20 de setembro de 2009

Música 1

Senhores, bom dia.

Como hoje vou enfrentar algumas horas ao som de Xuxa (mais conhecida pelos cinéfilos como Ursinha Macia), agora vou escrever um pouco sobre música.

Meu primeiro post deu um mapa resumido do meu gosto musical, hoje vou destrinchar um pouco do segmento Clássica Contemporânea falando de dois compositores favoritos.

Abrindo o post em ppp (pianissíssimo - extra-mega-suave beeem de levinho), Arvo Pärt. Compositor estoniano, grande parte de sua produção é de um gênero atualmente em risco de extinção, que é a música sacra, inspirado pela sua fé ortodoxa. Suas obras corais em Eslavônico Litúrgico (idioma arcaico usado na Igreja Ortodoxa do Leste Europeu do mesmo modo que nós católicos usamos o Latim) são primorosas.

Suas composições devem ser ouvidas em ambientes absolutamente silenciosos, e o ouvinte deve tomar cuidado para respirar baixo. Suas melodias são profundamente emotivas, mas sempre como que em aquarela: diluídas e delicadas. Uso extensivo dos recursos mais suaves da dinâmica musical como os ralentando, melodias em legato e acordes profundos e calculados para a produção de ressonâncias secundárias no piano.

Uso mais marcado das vozes graves em obras corais e dos registros agudos nas instrumentais. Nas instrumentais, atenção para a filosofia de composição "tintinabuli": os sons são delicados e etéreos como o tinir de pequenos sinos ou campainhas.

Um excelente exemplo de "tintinabuli" é a linha melódica em notas agudas de Spiegel im spiegel:

http://www.youtube.com/watch?v=QtFPdBUl7XQ

Já o uso de ressonâncias secundárias no piano aparece marcadamente em Für Alina, que tem uma dinâmica com acordes base em mf (mezzo forte) e f (forte) e o restante entre mp e mf, com uso extensivo de pedal. Isso faz com que diversas notas não tocadas surjam a partir de ressonâncias entre as notas da linha melódica e as notas dos acordes base tocados a cada troca de pedal. Confira:

http://www.youtube.com/watch?v=pQJGi9ZLpHE&feature=related

Continuando no minimalismo, do qual Pärt faz parte (nuss... que trocadalho...), passo a falar de Philip Glass. Bebendo de fontes realmente diversas, que incluem de clássicos modernos como Hindemith, Béla Bartók, Schoenberg e Shostakovich à música indiana clássica (vale a pena conferir o álbum Passages, fruto de seu intercâmbio com o mestre da cítara Ravi Shankar), criou e cria uma música absolutamente hipnótica.

Para os não iniciados, algumas obras são realmente herméticas e quiçá assustadoras, então recomendo para primeiras audições que se assista aos filmes da trilogia aberta com Koyaanisqatsi (capítulo a parte na minha lista de preferências, se eu escrever um post sobre cinema é citação certa). As sequências de imagens produzem o clima correto para se apreciar cada uma das faixas destas trilhas sonoras impecáveis.

Para os já aficcionados por música minimalista, recomendo Two Pages, Contrary Motion, Music in fifths e Music in Similar Motion, mais extensas e elaboradas. E para os fãs realmente hardcore, as pieces de resistance Music with changing parts e Music in Twelve Parts.

Principalmente para a última eu recomendo ouvir "de cara limpa" e reservar 4 horas para só ouvir essa música e não fazer mais lhofas da vida. Ouvir esse dilúvio de sutileza sob o efeito de alguma substância seria redundante, pois a música de per si já é extremamente lisérgica.

No momento estou ouvindo Music in Similar Motion junto com a família: Ni e Webister. Webister é um menino de 5 anos (completos hoje!) que merecerá um post a parte se tudo der certo. Mas voltando à programação musical, a idéia básica por trás da música de Glass é o trabalho de nuances. A parceria com Shankar em Passages é emblemática da filosofia composicional de Philip, baseada em variações sucessivas sobre estruturas repetitivas ao modo das variações tonais das ragas indianas. Só que Philip usa tanto variações tonais quanto variações rítmicas, harmônicas e de linha melódica.

Ao contrário de Pärt, o trabalho de Glass é cheio de som e de fúria, mas embora sejam músicas escritas por "loucos" (eu diria iluminados), ambos significam muito!

Resumindo: ouça e "chape o côco" de cara limpa. Viaja-se demais e não há efeitos colaterais.

Até a próxima, pessoal!

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