se não tiver foto do palco e o material for ilustrado com desenhinhos bonitinhos, É furada! Não há outro motivo para deixar de usar imagens da peça no material promocional senão a vontade de esconder elenco desconhecido, palco pobre, figurino pobre ou algum outro indicativo da baixa qualidade da peça.

Enfins, um pouco de pesquisa e bastante vontade de tostar um pouco mais que uma negra nota ajudam a evitar a maioria das hecatombes de proporções bíblicas, pois ingresso baratinho também é sintoma de peça besta (mais uma vez, com a louvável exceção da rede SESC/SESI). Procure os grandes teatros (que normalmente zelam por seu nome passando as produções por um crivo relativamente razoável) e as peças com fotos de cenas no material de divulgação, mas fuja das produções do tipo "programa infantil não sei das quantas no teatro".

Por que personagens da TV e do cinema NÃO funcionam no palco, isso de "desenho X", "seriado Y" ou "filme Z" "no palco" é tão tonto quanto Holliday on Ice (com o agravante de que não tem as patinadoras de roupinha colante para alegrar a marmanjada).

Completando a lista, chequem igualmente o que é que o teatro está passando ALÉM da peça infantil em questão, não é muito comum uma casa misturar espetáculos de níveis de qualidade muito distintos. Quem consegue puxar peças boas não costuma sujar o próprio nome dando guarida a pavorosidades abaixo de um certo patamar de suportabilidade (ou pelo menos é o que me diz o bom senso), enquanto que as casas que recebem certas desgracências costumam seguir a máxima segundo a qual "Uma flatulência não é nada para quem já está todo obrado".

Produções indicativas do segundo tipo de casa: comédias rasteiras/chulas (marcadamente aquelas em que as piadas são construídas a partir de um personagem gay e/ou travestido), produções "engajadas" (Marx não combina com palco...) e peças espíritas (textos da Zíbia Gasparetto inspirada pelo espírito Lúcius(fer), por exemplo, são atestados de casa tosca).

Por hoje é só, pessoal!

19 de outubro de 2009

Paternidade

Senhores, bom dia.

O tema de hoje é um arroto medieval deste que vos digita, um relato de como se pensava em priscas eras e de como se educava uma criança nos tempos d'antanho. Por que analisar minhas filosofias de vida é um verdadeiro estudo de arqueologia mental e moral. Portanto, se você leitor fizer parte do time do politicamente correto, acreditar que em criança não se bate nem quando ela chuta o andador do vovô na hora de atravessar a Av. Paulista ou achar que não existe problema de natureza alguma em permitir que um casal homossexual adote uma ou mais crianças, vá para o blog da Carolina Dieckmann que você ganha mais.

Pois muito bom, você leu a advertência acima e ainda está aqui? Então não diga que eu não te avisei. Vamos lá, que hoje eu estou inspirado!

Antes de mais nada, uma questão crucial na educação de um filho é a obrigatoriedade, desde a mais tenra idade, do ingrediente DIS-CI-PLI-NA. Por que se você passa a mão na cabecinha de uma criança recalcitrante por que ela tem o direito de ser criança, achando que é melhor deixar para ensinar educação, bons modos e disciplina só depois, na hora que ela estiver crescidinha o suficiente para que se lhe possa cobrar responsabilidades, é receita certa para o desastre.

Faz parte da natureza humana destreinada não aceitar de bom grado a imposição de limites. Mas a não imposição de limites presenteia logo de saída todo e qualquer pimpolho com ela agraciado com o pior problema-raiz de uma personalidade mal formada, seja ela simplesmente chatinha ou até efetivamente repulsiva: o baixo limiar de frustração, ou seja, a incapacidade de aceitar quando a vida olhar na cara do distinto e disser não.

A criança que passa a infância sem uma imposição suficiente de limites se transforma em um adolescente que acha que o mundo tem a obrigação de lhe dar tudo o que ele deseja no exato instante em que ele quer e se torna posteriormente um adulto frágil e inseguro. Seja um frouxo patético desse que mora com os pais aos 40 anos, seja um monstro que disfarça sua fragilidade sob camadas e mais camadas de violência e arbitrariedade ("vou bater no mundo primeiro antes que ele me bata, e vou bater com gosto pra todo mundo achar que eu sou o bom"). Ou como diz Içami Tiba: toda crioncinha evolui para aborrescente, que por sua vez se torna um adultescente.

Crianças são seres humanos com pouquíssima bagagem mental de suporte para seus processos decisórios, logo, nada mais natural que o resultado da esmagadora maioria destes deva ser solenemente desconsiderado por quem quer ser um bom pai ou uma boa mãe. Daí diziam os antigos que criança não tem querer. Não tem e não deve ter, até que tenha vivido o suficiente para acumular um repertório de experiências e informações que lhe permita tomar decisões minimamente não-desastrosas.

Criança não escolhe o que vai comer, não escolhe o que vai vestir e não escolhe a hora de dormir. Simplesmente por que comida gostosa a mais das vezes não é nutritiva e criança não entende patavina de nutrição e medicina; roupa bonita mais das vezes é obscenamente cara, emburrecedora/padronizadora (não permita que seu rebento se torne escravinho da moda logo de saída) ou simplesmente inadequada para o tempo que está fazendo na hora ou para as atividades programadas para aquele determinado momento e pivete não tem noção de chongas disso tudo; e por que quem tem escola está pouco se importando com o relógio biológico dos alunos, que tem mais é que acordar cedo em uma fase da vida na qual o cérebro estaria originalmente programado para um outro ciclo de sono, então você pai e você mãe tem que ajudar seu pequenino desde o início a empurrar o relógio biológico no sentido de não dormir a aula toda quando chegar a idade de ir pra escola.

E tantas e tantas outras coisas comuns a quem tem em casa uma maquininha burra de chorar e dizer não-quero, que se explicam por que o ser humano é burrinho e crianças são, por definição matemática, ignorantes. Atentem para a diferença entre ignorância e burrice. Burro é quem não sabe pensar, ignorante é quem ignora alguma coisa.

Crianças são inteligentíssimas, toda criança nasce genial e nós adultos é que a estragamos com uma educação inadequada. Mas toda criança vem ao mundo 100% ignorante, o que significa que seus processos decisórios terão más escolhas por conclusão em 99,9...% dos casos. É obrigação do pai e da mãe desconsiderar essas más escolhas e fazer o que é melhor pelo pequenino. E é obrigação de ambos ensinar a criança a se conformar com isso, por que é inerente ao ser humano estar mal informado e decidir mal em muitos e muitos pontos de sua vida, devendo ele saber quando a vida está tomando uma decisão melhor no lugar dele ou quando uma determinada pessoa em posto de comando por merecimento tenha as informações necessárias para decidir melhor em seu lugar ou ainda quando a natureza humana tem que calar sua boca e curvar-se ante a Sabedoria do Altíssimo.

Aqui vem outro ponto inegociável para pais que foram abençoados, neste mundo perdido de hoje, com a Graça de se manterem firmes dentro da verdadeira Igreja. Essa história de que toda religião tem seu ponto positivo e que a pessoa escolhe sua fé quando tiver idade suficiente para fazer sua própria escolha é balela (peguei leve para não lançar mão de um palavrão de 59 sílabas). Mentira deslavada, uma das mais perniciosas já inventadas pelo pai da mentira.

Se você foi abençoado com a Graça de ser católico, que teus filhos também o sejam. Isso é 1000% I-NE-GO-CI-Á-VEL! Se você não instila em sua cria o temor do Senhor desde o berço, as chances de que esta alminha se perca para algum outro sistema de crença ou até mesmo para a descrença sistemática é imensa. Não que "religião seja um condicionamento que só pega por que é feito à guisa de lavagem cerebral sobre criancinhas que não têm condição de argumentar", mas por que a carne se rebela contra a Lei.

Chocolate é uma delícia, mas não é por isso que uma pessoa vai se empanturrar sem consequências. Tem muito legume que é realmente chatinho de comer e a gente só manda pra dentro para cuidar da própria saúde. E por aí vai. Agora, ninguém em sã consciência vai abrir a boca para me dizer que é lavagem cerebral convencer uma criança desde pequenininha que ela deve comer aquilo que seus pais mandarem por que é melhor para sua saúde corporal.

Então por que cargas d'água tanta gente abre a boca para dizer que é lavagem cerebral ensinar alguém desde a mais tenra idade a obedecer a Deus por que isso é melhor para a sua saúde espiritual? Por que sexo é uma delícia, mas não é por isso que nós vamos sair por aí brincando de chimpanzé bonobo. A sensação física de se tomar um porre é para muitos realmente agradável, e nem por isso vamos sair por aí chapando o coco por diversão. E por aí vai!

Fora que quanto mais tempo alguém fica fora da barca de Pedro e exposto aos diversos cantos de sereia criados por aquele que é homicida desde o início dos tempos, mais seus ouvidos endurecem contra a são doutrina da Fé e mais difícil é a cura de tal alma. Portanto, não permita que seu filho ou filha "escolha a religião depois". Faça o que é melhor para ele/ela, que te agradecerá imensamente no futuro, como agradeço a meu pai.

Por que hoje eu leio a Summa Theologica e o Catecismo da Igreja Católica de moto-próprio, e leio a Bíblia desde os 15 anos por gosto meu, mesmo, mas devo isso a meu pai ter me levado para a Missa todo bendito domingo desde que eu me entendo por gente e provavelmente ainda antes. E estudo a fé e a sustento hoje com argumentos racionais e o amparo das Escrituras, da Tradição Apostólica e do Magistério da Igreja, dentro das minhas forças, mas foi papai quem me ensinou a rezar. Pois vos digo e repito: façam o mesmo por suas crianças, que vos agradecerão imenso!

Uma vez que se dê a uma criança disciplina e temor de Deus, o resto vem por consequência. Sabendo que o corpo é templo do Espírito Santo e tendo limiar de frustração elevado pelo treino da disciplina, a pessoa não erra contra a temperança e sabe manter-se casta. Mantendo a temperança a pessoa não se prejudica por glutonaria, bebedeiras ou uso de estimulantes e entorpecentes. Sendo casta, não faz filhos antes do tempo, não padece com DSTs e não passa por todas as agruras da vida de alguém afligido por atração pelo mesmo sexo.

Assim, fica a receita para educar um futuro adulto feliz (e para ler comentários raivosos de relativistas e analfabetos funcionais): um chinelo na mão esquerda e a Bíblia na mão direita!

16 de outubro de 2009

Respondendo a um amigo

Um amigo comentou minha postagem sobre novelas, e acredito que a resposta é digna de figurar como post individual sobre o tema.

Autor do blog http://cantandodegallo.blogspot.com/, Pedro Gallo escreveu:

"Fala Nando!Algumas considerações sobre o que você disse:Heineken é uma boa cerveja sim! Só a da Holanda, não a do interior de São Paulo, que realmente é uma droga. É só você tomar a de barril que você vai ver a diferença.

Ninguém consegue ser só intelecto o tempo todo! Não dá pra você exigir que as pessoas cheguem de casa e assistam a algo educativo ou minimamente intelectualizado! às vezes queremos só não ter que pensar, e novalas são ótimas nesse quesito. Eu não gosto delas, mas assisto a outros programas, como "Scrubs" na Sony. E realmente ler é uma boa alternativa, mas também pode ser cansativo e o hábito de leitura é bem escasso em nosso país.

Outra coisa da qual eu discordo é você dizer que a novela é culpada pela população não pensar, nem ter competência para trabalhar. Esse tipo de coisa se aprende com os pais e na escola, e se esses não estão preparados para educar os jovens de nosso país, já é outra coisa. Eu por exemplo assisti a novelas durante toda minha infância(meu passado me condena) e isso não teve nenhum impacto na minha capacidade intelectual, acredito eu.

Faço um apelo pra que você perceba que as pessoas precisam de uma válvula de escape, de um momento sem pensar, pra poderem se sentir bem e calmas. E também para que você seja mais sucinto, porque o comprimento de seus textos é realmente desencorajado(ou talvez seja frescura minha).

Ah, esqueci de dizer que embora você diga que as novelas incitam a natalidade, nossas taxas só vêm caindo nos últimos anos. Não é só a TV que educa, e a população tem sim ideia do drama e do custo que é ter um filho, não subestime tanto o "povão"."

Bem, Galeto, meu velho, em primeiro lugar em relação à Heineken, é bom saber. Bem que eu desconfiei de que havia ingerência dos cervejeiros brazucas sobre a receita original.


Quanto a não conseguirmos ser só intelecto o tempo todo, há alternativas saudáveis à teledramaturgia, tais como os programas fofinhos do Animal Planet e similares e os seriados (cômicos ou de qualquer outro tipo) mais bem elaborados, com roteiros e personagens menos chapados.

O hábito da leitura precisa ser salvo "nestipaíz", sem dúvida.

A culpa pela imbecilização do povão não é exclusiva das telenovelas, mas estas levam uma bela fatia da mesma.

Ótimas válvulas de escape são: produções de cunho marcadamente visual, como documentários sobre vida natural com montes de imagens a la National Geographic e pouco áudio; música; brincar com animais de estimação; etc. Novelas são dispensáveis, para dizer o mínimo. Não quer pensar? Assista seu peixinho dourado ou seu canarinho de estimação!

Textos longos? Talvez. Mas quanto dá para enxugar sem sacrificar conteúdo?

E ainda bem que o povão consegue escapar um pouco do estrago das novelas, por que a média da fertilidade pode até estar caindo, mas as taxas entre os extratos mais humildes caíram muito mais lentamente que entre a população mais rica/esclarecida (no Brasil a instrução é quase diretamente proporcional ao poder aquisitivo, logo...).

Por que eu vou te contar. O tanto que a TV deseduca não é fácil!

Enfins, sempre é bom ter com quem trocar algumas idéias aqui na rede, mesmo que seja apenas para concordar em discordar.

Forte abraço, e volte sempre!

Ah, e boa sorte com o vestiba para jornalismo, afinal, como dizia vovó: O que é de gosto, regalo da vida!

13 de outubro de 2009

Depois de um longo e tenebroso feriado...

Eis que retorno a este arremedo de blog.

São 3:12h da madruga e estou passando por uma noite de rei, graças à ressaca do churrasco de sábado: passei o domingo visitando o trono regularmente e agora nessa madrugada a coisa se acentuou. Espero que esse surto final limpe meu tubo digestivo do resto do meu envenenamento por Heineken (cervejinha de %erda...).

De qualquer modo, hoje vou escrever sobre uma coisa que eu odeio com todas as fibras d'alma: novela. Aqueles enredos manjados recheados de interpretações histriônicas e ataques sistemáticos à moral e aos bons costumes.

Sim, ataques sistemáticos à moral e aos bons costumes. Toda novela, não importa qual seja a emissora ou até mesmo o país de origem, tem sempre pelo menos um matrimônio dito "disfuncional" para o qual a "solução" apresentada é um adultério ou dois, seguido ou não de divórcio. Detalhe: todos os casos em que ocorre apenas um adultério demonizam o cônjuge traído e apresentam-no como "culpado" e "merecedor da galha", enquanto apresentam o cônjuge traíra como "vítima", "herói/heroína" e "muito digno por buscar sua felicidade".

Fora isso, amor=sexo é uma equação totalmente em alta no meio novelístico. Essa história de se preservar/guardar para o casamento sequer é cogitado. Todos os namoros novelísticos são fartamente regados a sexo, para personagens a partir dos 18 (e sabe Deus até quando vai essa restrição de idade, vai que Polansky finalmente faz escola por aqui).

Aliás, religião em novela é um caso a parte. Em nome da tolerância, do multiculturalismo e da "civilidade", todos os sistemas de crenças são eventualmente retratados nos personagens da teledramaturgia, sempre com muito respeito. EXCETO OS CATÓLICOS. Todo católico é retrógrado, hipócrita, fanático, obscurantista, mentiroso, fraco ou estúpido, isso quando não é um caso de "junta" (junta tudo e joga fora). Todo padre de novela tem amante(s), larga a batina ou serve ao dinheiro ao invés de servir a Deus.

Completando o febeapa (para quem não conhece Stanislau Ponte Preta: FEstival de BEsteira que Assola o PAís) televisivo, de uns tempos para cá é difícil eu ter notícia de uma telenovela que não tenha um núcleo sodomita. Quando não é um par de pederastas é um par de sáficas, e o grande burburinho da mídia fica sobre "essa censura moralista e hipócrita que não permite beijo gay em novela". Que bom que pelo menos esse limite ainda resiste, ora pílulas!

Enfins, agora que tratei dos problemas mais graves, vamos à posta restante. Digamos que você leitor não creia, e ache que tudo o que digitei até o momento foi apenas um arroto medieval em plena era dos terabites. Pois vou mostrar que mesmo você deve largar mão de assistir novela e ler algo no lugar, nem que seja Paulo Coelho (outra droga, mas desse eu falo em outra postagem).

Começa que roteiro de novela nunca é um roteiro só. Até aí tudo bem, subtramas e tramas paralelas são um ingrediente importante em boas obras de ficção, enriquecendo o texto final e auxiliando no desenvolvimento mais rico da trama principal. Mas isso só é válido para boas tramas principais auxiliadas por tramas paralelas e subtramas de qualidade no mínimo mediana. Caso contrário, teremos apenas mais lixo pelo seu tempo investido.

O problema básico do formato telenovela é a correlação entre tempo ficcional e tempo real, que é mantida constante em "1c:1d" (um capítulo de novela retrata um dia de tempo real), à exceção dos flash-backs e flash-forwards. Uma vez que se retratam 24 horas de roteiro em um condensado de 1 hora com intervalos comerciais, não é possível apresentar tramas acima de um determinado nível de complexidade por limitação de tempo. E se você adiciona a essa limitação natural a necessidade de dividir o tempo de cada capítulo em núcleos ou tramas auxiliares, tramas paralelas e subtramas, aí é que o nível de complexidade permitido para cada trama ou subtrama individual vai para o chão de uma vez e, com isso, temos garantia de mais lixo por nosso tempo investido em assistir.

A consequência inevitável é a padronização dos roteiros, tratada magistralmente no post http://blog.desfavor.com/2009/09/desfavor-explica-novelas-da-globo.html, do blog Desfavor. Seus redatores expuseram fartamente todos os furos mais clássicos de roteiro das produções da Vênus Platinada e, se as melhores são assim, o resto então nem se fala. Mas vale a pena jogar sal em algumas das feridas apontadas, para ver os noveleiros deste meu Brasil varonil esperneando.

Começa que é mesmo inegável que novela é feita para anestesiar os socialmente desfavorecidos, para empurrar goela abaixo do povão que ser pobre é uma delícia e ser rico deve ser mesmo um calvário. Todo rico é mostrado como mau e antipático, à exceção da mocinha que é quase sempre albina, anoréxica e herdeira inocente de uma fortuna sangrenta.

Falando em mocinha, essa parte do par romântico é uma história à parte. Os desentendimentos padrão e as idas e voltas do costume antes que esse par se case, sempre no último capítulo da trama, são a parte mais bur(R)ocrática do roteiro. É sempre uma combinação linear de alguém com interesse romântico em um dos dois, intriga de falsos amigos, implicância da família e problemas com desnível social. A única novidade de que tive notícia na área foi colocarem mocinhas enfrentando doenças.

Outra coisa é que todo personagem de novela é personagem plano (protagonistas e coadjuvantes importantes) ou tipo (todo o resto). Resultado óbvio da correlação 1 para 1 apontada acima, pois se os segmentos de enredo devem ser simplificados ao máximo igualmente simplificados devem ser os personagens. Com isso, temos a inflação sistemática de vilões demoníacos, heróis a la Superman e personagens estereotipados de todos os matizes.

Evidentemente todos escolhidos a dedo para que a patuléia ensandecida continue acreditando piamente que sua vidinha medíocre é maravilhosa, não há por que querer progredir e inclusive isso de querer melhorar de vida é coisa de vilão, por que afinal de contas ambição é um defeito horroroso e uma vaidade sem tamanho: "Onde já se viu, alguém estar insatisfeito com a própria vida e querer ter e ser mais?", é o que dizem reiteradamente de forma direta todos os personagens ambiciosos de núcleos pobres de forma direta (e de modo indireto e um pouco menos ostensivo todos os demais).

Senhores, um momento de raciocínio, por favor, obrigado. Evidente que não estou aqui fazendo apologia ao pecado de Lúcifer (que caiu por orgulho), mas demonizar uma personagem automaticamente pelo simples motivo de que esta declara desejar uma vida melhor para si é de um despautério a toda prova. Existe orgulho besta, que bota as pessoas em volta do "orgulhoso" para baixo na base do pisão e da humilhação, e existe a vontade de progredir. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Vontade de progredir TODO MUNDO TEM QUE TER.

Continua que a simplificação extrema dos roteiros exigida pelo emparelhamento do tempo de novela com o tempo real obriga cada capítulo a ser um primor de tédio e chatice, pois tramas simples geram capítulos simples e repetitivos. É a famosa sensação de que, após as duas primeiras semanas decorando os nomes e funções de todo mundo no folhetim acompanhado, basta assistir a um capítulo por semana que já está de mau tamanho, por que é sempre a mesma coisa todo santo dia.

E termina que o fim de cada personagem é sempre de uma previsibilidade rançosa. Mocinhos felizes, mocinhas casadas e com filhos, vilões derrotados ao final, pobres fazendo festa, ricos se redimindo de sua riqueza, pares homossexuais "reconhecidos pela sociedade e vivendo felizes seu casamento" e assim por diante, ad infinitum et ad vomitorium. E como todos os personagens terminam sempre do mesmo modo, todos os capítulos finais são idênticos, por definição matemática. O que torna particularmente deprimente o comportamento de quem se altera em função de um último capítulo de novela que, diga-se de passagem, TEM REPRISE NO SÁBADO PARA QUEM PERDER NA SEXTA, então não é verdade sequer que último capítulo só tem uma vez, como uns e outros ainda tentam alegar.

Antes que alguém me acuse de hipocrisia, por acreditar que é preciso assistir para saber de tudo isso, digo que assisti novela até Celebridade, mas é como se eu assistisse até hoje. Os motivos são dolorosa e constrangedoramente simples:

1) Os roteiros "telegráficos" fazem com que basta você assistir à chamada da novela nos intervalos comerciais da programação normal para que você efetivamente acompanhe o desenvolvimento da trama. Se o seu QI for de 100 pontos (normal), não é preciso assistir mais que as chamadas ao longo dos intervalos comerciais.

2) Há toda uma imprensa especializada capitalizando no público fiel desse segmento da produção televisiva, e essas publicações ocupam um espaço significativo nas bancas de jornal, o que torna impossível comprar jornais e revistas de outros assuntos sem esbarrar com os olhos em manchetes que atualizam os poucos que conseguem escapar às vinhetas.

3) Quem assiste novela não consegue conversar por mais que 5 minutos sem mencionar seu vício e obrigar seu interlocutor a acompanhar suas opiniões sobre o que está acontecendo com tal e tal personagem (geralmente alguém do par romântico, um vilão ou um alívio cômico - este último um tipo ainda mais insosso e estereotipado que a média, caracterizado por um "bordão" ou cacoete que a patuléia sempre achará hilário e fará questão de reproduzir para teu desprazer estético e intelectual como se aquilo fosse o fino da bossa).

E como apontaram com precisão cirúrgica no blog que mencionei ao final da lista de deméritos morais da teledramaturgia nacional, ai de quem ousa se erguer contra esse instrumento de emburrecimento em massa, contra esse genocídio de neurônios que é a novela de televisão. Por que falar mal de novela é de um elitismo imperdoável, infinitamente mais esnobe que não ler Paulo Coelho ou não ouvir música "popular" (pagodinho de plástico - um fanho cantando e 6 epilépticos surtados fazendo dancinha tosca no fundo do palco -, axé, funk carioca, porno-forró ou sertanojo/breganejo). Fenômeno típico de republiqueta de banana movida a pão e circo (aliás a muito mais circo que pão), onde a mídia trabalha junto com os donos do dinheiro para destruir sistematicamente o discernimento dos extratos mais baixos da sociedade.

O que arrebenta com uma republiqueta de banana no longo prazo é o fato de que essa destruição da capacidade de discernimento do povo destrói a produtividade da força de trabalho nacional, inviabiliza o funcionamento das instituições e oblitera a produção cultural do país, pois um povo que não pensa não tem senso estético para produzir arte, não raciocina para manter o funcionamento das instituições (a bem da verdade sequer as compreende, quanto mais lhes compreende a necessidade e o como mantê-las) e não tem mais competência sequer para apertar botões e operar maquinário. As telenovelas ajudam sobejamente nesse processo de emburrecimento, ao atacar as fundações morais do povo e dopá-lo (Marx só disse que a religião é o ópio do povo por que não tinha telenovela na época dele...).

Uma associação óbvia é sexo&drogas (só faltou o rock&roll?): a novela anestesia o povão geral e ainda incentiva a fazer filhos! Já repararam como cada nascimento em novela é super-hiper-mega-master-blaster festejado? Como cada nova mamãe é um ser tão mais feliz e realizado que as personagens femininas que abrem mão da maternidade para ter uma carreira ou tomam qualquer outra decisão igualmente razoável que as leve a não procriarem como coelhas no cio? E ninguém fala em controle de natalidade (o método Higgins de acompanhamento do muco cervical funciona sim, confiram junto à WHO - World Health Organization ou Organização Mundial da Saúde, da ONU - ou chequem este link, mais fácil: http://vida.aaldeia.net/metodo-muco-cervical-billings/), ou em como o mundo de hoje está mau e perigoso para quem quer ter um filho e criá-lo com um mínimo que seja de correção moral.

Claro que falar mal de droga para um drogado é pedir para apanhar, daí a reação explosiva e apaixonada de todo noveleiro quando lhe apontamos o ridículo daquilo que assiste. O que é garantia de "silêncio olímpico" da maioria dos meus eventuais leitores (os poucos tarados que superarem as barreiras psicológicas impostas pela extensão textual e vocabular de minhas arengas - bem como por seu pedantismo) e esperança de resposta de algum fã mais exaltado de folhetim.

Despeço-me para voltar ao troninho pela quarta vez ao longo de minha insônia e aguardo os garfos de feno, as tochas e os uivos da multidão enfurecida. Forte abraço!

26 de setembro de 2009

Música 1.2

Senhores, boa madrugada.



Insônia é soda! Insônia é soda! Insônia é soda! (surto a la Grace Gianoukas incorporando Sta. Ignorância)



Depois deste começo "abençoado", vamos ao último terço (meu Pai, essa foi in-Lorenzetti...) do primeiro post sobre músicos.



Mais dois clássicos contemporâneos, para fechar esse menu-degustação. Depois de falar de Philip Glass, Arvo Pärt, Iannis Xenákis e Terry Riley, agora é a vez de Edgar Varèse e Jean Sibelius.

(ai, ai... Insônia é soda, mesmo. Tive que voltar pra cama e só voltei a digitar agora de manhã...)

Vamos a Edgar Varèse. Esse é um compositor moderno da família "abrace a insanidade e seja feliz". Forte uso de componentes eletrônicos em sua música, incluindo novos instrumentos como o teremin (http://www.youtube.com/watch?v=tgcMlEZ6NFw&annotation_id=annotation_620932&feature=iv) e o ondas martenot (http://www.youtube.com/watch?v=1LobZ8vg9qE&feature=player_embedded#t=164), em uma música de cores e texturas, totalmente liberta das antigas formas e estruturas.
Francês naturalizado estadunidense, estudou muita música (por que só quem conhece as regras é que pode quebrá-las com proveito) e compôs pouco, mas bem por demais.

À semelhança de Iannis Xenákis, elevou a distribuição espacial das fontes sonoras a parâmetro composicional, criando o que chamou de música espacializada. Exemplos são Hyperprism e Poème Électronique, este último composto para FITA MAGNÉTICA (recurso largamente explorado por compositores modernos como Karlheinz Stockhausen e Xenákis, permite texturas sonoras quase impossíveis de se obter de outra forma, bem como a superposição calculada de texturas sonoras).

O único meio de explicar mais alguma coisa sobre este compositor é linkando algumas de suas peças:

http://www.youtube.com/watch?v=hnh_VT6JIZQ&feature=related (mais faixa-branca)
http://www.youtube.com/watch?v=AGFLUerbLhk&feature=fvw (já pede ouvido disciplinado)
http://www.youtube.com/watch?v=Bh5cfHbbjzs&feature=related (também mais faixa-preta)

Já Sibelius foi de uma sonoridade mais sutil, quase que clássica à moda antiga, mesmo. Eu diria que um Debussy finlandês.

A parte principal de sua obra é seu conjunto de sete sinfonias, nas quais verteu o coração transformando cada uma em uma declaração de seus sentimentos mais pessoais.

Muitos estudiosos consideram sua música como um importante elemento na formação da identidade nacional finlandêsa.

Embora já contemporâneo em sua sonoridade, compôs sempre usando um idioma tonal.

Afora isso, outra vez o jeito é linkar algumas obras:

http://www.youtube.com/watch?v=9t0FBQ3xeVA (ouça com um lenço na mão)
http://www.youtube.com/watch?v=bi8wwFwDqTs&feature=related (solene e poderosa)
http://www.youtube.com/watch?v=XtIw5AkUEsE&feature=related (abre em ppp, apure os ouvidos e ouça em silêncio total, mas NÃO AUMENTE O VOLUME)

Sério, não aumente o volume para ouvir o intermezzo da Suíte Karelia. Ela usa algo chamado dinâmica, e após abrir em ppp (pianissíssimo, ou quase inaudível) vai progredindo lentamente em crescendo até chegar em um clímax em ff (fortíssimo ou alto de lascar) lá para os lados de 2:40-2:50.

Sonoridade profunda e altamente emocional, com tratamento já moderno mas ainda tonal. Como comentei logo no início, praticamente um Debussy finlândes. Basta comparar os links disponibilizados com o estilo de Debussy em Clair de Lune: http://www.youtube.com/watch?v=yVpxLraHphk&feature=related.

Bom, dessa vez o post foi curtinho, e finalmente consegui concluir um programa de música erudita contemporânea com meia dúzia de compositores (ordem aleatória, conforme fui lembrando).

Vamos ver se da próxima não demoro tanto a postar e solto logo 6 livros em um post só, em Literatura 3 (ou se faço 3, 3.1, 3.2, ..., 3.buzilhão).

Até mais, pessoal!

22 de setembro de 2009

Música 1.1

Senhores, boa noite.

Na falta de televisão (tem coisas que só a NET pode fazer por você - vão tomar no SKAVURSKA!), soco mais meio post nesse meu bloguinho querido. Meu trabalho de tradução terminou e o pagamento virou novela mexicana. Quem acompanha meu Facebook já está sabendo. Assim sendo, voltei a ter tempo de postar de vez em quando, ao invés de de vez em nunca.

Falei de música Clássica/Erudita Contemporânea, destrinchando um pouquinho de Arvo Pärt e de Philip Glass.

Agora quero falar só um tiquinho de Iannis Xenákis e de Terry Riley.

Começando com o grego (de sangue, pois é romeno de nascimento e francês em termos de vida adulta, mas gato que nasce no forno não é biscoito): alguém aí lembra que Pitágoras associou música a matemática, com as proporções numéricas das escalas musicais? Pois Xenákis elevou o conceito à enésima potência e lascou dois ovos fritos em cima. A partir de software próprio, desenvolvido em um departamento universitário de matemática, este arquiteto e artista multimídia compôs músicas a partir de funções matemáticas, estocásticas (funções de probabilidade, as que o Oswald de Souza usa para fazer suas "previsões" sobre loterias - acabei de entregar minha idade, snifs...!!!) inclusive.

Como não bastasse esse método absolutamente (im)pessoal de composição, Iannis resolveu dedicar sua vida a mostrar para o mundo o que é ser realmente multimídia. Algumas de suas principais obras, as polytopes, foram compostas para serem apresentadas no interior de estruturas arquitetônicas especialmente projetadas, onde são acompanhadas por shows de luz e até recital ou leitura de textos específicos. O exemplo máximo é a diatope La Legende d'Eer, na qual a estrutura arquitetônica abrigaria show de luzes, projeção de 5 textos específicos em momentos chave da obra e disposição surround da música em 8 trilhas por caixas de som posicionadas de forma estratégica.

Junto com Kraanerg, é apenas para iniciados. Uma primeira experiência pode ser a faixa Metástasis: http://www.youtube.com/watch?v=SZazYFchLRI&NR=1 Mais ilustrativo ainda é assistir a versão "espectral", em que o ponteiro branco percorre o diagrama que gerou a música (acho que através de seu software UPIC, que converte gráficos matemáticos em música - Iannis compôs muita coisa mandando o UPIC mastigar estruturas que ele traçou a partir de conceitos arquitetônicos e funções matemáticas).

Pleïades também é bastante palatável para o ouvinte destreinado, toda composta para marimba/xilofone. As demais obras pedem pelo menos um pouco de disciplina da parte do ouvinte, mas são verdadeiramente recompensadoras.

Já Terry Riley é o rei dos loops. Com uma filosofia composicional muito próxima à de Philip Glass, alia o trabalho de filigrana a um tratamento extensivo ao máximo de cada material sonoro, com obras hipnóticas nas quais cada padrão sonoro é sutilmente variado por tanto tempo quanto é possível sem a introdução de um novo elemento na estrutura da música. Bastante difícil para o ouvinte "cru", o ideal seria aclimatar-se inicialmente ouvindo Philip Glass até que se tenha educado o ouvido para apreciar "Descent in to the maelstrom" ou "Music with changing parts", ponto a partir do qual se está capacitado para fruir até mesmo da música de mestres da duração extendida como Morton Feldman e La Monte Young.

Vivo e na ativa, este californiano estudou música com o grande professor indiano de música vocal Pandit Pran Nath (que também deu aulas para Young), entre outras influências. Sua sonoridade mais característica pode ser apreciada em pérolas como A Rainbow in Curved Air, In C, La muerte em medias calladas negras, Poppy Nogood and the Phantom Band e Dorian Reeds. Seu uso criativo de loops gravados o põe lado a lado com Morton Feldman e La Monte Young na galeria dos compositores de duração extendida, com seus All Night Concerts (imagino como deve ter sido lisérgico levar um saco de dormir para o local do concerto e dormir exposto a um tal tônico neural).

O minimalismo, como deve ter transparecido de Philip Glass e dos compositores adeptos das peças de duração extendida, é um estilo musical para quem gosta de pensar no que está ouvindo, ao invés de apenas deixar a música entrar pelos ouvidos adentro e ponto final. Sua apreciação não é instintiva, mas cerebral. Resumindo: não é música para dançar.

Não lembro onde li isso, mas há quem divida as pessoas em dois tipos básicos de ouvintes musicais: os Dançantes e os Analíticos.

Um ouvinte Dançante apreciaria música de forma instintiva, única e exclusivamente em função de seu caráter lúdico. Se a música tem um bom ritmo e a melodia não desagrada, está valendo, não há uma preocupação mais significativa com harmonia ou letra. Um exemplo característico é o ouvinte de axé (já deu para perceber que me classifico como Analítico?).

Já um ouvinte Analítico tem uma abordagem holística, apreciando simultaneamente melodia, harmonia, ritmo e letra (quando cabível, claro). Se um dos componentes for deficiente e não houver compensação suficiente da parte dos outros, este tipo de ouvinte não consegue apreciar a música em questão. Exemplo de abordagem Analítica é o por que este tipo de ouvinte tem um colapso estético quando exposto a axé ou funk carioca: embora os ritmos sejam tecnicamente bem executados e até envolventes e haja uma opção sistemática (eu diria que até racional, em função da predominância da componente rítmica) pelo pouco ou nenhum uso de harmonia, as melodias são pobres e as letras insuportáveis. Por que para um Analítico uma letra ruim "mata" uma música que de outro modo seria boa.

Concluindo essa digressão, música minimalista é um gênero apreciado por excelência por ouvintes analíticos, e música minimalista de duração extendida é uma paixão para analíticos hardcore.

Hipnótico, lisérgico e medicinal, Terry Riley é o tipo de som para ouvir quando se quer recarregar as baterias após um dia realmente ruim e cansativo. Mais um para ouvir e chapar o côco de cara limpa. Agora mesmo estou ouvindo o primeiro link do vimeo, é uma hora de variações melódicas só para ouvintes realmente analíticos.

Para explicar mais sobre Terry Riley, só deixando um par de links:

http://www.vimeo.com/4284473
http://vimeo.com/1876047

Por hoje é só, pessoal!

20 de setembro de 2009

Música 1

Senhores, bom dia.

Como hoje vou enfrentar algumas horas ao som de Xuxa (mais conhecida pelos cinéfilos como Ursinha Macia), agora vou escrever um pouco sobre música.

Meu primeiro post deu um mapa resumido do meu gosto musical, hoje vou destrinchar um pouco do segmento Clássica Contemporânea falando de dois compositores favoritos.

Abrindo o post em ppp (pianissíssimo - extra-mega-suave beeem de levinho), Arvo Pärt. Compositor estoniano, grande parte de sua produção é de um gênero atualmente em risco de extinção, que é a música sacra, inspirado pela sua fé ortodoxa. Suas obras corais em Eslavônico Litúrgico (idioma arcaico usado na Igreja Ortodoxa do Leste Europeu do mesmo modo que nós católicos usamos o Latim) são primorosas.

Suas composições devem ser ouvidas em ambientes absolutamente silenciosos, e o ouvinte deve tomar cuidado para respirar baixo. Suas melodias são profundamente emotivas, mas sempre como que em aquarela: diluídas e delicadas. Uso extensivo dos recursos mais suaves da dinâmica musical como os ralentando, melodias em legato e acordes profundos e calculados para a produção de ressonâncias secundárias no piano.

Uso mais marcado das vozes graves em obras corais e dos registros agudos nas instrumentais. Nas instrumentais, atenção para a filosofia de composição "tintinabuli": os sons são delicados e etéreos como o tinir de pequenos sinos ou campainhas.

Um excelente exemplo de "tintinabuli" é a linha melódica em notas agudas de Spiegel im spiegel:

http://www.youtube.com/watch?v=QtFPdBUl7XQ

Já o uso de ressonâncias secundárias no piano aparece marcadamente em Für Alina, que tem uma dinâmica com acordes base em mf (mezzo forte) e f (forte) e o restante entre mp e mf, com uso extensivo de pedal. Isso faz com que diversas notas não tocadas surjam a partir de ressonâncias entre as notas da linha melódica e as notas dos acordes base tocados a cada troca de pedal. Confira:

http://www.youtube.com/watch?v=pQJGi9ZLpHE&feature=related

Continuando no minimalismo, do qual Pärt faz parte (nuss... que trocadalho...), passo a falar de Philip Glass. Bebendo de fontes realmente diversas, que incluem de clássicos modernos como Hindemith, Béla Bartók, Schoenberg e Shostakovich à música indiana clássica (vale a pena conferir o álbum Passages, fruto de seu intercâmbio com o mestre da cítara Ravi Shankar), criou e cria uma música absolutamente hipnótica.

Para os não iniciados, algumas obras são realmente herméticas e quiçá assustadoras, então recomendo para primeiras audições que se assista aos filmes da trilogia aberta com Koyaanisqatsi (capítulo a parte na minha lista de preferências, se eu escrever um post sobre cinema é citação certa). As sequências de imagens produzem o clima correto para se apreciar cada uma das faixas destas trilhas sonoras impecáveis.

Para os já aficcionados por música minimalista, recomendo Two Pages, Contrary Motion, Music in fifths e Music in Similar Motion, mais extensas e elaboradas. E para os fãs realmente hardcore, as pieces de resistance Music with changing parts e Music in Twelve Parts.

Principalmente para a última eu recomendo ouvir "de cara limpa" e reservar 4 horas para só ouvir essa música e não fazer mais lhofas da vida. Ouvir esse dilúvio de sutileza sob o efeito de alguma substância seria redundante, pois a música de per si já é extremamente lisérgica.

No momento estou ouvindo Music in Similar Motion junto com a família: Ni e Webister. Webister é um menino de 5 anos (completos hoje!) que merecerá um post a parte se tudo der certo. Mas voltando à programação musical, a idéia básica por trás da música de Glass é o trabalho de nuances. A parceria com Shankar em Passages é emblemática da filosofia composicional de Philip, baseada em variações sucessivas sobre estruturas repetitivas ao modo das variações tonais das ragas indianas. Só que Philip usa tanto variações tonais quanto variações rítmicas, harmônicas e de linha melódica.

Ao contrário de Pärt, o trabalho de Glass é cheio de som e de fúria, mas embora sejam músicas escritas por "loucos" (eu diria iluminados), ambos significam muito!

Resumindo: ouça e "chape o côco" de cara limpa. Viaja-se demais e não há efeitos colaterais.

Até a próxima, pessoal!

12 de setembro de 2009

Retornando a uma tentativa de programação normal.

Senhores, bom dia!

Depois de um longo e tenebroso inverno, eis-me de volta com mais meia dúzia de "análises literárias" (resumos comentados esculachados) de livros que li a algum tempo atrás.

Os dois primeiros meio-posts trataram de "The portrait of a lady" (Henry James), Drácula (Bram Stoker), Frankenstein (Mary Shelley) e os três livros de Thomas Hardy que já tive o prazer de me deprimir lendo (que emo...!): The Melancholy Hussar and other stories, Tess of the D'Urbervilles e Jude the Obscure.

Hoje eu tinha pensado em falar de literatura nacional, para variar um pouco, antes que me acusem de ter sido alfabetizado em inglês. Mas minha memória não me ajuda com os meus favoritos brazucas, já vai para mais de uma década que li os livros de Machado de Assis, então vou apenas passar um top-five beeem resumidinho (com auxílio da web para cobrir os claros desse polenguinho que é meu cérebro - aliás, se a Polenghi quiser me patrocinar eu aceito!):

O primeiro resumão de hoje é de Memórias Póstumas de Brás Cubas: um dos poucos integrantes vitalícios das listas de leitura de vestibulares que dão prazer ao serem lidos, ao invés de afugentar nossos jovens do hábito da leitura. Por que quem está começando a ler não pode ser empurrado para obras muito densas e que exijam mais maturidade da parte do leitor do que este tem no momento.

Trata das memórias (fictícias) do personagem-título, que é um pulha da pior espécie e um pusilânime de marca maior. O charme do livro não está tanto no artifício original e engenhoso do defunto-narrador, mas em sua estrutura temporal de flash-back quase ao estilo do filme Amnésia (na verdade há alguns flash-forwards, transformando o "estilo Amnésia" em um fluxo livre de consciência em ritmo onírico, quase dadaísta).

De um pessimismo corrosivo, nos faz sorrir amarelo com a grande não-realização de Brás Cubas, que foi não ter filhos. Isso mesmo! Brás Cubas orgulha-se, já roído dos vermes a quem dedicou (numa veia meio a la Augusto dos Anjos) sua obra, de não ter "transmitido a ninguém o legado de nossa miséria". E eu achando que sou misantropo... Ora, faça-me o favor, Sizenando! Misantropia é isso, é odiar gente em escala industrial a ponto de sentir que marcou um golaço de letra na vida por que não foi "gente que faz gente", e não ficar se achando todo que não gosta de gente só por que não tem habilidades sociais!

De resto, Brás foi um estróina (dissipou boa parte da fortuna da família), dissipado (o pai teve de mandá-lo estudar em Portugal para parar de incinerar dinheiro em jóias para uma prostiputa), mau (desde pequeno. Seu grande orgulho foi quebrar a cabeça a uma escrava que lhe negou uma colher de doce, aos 6 aninhos), egocêntrico (emplasto Brás Cubas, a cura de TODAS as doenças - Ha! Mal sabia ele da banha do peixe elétrico do Amazonas!) e amoral (perdendo a noiva para alguém menos inútil na vida, faz dela sua amásia, com direito a casinha para rendez-vouz e tudo o mais). E quase pira na batatinha com seu amigo Quincas Borba, criador de um tal de Humanitismo que é a verdadeira pérola do livro.

Sacanagem com o positivismo de Augusto Comte e outras correntes filosóficas, o Humanitismo seria algo entre Darwin e Nietzche, segundo o qual fracos e oprimidos tem mais. Tem mais é que se lascar com um sorriso no focinho! Sua divisa, "Ao vencedor, as batatas!", é a expressão máxima do "Farinha pouca, o meu pirão primeiro!". Não duvido nada que nossos políticos sejam todos humanitistas.

Concluindo o resumo, tudo me leva a crer que Machado escreveu "Memórias Póstumas" e "Quincas Borba" de uma tacada só e depois abriu a obra em dois livros, seja por acreditar que as histórias se estruturariam melhor deste modo ou para alavancar as vendas (soltando no mercado um livro pelo preço de dois, pechincha das pechinchas!).

O que me leva ao segundo lugar da lista: Quincas Borba.

Começando com a morte de Quincas Borba, a "continuação de Memórias Póstumas" trata da vida e desventuras de Rubião. Rubião começa como enfermeiro de Quincas Borba, amigo rico e lunático de Brás Cubas, criador do Humanitismo. A obra toda é um verdadeiro tratado de Humanitismo sob a forma de parábola, com o tolo Rubião herdando a riqueza de Quincas e também sua loucura: de tanto bater palma pra maluco, o ex-enfermeiro acabou também ficando de miolo mole, pois nada mais justificaria tanta tolice (a facilidade com que o casal Palha o depena é hilariante) e bananice (francamente, aceitar a condição de cuidar do cachorro de Quincas em perpetuidade para ter direito à herança, e isso sem sequer tentar contratar um advogado que o safasse dessa maçada de virar passeador de vira-latas! Mas tem que ser muuuito faixa-branca!) juntas.

O senhor Palha é um tipinho dos mais desprezíveis, já que é gigolô da própria esposa, e dona Sofia é também uma grandessíssema meretriz. Aliás, as rameiras que me perdoem, pois afinal de contas estas depenam seus clientes mas entregam o "produto". O pobre do Rubião foi escorchado até a morte (literalmente, morreu louco depois de ter sido rapelado até a miséria absoluta) e não ganhou sequer um beijinho na bochecha.

Mas Rubião realmente mereceu ser esbulhado. Pois além de burro e maluco (virou Humanitista ferrenho e não entendeu que ele era um fraco e, portanto, segundo sua querida "filosofia" ele tinha era mais - que se ferrar), ainda era arrogante, metido a sebo e deslumbrado. Mudou de bairro, mudou de amigos e mudou de vida. Bem feito pra ele tudo o que veio na esteira! Pagou o abandono dos parentes e antigos amigos com a miséria, a loucura e a morte, depois de ter sido vampirizado por seus novos amigos-da-onça (orquestrados pelo pulha supremo da história, o sr. Palha) e por sua "castíssima amante" (francamente, se era pra ser adúltero em intenção, que ao menos honrasse as calças e desfrutasse da vadia - senhores, nosso pamonha rasgou dinheiro a rodo, mais do que suficiente para ter Sofia como sua "teúda e manteúda", e ficou só no amor platônico? Mas vá ser perdedor assim na casa do capeta!).

Nessa história toda, fiquei com pena foi do cachorro de Quincas Borba, que acabou tão pobre e vira-lata quanto era antes de ter sido adotado por Quincas, já que seu "curador" Rubião perdeu até as ceroulas e foi pra vala comum, enterrado como indigente após ter fugido do hospício onde seus graaandes amigos o enfiaram para melhor terminar de incinerar sua fortuna. Custava alguém ficar com dó do Quincas (o cachorro) e lhe dar um final de vida mais digno?

Falando em loucura, vamos ao terceiro lugar da lista: O Alienista. Senhores, digo-vos que foi a comédia mais deliciosa que já li em minha vida. Dom Quixote foi um mero aprendiz de Raul Seixas em comparação com meu caríssimo Simão Bacamarte. O distinto teve a fineza de terminar seu grande experimento científico como deveria já te-lo iniciado, para que pudessemos ter uma história que ler. E os habitantes de Itaguaí que me desculpem, mas para permitir a Bacamarte que fizesse a festa que fez na cabeça de todo mundo, realmente mereciam ter passado suas vidas ao lado de nosso simpático demente.

Resumindo a ópera: Bacamarte era psiquiatra, mas teve de aprender na prática aquela frase da sabedoria dos antigos - "Médico, cura-te a ti mesmo!". Chegado de seus estudos e famoso por seu renome clínico, ganha rapidamente carta branca da administração municipal para construir e gerir um sanatório (a Casa Verde), que logo trata de encher. Tentando decifrar a loucura (notem o tema da panacéia universal, que já tinha sido tratado em Brás Cubas), nosso doutor mentecapto interna a cidade inteirinha que Deus deu, primeiro tentando "curar" todo mundo, depois descobrindo que o legal é ser doido e então "entortando" todo mundo e, finalmente, atinando com a verdade que estava debaixo do próprio nariz o tempo todo: o doido era ele!

O final do livro foi magistral, com Simão Bacamarte "saindo do armário" como doido varrido que sempre foi e se internando. A justiça foi feita, Bacamarte foi internado e todos em Itaguaí viveram felizes para sempre.

O quarto livro da lista vem para confirmar uma opinião minha. Machado de Assis, ao contrário do que dizem a crítica e os professores de literatura, além de ter sido autor sério de obras mais profundas também foi um comediante de mão cheia, por mais que só admitam a veia cômica a "O Alienista" (também, aqui nem há o que discutir: Simão Bacamarte terminar os dias na Casa Verde de motu próprio foi sacanagem demais para alguém ainda tentar argumentar contra o caráter absolutamente cômico desta obra-prima). Falarei agora de Dom Casmurro.

Sim, amigos. Por que essa história de "mistério" em torno da relação Putinha - Cornélio - Ricardão, digo, Capitú - Bentinho - Escobar, é coisa de gente burra ou mal intencionada. Vamos parar de ser lerdos na vida, senhores! O título de maior chifrudo de toda a história da literatura é do Bentinho e ninguém tasca!

A comédia começa com a abertura do livro, que é mais um voluminho de "memórias". Bentinho, corno velho azedo, conta as memórias de sua frondosa galhada. Começa dizendo que ganhou das gentes o apelido de Dom Casmurro (que traduzido do português arcaico usado à época resultaria em algo como "Senhor Emburrado") depois que a vagaba que passou a vida lhe corneando trocou o fogo no rabo pelo fogo do inferno, afinal de contas, como diziam os Mamonas, ele era corno mas era feliz.

Na seqüência, nosso chifrudinho-mor conta-nos o quanto foi uma criança frouxa e um adolescente bundão, dominado pela mãe (cadê o pai, mesmo? Figura paterna, oi?). Beata daquelas que dão mal nome às senhoras católicas em função de seu farisaísmo galopante, querendo ter um filho a toda força resolve "chamar Deus de caixa automático". Promete fazer de seu filho um padre (quer ele seja vocacionado, quer não. Perceberam a *agada?)!

Pois muito obediente a mamã, vai Bentinho ao seminário. Enquanto isso, entra em cena a vagabete mais cantada e decantada em prosa e verso da última flor do Lácio, inculta e bela: Capitú, a vesguinha em "estado de coma". Estado de "me coma", falemos com propriedade! Provavelmente o Machadão se inspirou em alguma ancestral da Débora Secco.

Filha de um agregado da casa (um encostado que vivia da caridade de Dona Glória, a mamãezinha querida de nosso Chifronésio), ela rapidamente vira a cabeça de Bentinho, sob o olhar inicialmente desconfiado da atônita Dona Glória. Mais tarde, finalmente acaba por convencer Bentinho a levantar a batina e virar também os olhinhos. A combinação clássica de chave-de-perna e golpe-do-baú, como consta do Manual da Cavadora de Ouro. Afinal de contas, por mais frouxo e ruim de nheco-nheco que Bentinho pudesse ser, ele era a chave para o cofre de Dona Glória, de quem seria herdeiro universal. Nada mal para a filha do agregado, não?

Alucinado e pensando com a cabeça de baixo, Bentinho sai do seminário e casa com nossa tataravó de Kelly Key, que realmente o trata de cachorrinho pra baixo, confiram o clipe (Capitú de sombrona azul e Bentinho negão):

http://www.youtube.com/watch?v=SNtX5gvYMXY

Pois bom, aos leitores que assistiram, desculpem. Mas é assim mesmo que Capitú leva Bentinho, na coleira!

Não contente de desvirtuar um seminarista e fazê-lo largar a batina, repete a dose na hora de escolher seu Ricardão. Ou alguém aqui duvida que foi a Capitú que convenceu Escobar a também levantar a batina e sair do seminário? Pois para mim o mistério de Capitú não é se ela casmurrou Dom Chifrudo (desculpem, chifrou Dom Casmurro) só um pouquinho ou com toda a torcida do Flamengo, e sim se ela virou ou não mula-sem-cabeça depois de sua morte, por que vá gostar de desencaminhar padre assim no raio que a parta! Vá gostar de levantar batina pra pegar em badalo de seminarista assim em livro do Jorge Amado, criatura!

De qualquer modo, continuemos. Casadinha com um e dando mais que chuchu na serra pra outro (único documentado, mas não duvido nada que ela tenha passado o rodo em toda a capital do Império). Bentinho só teve motivos para esquentar a cabeça e, por conseguinte, sentir o cheirinho de chifre queimado, quando ela não soube segurar a própria onda no enterro do Ricardar/Escobão e chorou mais que a viúva (outra chifrudinha, mas essa não vem ao caso por que não teve tanta ênfase no livro).

Se já existisse DNA na época, nosso par romântico ia direto pro Ratinho, e Dom Casmurro passaria a se chamar Dom Me Livrei de Boa, por que o baby de Capitú era os cornos do Escobar. Loirinho do olho verde, um verdadeiro Miguel Falabella, sendo que Bentinho era os cornos do André Gonçalves e Capitú devia ser os cornos da Débora Secco. Mais óbvio que isso só se Bentinho e Capitú tivessem sangue O negativo e seu baby viesse ao mundo como A positivo, à semelhança de papai Escobar.

Daí pra frente, foi nosso galhudinho ficando mais e mais azedo e mandando o moleque às favas, terminando o livro sozinho e sem alguém que o chifre.

Para concluir a lista, um conto: "O enfermeiro". Mais uma pérola de misantropia, desmantelando o mito em torno do enfermeiro mega bonzinho que se torna herdeiro universal do velhote sob seus cuidados. Pois sim! O distinto tem uma crise de raivinha com o pobre do velho caduco, por conta de uma surtada deste último, e enforca-o com as mãos nuas!

Senhores, atenção. Quando foi contratado, Procópio já foi avisado logo de saída de que seu paciente, o Coronel Felisberto, era senil e de maus-bofes, logo, não tinha de que se queixar. Já diziam os antigos: "Combinado não é caro", e "Quem não agüenta com pote não segure na rodilha"! Se não tinha paciência para aturar bengalada de doido gagá, não aceitasse o encargo, ora, pílulas! E depois fica todo arrependidinho, dizendo que só acelerou a morte de seu pobre paciente. Faz-me rir, assassino! Matou um doente indefeso com as mãos limpas, e ficou caladinho. Depois de fechar bem o colarinho do defunto, para disfarçar as marcas das unhas (ui, meu bem, que mêda, mona!).

Repito: ao ser contratado para cuidar de Felisberto, o enfermeiro já foi sobejamente avisado de todas as idiosincrasias do CORONEL. Negrito e maiúsculas no título para lembrá-los de que era um coronel no estilo "coroné arretado". Fazendeiro rico e chefe político da região quando estava em seu perfeito juízo, era seguidor ferrenho da escola "manda quem pode e obedece quem tem amor à vida". Agora imaginem um sujeito desses caducando e entrevando, sob os cuidados de um enfermeiro homem (por que se fosse uma enfermeira, era líquido e certo que o Coronel haveria de querer lhe enfiar um outro tipo de bengalada). Óbvio que haveria um festival permanente de birra, mau humor e achaques.

Depois dessa, Procópio, o nosso anti-herói, ainda teve a desfaçatez de aceitar a herança de sua vítima e posar de grande homem para a cidade. Pelo menos terminou mal, doente e desenganado dos médicos. Que sofra muito, calhorda! E não adianta estatuir em testamento que paguem missas por tua alma, que com certeza absoluta está torrando no inferno dos personagens. Por que os que possuem não serão consolados coisa nenhuma.

Por hoje é só, pessoal! Depois eu vejo se lembro de mais algum livro para esculhambar, e vejo onde é que acho outra manhã de insônia para postar mais aqui.

Fui!

26 de agosto de 2009

A quanto tempo, não? Economia Ecológica 3.

Observação em 11/04/2014

Atenção, novos leitores: esta postagem será mantida apenas para fins de registro histórico, pois como alguém que gostaria de se tornar um bom cristão algum dia eu finalmente me manquei de que DEUS PROVERÁ e, portanto, essa estorinha de Ecologia é só um nome fofo para satanismo (não confiar no amor de Deus foi o que fez Lúcifer cair).

Senhores, bom dia.
Em primeiro lugar, desculpem o colossal atraso.
Agora, vamos ao último post sobre economia ecológica, que será deveras curto, composto por alguns comentários e opiniões.
Começo reforçando (ou apresentando, nem lembro) o conceito de "crescimento deseconômico". Toda produção, seja de produto ou de serviço, implica tanto em uma utilidade marginal (benefícios resultantes da produção da unidade mais recente deste produto ou serviço) quanto em uma "desutilidade" marginal (prejuízos - geralmente sociais, humanos e/ou ambientais). A utilidade é decrescente (cada unidade a mais traz menos benefícios) e a desutilidade é crescente.
O problema acontece quando a escala de produção de alguma coisa finalmente atinge o ponto em que utilidade = desutilidade. "Crescer" em termos crematísticos (aumentar ainda mais a produção em termos quantitativos) a partir desse ponto significa "descrecer" em termos oikonômicos (o meio ambiente chora e a soma dos prejuízos ultrapassa a dos benefícios para todo mundo).
Uma medida de fácil acesso para se verificar se a economia global como um todo está crescendo ou descrecendo é a pegada ecológica, que mede quanto gastamos de recursos naturais e de capacidade de recuperação do meio ambiente, e tem dados disponíveis no site (em inglês): http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/
Adivinhem se já não estamos ladeira abaixo?
Meu outro comentário é sobre uma modinha pavorosa que se abateu sobre as melhores cabeças pensantes da área, que é o conceito de Economia do Hidrogênio. Essa idéia consiste em acreditar que Hidrogênio gasoso é um combustível (está disponível na natureza para ser extraído ou produzido de forma rápida e fácil para uso como insumo energético) e substituir os combustíveis fósseis por esse gás.
O pequeno problema é que a 2ª Lei da Termodinâmica é inexorável, meus amigos. A cada vez que temos uma transformação energética (conversão de uma forma de energia em outra), temos uma perda de "energia disponível"/exergia. Ou seja, toda conversão de energia resulta em geração positiva e não-nula de entropia e em "desperdício de energia". Perde-se capacidade da energia de produzir trabalho útil (que é a definição de exergia).
Acontece que, a menos que se encontre um outro meio de produzir hidrogênio gasoso que não seja a eletrólise da água ou a reforma catalítica de outros combustíveis, toda produção de hidrogênio para uso como insumo energético implica em conversões energéticas adicionais e desnecessárias. A eletrólise gasta uma eletricidade que poderia ser usada para outra coisa, e a reforma transforma quimicamente um combustível que já poderia ser usado para outra finalidade em sua forma original.
As únicas opções que me vêm à mente são a fotólise da água (forma de aproveitamento de uma exergia solar que não nos estaria disponível de outro modo) e a engenharia genética de microorganismos produtores de H2 gasoso (idem, mas pouco provável, já que seriam microorganismos dedicados a dar um passa-moleque efetivo na 2ª Lei, bem mais forte que aquele passa-moleque aparente comum a toda forma de vida).
Enfim, hidrogênio não é combustível, é vetor energético (ou "bateria", se vocês preferirem). H2 gasoso é um modo de armazenar energia, não um insumo energético propriamente dito.
Assim sendo, qualquer aplicação do hidrogênio em que o uso de um vetor energético (seja o H2 ou qualquer outro) não seja imprescindível (ou seja, onde não for realmente necessário armazenar energia) é contraproducente, e há muitos vetores energéticos menos dispendiosos e trabalhosos que o uso deste gás, que deve ser armazenado ou em hidratos metálicos (tecnologia complexa cuja manufatura implica em gastos energéticos consideráveis) ou em tanques pressurizados e resfriados (gasto energético colossal).
Portanto, falar em Economia do Hidrogênio, a menos que se façam ressalvas fortíssimas e toda uma série de explicações, é no mínimo um sinal claro de despreparo técnico.
Finalmente, um comentário pessoal:
- "Me recuso a sequer aprender a dirigir enquanto os veículos híbridos elétrico/biocombustível não chegarem ao Brasil com preços minimamente acessíveis às classes C e D!".
Sério, dirigir em outras condições, salvo exceções muito específicas, é um ato de um egoísmo bárbaro. O transporte público atende a grande maioria das necessidades, e o fato de ele ser deficitário e desconfortável deve-se, em grande parte, à pouca demanda por parte de pessoas esclarecidas e dotadas da capacidade de influenciar o mundo ao seu redor. Se mais pessoas capazes de interferir nos processos decisórios envolvidos usassem transporte público, mais pressão haveria no sentido de melhorar seu fornecimento.
Fora isso, o automóvel ocupa um espaço de pista por passageiro muito maior que o ônibus, e o transporte ferroviário/metroviário gasta muito menos energia por (passageiro transportado) x (distância percorrida). Carros estragam o trânsito dos ônibus e motos estragam o trânsito de todo mundo (costurando entre os outros veículos, reduzem a velocidade média de todos os outros motoristas).
E o que o transporte público não atende, o táxi resolve. Ponha na ponta do lápis a despesa fixa com um automóvel, somando combustível, seguro e impostos, e compare com o custo mensal de usar um táxi para as exceções e transporte público para os deslocamentos mais comuns.
Até o próximo post, se houver!

10 de agosto de 2009

Literatura 1.1

Senhores, boa noite.

Seguinte, terei que fazer meio post por semana, que estou com um trabalho bacana pra fazer e o tempo está todo investido.

Mas dá para escrever meia postagem de vez em quando.

Então, como eu tinha prometido e vou ter que cumprir atrasado, vambora resenhar mais três livros.

Vamos começar com The Portrait of a Lady, por Henry James. A impressão inicial é de algo meio parnasiano, com todas aquelas descrições ultra-detalhadas e maneirismos estilísticos. Na seqüência, você começa a achar que está lendo uma obra da primeira fase do Romantismo, com aqueles personagens todos tããão perfeitos e nobres. Mas depois que você conhece melhor a Isabel e se familiariza um pouco mais com o Ralph Touchett, percebe que está diante de um autor que gosta de trabalhar sutilezas psicológicas e filigranas emocionais.

Tudo construído com cuidado, como uma partida de xadrez. Cada personagem tem um papel a cumprir, por mais aparentemente inútil que possa ser no começo (Henrietta Stackpole é o exemplo máximo de personagem que você só vai perceber que é necessário para o desenrolar do livro lá pelo final, onde só ela mesma poderia cobrir a função que ela cobriu).

Resumindo beeem resumido, é a história de uma personagem que se lascou-se sozinha por si mesma própria. Pelo menos ela percebe isso e se porta com dignidade, temos que admitir. Gosto de personagens coerentes.

Outro ponto interessante do livro é que, embora alguns personagens sejam claramente "planos" (pelo amor do milho, alguém me explique o que é aquele Caspar Goodwood!), os vilões são deliciosamente matizados em tons de cinza. Descobrir que Gilbert Osmond é o oposto diametral de tudo aquilo que ele prega, e perceber que se ele visse a própria alma no espelho seria capaz de morrer de desgosto com a breguice do que veria, simplesmente não tem preço. Já Mme. Merle é uma das melhores anti-heroínas que já vi em muito tempo.

Continuando com os spoilers, saber só lá pelo fim do livro que Mme. Merle é a mamãe de Pansy é outra surpresa de virar a cabeça do leitor de avesso. Já vi pai largar filho com a mãe, mas mãe soltar filho na mão do pai, e nas condições em que a gente ver acontecer no livro, é uma senhora surpresa.

Mas analisando nossa personagem principal, digamos que Henry James passa a impressão de ser um tremendo dum machista. Super discreto, elegantíssimo, demora-se meio livro a se perceber isso, mas temos a nítida impressão de ser ele de um machismo cruel. A Isabel se lascou por conta própria simplesmente por ser "uma mulher que quer tomar conta do próprio nariz".

Vejam de onde me pareceu isso: ela rejeitou dois excelentes partidos por que ao casar deixaria de ser uma pessoa com valor individual por si mesma (Isabel Archer) e passaria a ser "apenas" a Mrs. Goodwood ou a Lady Warburton. Quando seu primo Ralph resolveu, muito inocentemente, lhe dar asas a ver o quão longe voaria, caiu direitinho na arapuca de Merle e Osmond, com um sorriso nos lábios, crente que estava abafando!

Pois muito bom, casou por amor e espírito de nobreza com um cidadão que, além de aproveitador, parasita e ingrato, ainda passou a dedicar sua existência a destruir o espírito dela. Pffft... Sente-se como se Henry James dissesse a sua protagonista, mais ou menos ao longo dos 10 últimos capítulos, rei-te-ra-da-men-te: "Bem feito, mulherzinha! Quem mandou querer ser independente? Agora toma! Bem-feei-tooo! Lá-lá, lá, láá, láá... lááá!!!".

Mas a uma leitura mais atenta, compreende-se que é exatamente o contrário. Por que é essa saraivada toda contra o espírito dela, mas Isabel segue até o amargo fim ali, firme, suportando tudo com um estoicismo espartano. O modo como ela aprende a contornar Osmond ao estilo zen ("Água não passa por cima de pedra, dá a volta") e salva as peles de Pansy e de Lord Warburton de caírem de focinho em um casamento arranjado que os mataria de aborrecimento por toda a eternidade é de um brilhantismo a parte.

E o final, então, é para aplaudir em pé. Despachar Caspar depois de todas as cartas na mesa e voltar para sofrer as pedradas e flechadas do destino adverso por amor à decência, à integridade de seu espírito e talvez até em sacrifício pela INOCENTE ÚTIL que é a coitada da Pansy foi encerrar o livro com fecho de ouro!

Agora, a dois livros não tão bons, embora clássicos. Duas obras seminais no gênero terror, mas que atualmente só têm valor histórico.

A primeira é o "Drácula" original, de Bram Stoker. Personagens planos e mal construídos, Drácula caricato, "noivas do Drácula" jogadas ali a esmo como um pedaço de roteiro mal costurado e trechos efetivamente blasfemos.

Ora faça-me o favor, então usa-se "massa de hóstia consagrada" para fazer "círculos" ou "barreiras" de proteção, como se fossem os círculos mágicos de conjuradores de demônios? Tenha a santa paciência, quase larguei com o livro pela janela quando cheguei nessa parte...

Fora isso, o comportamento das moças é histérico e o do herói do livro mais ainda. O único personagem interessante foi o de uma moça que, virando vampira, andava com crianças pela noite a la Michael Jackson mas não as "bebia".

A segunda é o "Frankenstein" original, de Mary Shelley. O livro é decididamente EMO!
Dr. Victor Frankenstein era um emo patético que desmaiou como uma menininha quando seu monstro se ergueu, animado pelos relâmpagos.
A família "protegida" pelo monstro é uma família de conto de fadas, todos de uma bondade de comercial de margarina.
E o "monstro", Ah, senhores!, o "monstro" é um capítulo à parte.

Vêm ao mundo com "alma" de criança, sem saber falar e sem noção de fanta-uva na vida. Até aí óquêijo, tudo belesminha. Afinal, apesar do tamanho monstruoso e das formas grotescas (foi montado com peças de gigantes ou o quê?), era um "recém-nascido" (ou "recém-morto-vivo", sei lá).

Mas ao parar na cabana ao lado da família de camponêses pobres que ele resolve ajudar e proteger (índole quase angélica, muito mais humano que aquele arremedo de nobre que é o Dr. Frankenstein), aprende rapidamente (só de ver e ouvir) a falar, ler e escrever, tocar flauta e filosofar como um verdadeiro filósofo teórico alemão. A única explicação que me vem à mente é que o Dr. tenha acidentalmente pego o cérebro de um luminar da ciência ou de um grande pensador e com o tempo as memórias residuais tenham começado a vir à tona, reativadas.

Até aí, está tudo mais ou menos bem estruturado, mas aí o "monstro" (cafiaspirina cruz, queria que a Sra. Shelley tivesse dado um nome para ele, por que é de longe o personagem mais humano do livro inteirinho) descobre que não tem lugar para ele no mundo, já que as pessoas (mesmo as melhores) tem uma tendência desagradável a julgar livro pela capa e a encadernação dele é realmente das piores.

Numa decisão de uma sabedoria espantosa, resolve que quem faz a agada é quem tem a obrigação de limpar, e parte em busca de seu criador, para que ele dê um jeito na baderna.

Só que dá azar ao encontrar com o irmão mais novo do Dr., e o moleque acaba morrendo toscamente. O monstro sai de fininho, no melhor estilo "Filho feio não tem pai", e acaba sobrando para uma moça lá do feudo. No pior estilo "comédia de erros", só que dessa vez é tragédia de erros, mesmo.

Daí o Dr. vai tirar satisfação com o monstro, achando que a criatura tinha matado o moleque e incriminado a moça de propósito. Ao encontrar o monstro este, muito lhanamente, conta todas as suas desventuras até o momento e pede uma "Eva" proporcional à desproporcionalidade dele, com a qual ele iria viver nas selvas da América ou qualquer outro lugar deserto de seres humanos, para que os dois fossem "felizes para sempre" sem que o planeta se importunasse com a presença deles.

Razoável, não? Bastaria que o Dr. fizesse essa "noiva" estéril, e ficava tudo de boa. Mas nããão, emo que é emo TÊÊÊM QUE SURTAR. E o nosso Dr.zinho surta em escala industrial, por que não poderia infligir ao mundo o horror de tal casal procriando (lembrem-se, bastava o imbecil não por útero na tal Eva que não haveria problemas) e que ele não poderia profanar mais túmulos e mais cadáveres (Alôôô-ôu!!! Quem faz um cesto faz um cento, seu fresco!), e se recusa terminantemente a atender ao pedido do monstro.

Péssima idéia, amiguinhos. Mostrando uma determinação férrea e uma força de espírito inquebrantável, o "monstro" avisa: "Te dou um prazo e, ao final dele, das duas uma. Você pode me dar essa companheira dentro de X dias e eu parto com ela para viver o amor, como eu mereço pois todo ser vivo merece, longe da humanidade para não perturbar a paz de quem quer que seja. Todos vivem felizes para sempre. Ou você pode insistir em empatar a minha alegria e me condenar a ser sozinho. Daí eu te devolvo igualzinho o que você fez. Se eu for infeliz, tenha a certeza de que te farei infeliz em triplicata, por que eu destruirei a ti e a tudo que te é caro." (Bom, de novo, não foram exatamente essas palavras, por que já li tem algum tempo, mas a mensagem foi bem por aí.)

Adivinhem se nosso nobre de plantão não resolveu bater pézinho contra uma criatura de uns 3 metros de altura e força hercúlea... Ganha mais uma estrelinha no caderno quem disser que sim. E o que é pior, depois de dar um gostinho à criatura, começando a fazer a monstra. Pois é isso mesmo, primeiro ele até é razoável e começa a fazer a "noivinha", mas aí tem um belo dum acesso de emice purpurinada galopante e destrói a "Eva" no meio do caminho. Detalhe, o monstro estava assistindo pela janela e viu tudo.

Óbvio que o monstro simplesmente ficou prostituto da existência dentro das cuecas e cumpriu sua palavra (merece meu respeito total, admiro quem tem palavra), arrebentando a vida de Victor Frankenstein de cima a baixo, fechando com chave de ouro ao entregar-lhe o cadáver de sua noiva para que Victor fizesse a partir do presunto fresquinho uma Eva para ele: notem, o "monstro" pune com rigor draconiano mas dá uma segunda chance!

Victor SURTA DE NOVO e, depois de mais um tantão de coisa, o monstro puxa o carro deixando indicações de onde foi passar o resto de sua existência solitária, caso Victor quisesse virar hominho e tirar satisfações. Victor finalmente vira hominho e vai atrás, e o monstro o faz de tonto num jogão de gato e rato bem engraçado.

Finalmente o Victor fica dodóizinho e vai pras cucuias. O monstro chora por que, afinal, aquele emo imbecilóide era o "pai" dele e perder pai dói. Para encerrar, o monstro resolve que não tem mais por que continuar uma existência solitária e sem sentido e parte, garantindo que vai se matar e deixar a humanidade em paz (pai emo, filho emo!). E todos morrem infelizes para sempre!

Falou, pessoal, daqui não sei quantos dias eu fecho o post de Economia Ecológica. Até a próxima!

5 de agosto de 2009

Literatura 1

Senhores: desculpem o atraso.

Graças ao bom Deus, estou com um bom conjunto de textos para traduzir ($$ no bolso sempre é bom!) e meu tempo ficou apertado para postar.

Felizmente, o post atrasado é da família dos abobrinhentos, então é só ligar o módulo Janete Clair e sair digitando.

Basicamente, vou escolher meia dúzia dos livros que já li e falar a respeito deles: atenção, vai rolar spoiler a rodo.

Vamos começar com meu autor favorito em língua inglêsa, Thomas Hardy.

Em linhas gerais, esse vitoriano (inglês de 1800 e muito) adorava criar protagonistas super gente boa, desses com os quais a gente se identifica logo de primeira, e depois passar o livro todo destruindo a vida do(a) infeliz. Happy ending é algo que você definitivamente NÃO encontrará em livros dele, até onde me é dado saber.

Por enquanto, já li deste autor:

  • The melancholy hussar and other stories;
  • Tess of the D'Urbervilles; e
  • Jude, the obscure.

O primeiro é uma coletânea de contos, apresentando os temas favoritos do autor: preconceitos vitorianos e o quanto eles são estúpidos e ferram a vida das pessoas, amores mal-fadados, desilusões, fracassos e esperanças frustradas. Pessoas boas que não se podem casar por causa de convenções sociais artificiais e nojentas, projetos de carreira destruídos por mesquinharias e pequenez humana e outras coisas do gênero.

Todos os heróis e protagonistas morrem ou levam uma vida de fracasso destroçante, enquanto que os vilões e personagens secundários nojentos ficam de boa. Uma tremenda coletânea de lições de vida real, à época de sua primeira publicação.

O segundo é a história de uma jovem camponesa que, por causa de pais burros e sem-noção, acaba caindo nas mãos de um canalha endinheirado que a embucha e joga na rua.

Sem brincadeira! O pai da Tereza Durbeyfield (Tess, para os íntimos) era um pinguço inútil, e teve a má sina de cruzar caminho com um pároco (anglicano, lembrem-se que estamos na Inglaterra vitoriana) que gostava de desperdiçar seu tempo estudando genealogias. O tal pároco caiu na imbecilidade de informar o bebum que ele descendia de nobreza normanda, do clã dos D'Urberville. Pois o cachaceiro volta pro bar, bebe fiado e manda que lhe carreguem de volta para casa em liteira, só para vocês verem o tamanho da monguice do distinto.

Daí para a frente, só ladeira abaixo para a coitada da Tess. O malucão descobre um pouco mais para diante que há uma família atendendo pelo nome de D'Urberville alguns condados adiante (spoiler do spoiler: eram novos-ricos que compraram o sobrenome para dar alguma dignidade ao dinheiro), e convence a família toda de que seria uma boa mandar a Tess, que era a filha mais velha, para falar com eles e pedir uma ajudinha, já que são parentes.

Nem para a mãe dizer algo, por que Joana Durbeyfield, embora não bebesse, era tão cozida quanto o maridão. Pobre Tess... Lá vai ela, que encontra logo com o "homem da casa": Alec D'Urberville, um filhinho de mamãe (viúva, cega e desinformada - Alec fazia o que quisesse com a grana e com as propriedades, criadagem inclusive) comedor de empregadas.

Pois Alec convence Tess a ficar em uma granja de frangos, como se mamãe D'Urberville soubesse disso.

Algumas páginas adiante, Alec curra Tess.

Mais algumas páginas adiante, Alec enjoa de Tess, que volta grávida para sua aldeia. E isso com o povo todo achando que ela ia casar com o primo Alec! ...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

Tess tem seu filhote, trabalha na roça feito uma condenada, vê seu filhote morrer, continua trabalhando na roça feito uma condenada e finalmente tem que migrar para outro condado para poder continuar trabalhando sem que o resto de sua família se ferre com a sua desonra (vitorianos escrotos...).

Chegando no outro condado, trabalha-trabalha-trabalha até que aparece um sujeito aparentemente bacana. Ela tenta não gostar dele, por que sabe a cabeça do macharal do povo e do tempo dela, mas não consegue e cai de quatro e de boca no capim. O camarada, sem saber da história dela, cai igualmente aboxonado.

Ela tenta avisá-lo de seu passado, antes que aconteça algo mais grave, mas nãããão, não haveria um livro de Thomas Hardy se ela conseguisse avisá-lo a tempo. Os dois casam, ela finalmente conta a ele seu infortúnio (detalhe, depois de ELE ter dito que tinha passado dois dias comendo uma fulaninha sem casar a um par de anos atrás) e ele SURTA.

Angel Claire (esse é o nome do tal sujeito) simplesmente SURTA, dorme em cama separada, quase mata Tess em um ataque de sonambulismo e some para o BRASIL, vejam vocês. Passa um ano aqui antes de voltar, e nunca dá notícias para a Tess, que passa uma vida de cão chupando manga embaixo de pé de tamarindo, trabalhando feito uma escrava para se sustentar em um condado com o clima mais escroto de toda a Inglaterra.

Quando Angel Claire está para voltar do Brasil, Alec D'Urberville (por que filho da puta que é filho da puta SEMPRE VOLTA NA PIOR HORA nos livros do Thomas Hardy) reaparece, inferniza a vida da Tess e compra a família todinha dela para convencê-la a se tornar sua amante (já que esposa ela já era do Angel Claire). A infeliz da Tess resiste um par de meses, até que Alec solta a última cartada: "Queres que teus irmãos e irmãs tenham vidas bacanas e felizes, deixe que eu compro isso pra eles, basta que você seja minha". Bom, como o pai morreu e a mãe é uma encostada inútil do cão, Tess não teve escolha.

Pois depois disso é que Angel finalmente resolve PERDOAR Tess (olhem a desfaçatez do menino... Ah, uma jaula!) e procurá-la. Encontra-a morando com Alec, e ela o informa de toda a infelicidade que se abateu sobre ela. Pois é, desgraça pouca para protagonista de T. H. é bobagem.

Angel vai embora, dando a entender que se não fosse por ela estar com Alec estaria tudo bem, por que mesmo que se fossem agora a infâmia os perseguiria e yadda-yadda-yadda.

Na seqüência, Tess pira na batatinha, cata uma peixeira na cozinha, chama Alec de Conde Drácula e enfia a peixeira até o cabo no coração dele. Troca a roupitcha e sai alegre e lampeira procurando Angel.

Encontra-o, conta o que fez, fogem juntos por um tempo, acham um chalé abandonado e vivem uma pequena lua-de-mel (um minutinho de alegria pra coitada da protagonista, já que ela já tinha escolhido morrer, já explico).

Saem do chalé quando percebem que sua presença nele foi descoberta pelos proprietários, mas a polícia finalmente os alcança. Antes de serem alcançados, Tess convence Angel a procurar sua irmã mais velha (mais nova que a Tess, mas mais velha que o restante da irmãozada toda) e casar com ela - a moça ainda era pura, então para ela tava tudo beleza. O lance é que Tess sabia que quem mata um rico sempre vai pro vinagre, mesmo estando com a razão, e tinha aceito ir pro vinagre para que a infâmia não alcançasse Angel Claire (é o amor, minha gente!).

O livro termina com Angel e a irmã de Tess olhando para a Torre de Londres (prisão máxima para condenados à morte) e vendo o hasteamento da bandeira negra que indica que um condenado acabou de ser executado.

Moral da história, Angel Claire babaca fica com a irmã cabacinho da Tess e termina o livro lépido e fagueiro, enquanto que a pobre coitada da Tess termina sua vida de aflições sendo degolada na cadeia.

Finalmente, o terceiro: Judas, o Obscuro.

Nunca vi um protagonista apanhar tanto num livro, nem a Tereza de Tess of the D'Urbervilles.

O cara nasce pobre e quer fazer carreira acadêmica. Bom, já começou mal, por que na Inglaterra vitoriana mobilidade social era lenda. Mas o distinto (suuuper gente boa, como todo protagonista de T. H.) era esforçado, trabalhava feito um mouro, ganhava seu sustento dignamente e torrava toda a sobra com livros, aprendendo grego e latim na unha.

Se me lembro bem, ele era entalhador de pedras (stone mason), e especializado em entalhe de lápides mortuárias: meio macabro, tal e coisa, mas mão de obra técnica especializada para a época. Dava para tirar um sustento legal sendo solteiro, trabalhando com isso e com entalhes e restaurações de detalhes arquitetônicos em pedra de cantaria em construções antigas: castelos, universidades, catedrais e coisa e tal.

Tava lá ele, estudando sozinho na boa, trabalhando, juntando umas economias para quem sabe um dia ir para o condado vizinho pedir licença para assistir umas aulas na universidade local, depois de mostrar o quanto era esforçado e já tinha aprendido sozinho, enfins, tudo se encaminhando para não ser um livro do T. H.

Mas eis que o autor bota no caminho do nosso amigo uma garota safada e dadeira que o tira dos livros para fazer nheco-nheco. Problemas? Dois: 1) cuidar de esposinha fogosa tira o tempo livre que ele tinha para os estudos e 2) a grana dele só dá para cuidar de um casal sem sobra para livros ou qualquer tipo de luxo.

Mas vocês poderiam me dizer: "Ué, o Judas que largasse dessa bestagem de querer estudar e vivesse legal como um entalhador de pedra, já que a grana da profissão sustentava o casal direito.".

O problema é que a tal mulherzinha não valia o que o gato enterra. Primeiro ela começou a infernizar com o Judas (malhar o judas com o saquito do Judas - rsrsrs), depois se não me engano resolveu lhe enfiar galha e finalmente sumiu no mundo. Foi passear no Canadá, depois de transformar a vida e a auto-estima do Judas em purê de batata.

Uma vez sozinho no mundo, Judas resolve juntar as economias e os caquinhos e reiniciar seus planos. Já que o casamento não deu certo mesmo, não custava nada esperar a poeira baixar (homem pode, né? Vitorianos escrotos...) e reiniciar de onde tinha parado. O problema era só a idade dele, que alguns anos tinham se passado nesse lero.

Nesse meio tempo, ele tinha cruzado caminho com uma prima super gente fina (atenção, em livros do T. H. você SABE que quando alguém é super gente fina esse alguém está destinado a levar trolha até o fim do livro) com a qual tinha simpatizado, mas como sujeito decente e casado ele só ficou na amizade e tchau.

Pois bom, como o primo Judas estava casado, a prima acabou casando com um mestre-escola (um velhote que não fedia nem cheirava, se fosse gente boa tinha se ferrado no livro, mas como só não fedia nem cheirava teve um destino neutro: o autor meio que esqueceu de dar um fim pro personagem dele).

Agora que estava livre e desimpedido, se reencontra com essa prima (a família tinha avisado profeticamente quando eles eram pequenos que não era pra deixar que os dois se juntassem).

Os dois se aboxonam perdidamente, juntam-se e vão viver nesse condado vizinho onde o Judas queria tentar estudar.

O Judas trabalha entalhando pedra, reformando castelo antigo e tal, a prima dá umas aulinhas pra crianças.

Até aí, vai indo, mas eis que Arabella (a tal que não valia o que o gato enterra) reaparece do Canadá (eu diria que das profundas dos infernos, mas no caso foi do Canadá mesmo) para dizer que tinha um filho e que o moleque era dele. Depois de uns 6 a 8 anos, papagaio!

O tal moleque vai morar junto com Judas, a priminha e as duas crianças pequenas que eles tiveram. Mas com a reaparição de Arabella, o juntamento dos dois passa a ser mal visto na cidade e pouca gente lhes dá trabalho e paga (por que todo mundo acreditava que Judas e a priminha eram casados, mas com o retorno de Arabella e o aparecimento desse moleque se esclareceu e se lascou tudo), o que faz com que eles, os dois filhos e o filho do Judas com a Arabella passem um tanto de aperto.

Esse moleque é o toque de Midas do Thomas Hardy na história. O garoto tinha algo entre 6 e 8 anos e era quieto, caladão, deprimido e sombrio. Como se tivesse plena consciência de toda a escrotidão da história que cercou a vinda dele ao mundo e mais um pouco. Para vocês terem uma noção do climão tenebroso em volta do moleque, o Judas e a priminha deram-lhe o apelido de "Little Father Time" (Pequeno Pai Tempo - o Pai Tempo é a figura inglêsa do Tempo como uma pessoa que detem o conhecimento de tudo o que aconteceu ao longo das eras, é algo bem depressivo de se usar como apelido para alguém, indicando alguém extremamente taciturno).

Pois um belo dia Judas volta de entalhar umas lápides e a priminha volta de dar umas aulas, e eles encontram os bebês mortos abafados com travesseiro e o nosso "luminoso" Little Father Time pendurado em uma forca, com um bilhete aos pés: "Queridos papai e mamãe, quis poupar-vos o trabalho e as aflições de terem que cuidar de nós nestes tempos difíceis em que vosso dinheiro está tão escasso e tão duro de ganhar. Assim, mandei meus irmãozinhos para o céu e me matei" (bom, não foram exatamente essas palavras mas a mensagem era essa).

A priminha enlouquece de desgosto e volta para seu mestre escola, enquanto que o Judas passa alguns meses infeliz e adoecendo de loucura, tristeza e agonia.

No fim, os dois morrem, ele por último depois de vê-la morrer sabendo que a culpa dela morrer era toda dele.

Moral da história: coma chocolate para rebater, por que depois de ler esse livro dá um ataque de depressão monstruoso.

Faz um bom tempo que li esse livro, então devo ter pulado uma porrada de detalhe, mas o essencial tá ai em cima.

Eu tinha prometido meia dúzia de livros, mas acabou de chegar mais um pedaço gordo do meu trabalho de tradução bilíngüe e vou trabalhar que ganhar dindim é bom.

Até a próxima, quando completarei esse primeiro post com mais 3 livros analisados a la SeuZéNando: muito spoiler e muita opinião torta. Beijos nas crianças!

28 de julho de 2009

Mais um aviso aos navegantes.

Senhores, boa noite.

Só para avisar que NÃO encurtarei NEM facilitarei meus textos para agradar leitores com baixa alfabetização funcional.

Quer textos curtos e simples, compre "Júlia" ou "Sabrina" na banca de jornal.

Até a próxima!

27 de julho de 2009

Economia Ecológica 2: o tripé do DS.

Observação em 11/04/2014

Atenção, novos leitores: esta postagem será mantida apenas para fins de registro histórico, pois como alguém que gostaria de se tornar um bom cristão algum dia eu finalmente me manquei de que DEUS PROVERÁ e, portanto, essa estorinha de Ecologia é só um nome fofo para satanismo (não confiar no amor de Deus foi o que fez Lúcifer cair).

Senhores, desculpem o atraso.
No post anterior sobre oikonomia, apresentei os seguintes conceitos iniciais:

  • Oikonomia X Crematística
  • Mundo vazio
  • Mundo cheio; e
  • Teoria dos Cinco Capitais (natural/físico, humano, social, manufaturado e financeiro).

  • Antes de encerrar, convidei-os a fazer uma pequena "lição de casa", recordando termodinâmica básica (1ª e 2ª leis) e procurando se informar do significado das palavras ENTROPIA e EXERGIA.
    Para quem não a fez, segue um par de definições rápidas:

  • Entropia: medida do grau de "desordem" de um sistema, tende sempre a aumentar. Quanto maior a entropia de um sistema, menor a exergia disponível.
  • Exergia: capacidade que a energia possui de realizar trabalho útil. Embora a energia seja "indestrutível e eterna" (Lavoisier), a exergia se esvai em proporção direta à geração de entropia de um dado processo. Pode-se dizer que a exergia é o "combustível" que move o Universo.

  • Da segunda lei da termodinâmica, temos que a geração de entropia em um processo é sempre positiva (processos termodinamicamente irreversíveis, ou seja, processos do mundo real) ou nula (processos termodinamicamente reversíveis, ou seja, abstrações físicas onde o atrito é nulo e outras coisinhas lindas que só existem em problemas de física na escola). Com isso, o gasto (ou falando com mais propriedade a DESTRUIÇÃO) de exergia em um processo é igualmente sempre positiva (mundo real) ou nula (nos livros).
    Quando toda a exergia do universo for exaurida, este sofrerá o que alguns físicos chamam de "morte térmica", transformado em uma sopa disforme e homogênea de poeira cósmica e calor de baixa temperatura.
    Agora para algo completamente diferente: lembram que eu disse que o nosso ecossistema global, que inclui todos os recursos naturais/físicos da Terra, é finito? Lá nas figurinhas de mundo vazio e de mundo cheio. Tá lá, Ecossistema Global FINITO. Por que cargas d'água a palavra FINITO, e por quê eu a friso insistentemente aqui? Só por que, ao contrário de Julian Simon, Bjorn Lomborg e outros menos cotados, eu sou um neo-malthusiano e, portanto, sei que os recursos provenientes de nosso lindo planeta azul que estão à disposição da humanidade são finitos. Ou seja, a quantidade deles pode até ser estuporantemente gigantesca, mas "dá para contar". Qualquer que seja o recurso: solo arável fértil disponível, água potável, oxigênio atmosférico, cobre, ferro, silício, manganês, chumbo, molibdênio, zinco, cana de açúcar, ovelhas, you name it.
    Alguns desses recursos são renováveis, desde que se respeite a velocidade natural de reposição, outros estão fadados a esgotar-se caso usados até o fim. Adivinhe em qual destas categorias está nossa amiga exergia.
    Ganhou um pirulito do tio e uma estrelinha no caderno quem respondeu AMBAS. Agora vem o mais divertido, a explicação de "Como assim, ambas?!?". Acontece que, embora o planeta conte com um estoque finito de fontes de exergia, tais como petróleo, gás natural, carvão, xisto betuminoso, areias betuminosas, urânio, plutônio e tório, também temos acesso a um suprimento contínuo de exergia proveniente do Sol (luz solar - diretamente ou indiretamente via fotossíntese -, ventos, ondas, gradientes de temperatura e salinidade dos oceanos, etc.) e da interação gravitacional entre a Terra e a Lua (marés).
    Muito que bem, então se acabarmos com os combustíveis fósseis e físseis, desde que sobrevivamos ao efeito estufa adicional resultante de consumirmos TODAS as nossas reservas de combustíveis fósseis ao invés de largarmos mão deles antes, sempre teremos as fontes renováveis? Então por que é que os ecochatos fazem tanto barulho?
    Bom, primeiro por que não vai dar para segurar a onda de todo esse aquecimento global se produzirmos todo esse fumacê. Segundo (e aqui é que a coisa fica divertida), por que embora os suprimentos de exergia solar e lunar sejam razoavelmente constantes e permanentes para os próximos dois bilhões de anos pouco mais ou menos, eles se dão a uma razão constante. Isso significa que, ou a economia global dá os seus pulinhos e aprende a se virar só com esse tanto de exergia para consumir por unidade de tempo, ou a coisa desanda.
    O problema é que, em função da disponibilidade histórica dos combustíveis fósseis e físseis, a economia global está atualmente viciada em funcionar consumindo uma quantidade tal de exergia por unidade de tempo que, para o atual estado da arte das tecnologias energéticas, corre um sério risco de ser inviável quando finalmente não tivermos outra opção que não suprir essas necessidades exergéticas a partir dos suprimentos solar e lunar.
    A figura abaixo ajuda a entender do que é que eu estou falando no parágrafo acima:

    O "estoque terrestre" é o somatório dos estoques terrestres de combustíveis fósseis e físseis. Ao "estoque solar" (toda a energia proveniente do Sol que atingirá a Terra ao longo da história do planeta) somemos a energia gravitacional das marés e teremos o fluxo de energia disponível para nós na ausência do "estoque terrestre" por unidade de tempo.
    Como na verdade hoje o "fluxo solar" é menor que o "fluxo terrestre" (taxa de consumo dos combustíveis fósseis e físseis por unidade de tempo na economia global), ou revertemos esse vício por consumos energéticos exagerados ou na hora que o "estoque terrestre" acabar a coisa desanda. Isso se não desandar antes por conta do aquecimento global.
    E agora, senhoras e senhores, começa o post propriamente dito, que isso tudo foi só introdução. O que é mais engraçado é que talvez a introdução venha a ser mais extensa que o post.
    A partir dos conceitos apresentados na introdução (entropia, exergia, ecossistema global FINITO e "ampulheta entrópica"), dá para ver que ou a gente tira o pé do acelerador, pisa no freio com as quatro patas E puxa o freio de mão até o talo, ou a espécie humana caminhará alegremente de rodinhas ladeira abaixo rumo ao precipício.
    Agora, qual a alternativa?
    A alternativa é o que nós "oikonomistas" (economistas ecológicos) chamamos de Desenvolvimento Sustentável.
    Pela definição mais tradicional, Desenvolvimento Sustentável é "aquele em que nós atendemos a todas as necessidades das gerações presentes permitindo que as geraçõas futuras também possam satisfazer todas as suas necessidades" (Relatório da Comissão Brundtland de Desenvolvimento e Meio Ambiente - Nações Unidas, 1987). Ou seja, um desenvolvimento que segue a sabedoria dos antigos, segundo a qual "Sabendo usar não vai faltar".
    Por que não dá para manter um padrão de atividade econômica mundial que consome em um ano os recursos ecológicos equivalentes à produção e reposição anuais de 1.3 planetas Terra (http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/).
    Pois muito que bem, não basta dizer o quê fazer, precisa dizer como. E os próximos parágrafos tratarão disso.
    O Desenvolvimento Sustentável, como seria de se esperar, pede por um modelo de economia ESTÁVEL (steady-state economy), em que não há crescimento quantitativo, mas apenas e tão somente desenvolvimento qualitativo. A maioria dos pesquisadores nessa área, inclusive, acreditam ser necessária uma primeira fase de redução quantitativa (1.3 é maior que 1, né?).
    Os CREMATISTAS (aqueles que se dizem "economistas") dizem que uma steady-state economy (economia em regime "estacionário" ou "estável") é uma utopia ou um pesadelo. Bom, pesadelo e utopia, para mim, é achar que crescimento exponencial cabe em um sistema finito, mas cada um com sua tara. Mas tirando esses tarados, que contam com representantes do quilate de Julian Simon e Bjorn Lomborg (pra ver como são sérios e científicos... ...kkkkkkkkkkkkkk...), qualquer um que entenda de matemática em nível primário ou ginasial percebe que a conta não fecha com 1 planeta para morar e 1.3 planetas de consumo.
    De forma bem resumida, uma economia sustentável (aquela que se adequa aos parâmetros de funcionamento de um desenvolvimento sustentável) deve apresentar 3 características:
    1. Escala compatível;
    2. Eqüitatividade; e
    3. Eficiência alocativa.
    Como ninguém nasceu sabendo, expliquemos cada um destes 3 requisitos.
    O primeiro é relativo ao "tamanho" do subsistema econômico, em comparação com o ecossistema global finito. Uma economia sustentável deve manter seus fluxos de matéria e energia em escalas compatíveis com a capacidade global de fornecimento de serviços ecológicos, de modo a "caber" em um planeta Terra ou menos.
    O segundo é mais difícil de por na cabeça, por que implica em se importar com os outros. Significa distribuir os fluxos de matéria e energia de uma forma que respeite as necessidades de todos os seres humanos vivos (eqüidade intra-generacional), de todas as gerações presentes e futuras (eqüidade inter-generacional) e de todas as formas de vida (eqüidade inter-espécies).
    É de suma importância, nesse segundo ponto, perceber que não se trata de "vermelhismos ao luar" (por favor, leiam "Capitalism as if the world matters") ou de "abraçação de árvore". A eqüidade intra-generacional é até uma questão de segurança, pois quem tem comida na mesa e um teto sobre a cabeça não sente tanta vontade assim de se explodir em nome de Alah, por exemplo. A inter-generacional é a própria definição de sustentabilidade, é permitir que nossos descendentes recebam uma Terra pelo menos tão inteira quanto a gente encontrou ao chegar. E a inter-espécies é uma precaução, por que nós NUNCA sabemos qual é a espécie de inseto ou de alga que vai ferrar com toda enorme teia alimentar que sustenta a humanidade se nós fizermos o desfavor de extingüi-la.
    Por que é verdade. Você nunca sabe qual é a alga da qual se alimenta o krill, que alimenta toda a cadeia marinha do Ártico, cujos peixes, por sua vez, sustentam uma porrada de outras espécies vivas. No fim das contas, extingüir a alga errada pode acabar com toda a produção marinha de alimentos. Do mesmo modo, extingüir o inseto errado pode acabar com a polinização de dezenas de culturas agrícolas. Se você não acredita no direito das outras espécies vivas de existirem felizes e em paz nesse mundo, pelo menos se manque que todas elas são necessárias para você poder estar aqui.
    A propósito, sabia que a Amazônia não é o pulmão do mundo? Ela é o ar-condicionado da América do Sul e talvez até do planeta todo, mas não o pulmão. Ar condicionado da América do Sul, por que TODO o nosso regime de chuvas na parte mais continental e menos marítima do território depende em maior ou menor grau do transporte de vapor d'água por evapotranspiração das árvores da floresta. Ou seja: desmate a Amazônia acima de um certo limite e o Centro-Oeste seca de uma forma saariana, por exemplo. Engraçado que muito canalha que desacredita os diversos movimentos ambientalistas está investindo justamente em cenários desse tipo (um caso é a Monsanto desenvolvendo sementes à prova de sêca).
    E o golpe de misericórdia. Sabem quem é o pulmão do mundo? Ganha mais um pirulito do tio e uma estrelinha no caderno quem respondeu O FITOPLÂNCTON OCEÂNICO. É isso mesmo que vocês leram, quem produz todo o oxigênio que respiramos, via excesso de fotossíntese em relação à própria respiração, são as micro algas do oceano.
    Finalmente, expliquemos a eficiência alocativa. Uma vez que se tenha determinado o tamanho correto da economia (Ciências Ambientais + Oikonomia) e distribuído de forma correta e justa os fluxos de matéria e energia através de nosso sistema econômico e do ecossistema global finito, só então é que se trabalhará no sentido de distribuir esses fluxos de matéria (recursos e rejeitos) e energia (insumos energéticos e rejeitos) de modo a maximizar a quantidade de bens e serviços que podemos obter a partir deles.
    Só a partir daí é que entram a eficiência energética, a eficiência material, a eficiência na cadeia de suprimentos, a desmaterialização (que tem limites, pois só é possível falar em valor econômico a partir do momento em que este é afixado a um substrato material e/ou energético - papel para notas, metal para moedas, eletricidade para manter os registros eletrônicos de créditos e débitos, etc, etc, etc.) e tudo o mais. Não antes. Nada de colocar tudo isso a serviço de um "crescimento econômico" quantitativo, que já de a muito que se tornou crescimento deseconômico.
    Isso por que de a muito que a desutilidade marginal da produção econômica - ou seja, todos os problemas sociais, ambientais e etcterais resultantes da produção da última unidade de PIB global - já supera pantagruelicamente sua utilidade marginal - os benefícios "econômicos" resultantes dessa última unidade. Resumindo: já estamos produzindo mais problemas que soluções, e crescer quantitativamente só fará piorar isso.
    A quantidade de poluição e devastação ambiental, social e humana necessárias para produzir mais dólares está custando mais caro que os bens e serviços "compráveis" com esses dólares.
    Bom, por hoje é só, pessoal.
    Daqui mais quinze dias (ou dezesseis ou dezessete, sei lá, desculpem...) eu faço uma revisão rápida do que vimos até aqui e passo mais dois ou três conceitos e pontos para discussão e meditação.
    Forte abraço!