7 de agosto de 2011

Trabalho em equipe não é tudo isso.

Antes de mais nada, não custa recordar que eu tenho o meu tanto de sociopatia, então não espere um módico que seja de condescendência para com quem sobrevaloriza a capacidade de ser um bom subordinado.

Isto posto, já deixo à guisa de abstract o mote deste post: atualmente, no mais das vezes quem sabe obedecer não merece mandar.

Hoje em dia todo empregador ou recrutador quer por que quer ouvir de qualquer candidato a qualquer posto que fulano "sabe trabalhar em equipe". Como toda modinha corporativa e/ou de RH, isso quer dizer algo completamente distinto do que se poderia esperar a partir da linguagem do dia a dia.

Saber trabalhar em equipe deveria ser apenas uma expressão pomposa para designar o mínimo de empatia e de capacidade de comunicação necessários para se funcionar em sociedade. Em um mundo perfeito, perguntar se alguém possui este conjunto mínimo de habilidades sociais deveria ser tão anódino quanto aplicar um teste psicotécnico. Então, por que cargas d'água valorizam tanto essa "qualidade"? E o mais importante: por que isso me causa tão profundo asco a ponto de me motivar a escrever aqui no Águas?

Por que o que as pessoas esperam de alguém que "sabe trabalhar em equipe" é algo completamente distinto. Resumindo, é falta de espinha. Resumindo e falando chique, é subserviência burra.

Se você tem um mínimo de força de vontade, se recusa a bater palminha para maluco dançar, não sorri abjetamente ao ouvir uma ideia idiota, tem colhões para bater de chapa com o senso comum quando a razão te indica que ele está errado, não tem tempo para afagar o ego de quem está emperrando o caminho ou de qualquer outro modo dá preferência à tarefa bem cumprida e ao objetivo atingido quando isso precisa ser feito em detrimento do ego alheio, você "não sabe trabalhar em equipe".

Conquanto um empreendimento dificilmente funcione se todos forem líderes, é impossível levar algo adiante com uma equipe composta por 100% de subordinados. Por que hoje é isso que um "team-player" é: um SU-BOR-DI-NA-DO. Alguém que só obedece e nunca manda, alguém que sempre espera as determinações alheias e jamais toma a peito o determinar o rumo das próprias ações. E o pior de tudo, alguém que nunca, jamais, sob hipótese alguma, em momento algum, não importam as circunstâncias, faz algo por iniciativa própria por saber individualmente que esse algo deve ser feito.

Por que? Por quê isso é "individualismo", "ego inflado", "imaturidade", "irresponsabilidade" e o que mais os COVARDES, INCOMPETENTES e CALHORDAS dessa mil vezes maldita geração do politicamente correto puderem assacar contra quem ainda tem iniciativa individual (que eles aparentemente valorizam sob o rótulo de "proatividade") e amor ao bom senso e a um trabalho bem feito, inclusive em detrimento do ego alheio sempre que este se interpõe entre quem trabalha e a boa execução do trabalho.

Enfim, para merecer o nada honroso epíteto de bom team-player, o indivíduo deve ser uma ovelha lobotomizada. Muito embora esse tipo de pessoa até tenha sua função em alguns lugares e situações, isso não deveria ser uma qualidade, muito antes pelo contrário. Mesmo por que, entre outras coisas, isso é o oposto diametral do que se precisa ter para ser um líder, ou mesmo para desempenhar minimamente bem qualquer função que envolva tomada de decisões e ou comando.

Agora vamos para a cereja do sunday: se uma companhia ou departamento só tem bons team-players, ele(a) está desfalcado(a) de pessoas capazes de assumir postos de chefia e/ou se tornarem responsáveis diretas pela tomada de decisões. Oras, se você está sempre habituado a receber suas determinações de fora, como alguém pode esperar que você tome uma decisão qualquer de moto próprio?

Finalmente: não venham me dizer que eu estou errado por que o bom é tomar decisões por consenso. Toda decisão tomada por consenso recai no mínimo denominador comum.

Os antigos já diziam: "A força de uma corrente é a força de seu elo mais fraco". Por conseguinte, a qualidade de uma decisão tomada por consenso é a qualidade da capacidade decisória do indivíduo menos capacitado envolvido no processo. O que vale dizer que um único indivíduo um pouco menos competente que possa triscar uma unha em uma tomada de decisão já compromete o processo todo.

Boas decisões são aquelas tomadas individualmente, após consulta às fontes relevantes de informações e conhecimento. Saber ouvir é importante e consultar corretamente os envolvidos em um processo é essencial, mas a boa tomada de decisão, além de bem informada, é um evento/processo de caráter IN-DI-VI-DU-AL. Sem compromissos, sem hesitações, sem política. O tomador daquela decisão deve ser o único responsável por ela, que deve ser aquilo que a seu ver seja o melhor caminho para se obter o resultado desejado/necessário.

Soluções de consenso não são o melhor, elas são o que dá para acomodar junto a todo mundo. Dificilmente essas duas coisas coexistem.

Então, vamos embora parar de exigir que seja todo mundo bom team-player e começar a pelo menos respeitar quem ainda consegue honrar as calças que veste nesse mundinho politicamente correto e sem espinha de hoje, faz favor, obrigado?!?

22 de abril de 2011

Gulodice, esganação e falta de noção.

Olá, amiguinhos! Mais um post em 2011, quem sabe se eu não emplaco um a cada 3 mêses?

Pois bom, hoje quero comentar sobre alguns ramos do comércio que simplesmente não têm o mais mínimo limite em termos de avidez por lucros. Casos tão patológicos que chegam a ter o potencial de prejudicar seus praticantes por efeito rebote, caso a proporção de consumidores conscientes do fato atinja massa crítica.

Na verdade, trata-se de um único ramo geral de comércio, o dos produtos sazonais. Bacalhau em feriados católicos com abstinência de carne (como Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira da Paixão), Colomba Pascal e ovos de Páscoa à partir de um mês antes do Domingo de Páscoa, panetone/frutas cristalizadas/peru/etc em dezembro e champagnes/espumantes em dezembro são os casos que me vêm à mente agora.

Imagino que muitos de vocês leitores já devam ter reparado como esses produtos têm uma súbita alta de preço nas imediações de suas respectivas "temporadas". Se não, fica o convite a que vocês observem. Passem numa Cacau Show ou Kopenhagen da vida por essa semana agora, anotem o preço de um ou dois tipos de ovo em cada e confiram o preço dos mesmo produtos daqui a duas semanas. Ou, se vocês só estiverem lendo essa postagem depois da Semana Santa, que é o mais provável, façam esse experimento ano que vêm ou seu equivalente com panetones.

Aliás, fica a dica de experimento econômico para confirmar as dimensões da falta de noção do que estou comentando agora. Aproveitem que a Bauducco tem aqueles pontos de venda em estações de metrô e acompanhem a evolução do preço do panetone ao longo do ano ou, pelo menos, de outubro/novembro a fevereiro/março. A coisa é brutal: conforme a temporada da virada de ano se aproxima, a curva de preços dá uma guinada para cima de tirar o fôlego, se sustenta em um patamar estuporante ao longo das duas últimas semanas de dezembro e, em seguida, começa a descer, mais das vezes com direito a queimas de estoque de proporções dantescas.

Esta última parte é que aponta para a selvageria da coisa. Que um produtor aumente a oferta e os preços para lucrar durante uma temporada de vendas naturalmente mais altas, ok, faz parte de uma economia saudável que se aproveitem as oportunidades de lucro. Que os preços se normalizem ou até mesmo se façam pequenas promoções para desencalhar pequenos excedentes de estoque, idem. Mas tenho percebido que há algo de muito errado na escala em que esses fenômenos têm ocorrido por aqui, ao pensar à respeito do tamanho desses excedentes e do tanto que os preços DESPENCAM VERTIGINOSAMENTE durante os incêndios florestais de estoque logo após cada respectiva data-chave.

Aliás, entra ano e sai ano e estes produtores e comerciantes parecem não só não aprender a lição do ano anterior mas ainda ter entendido errado o que aconteceu, por que os excedentes só fazem crescer e as quedas de preço para desencalhe de sobra de estoque são cada vez mais assombrosas.

À princípio, algum leitor poderá dizer que o volume de vendas da temporada multiplicado pelo sobrepreço gera um lucro tal que compensa sobejamente os excedentes de estoque incinerados a cada ano. Mas aí é que entra o que escrevi no primeiro parágrafo de texto deste post: se a parcela de consumidores consciente dessa prática atingir massa crítica, o efeito rebote que se abaterá sobre as cabeças desprevenidas de quem vende cada um destes produtos será épico.

Qual de vocês leitores nunca ao menos ouviu falar de gente que "prefere deixar para comer/beber/comprar o produto X ou Y depois da data Z, por que sai bem mais em conta e dá para consumir bem mais daquilo por muito menos"? Deixar para comprar os presentes da família em janeiro (dica do tio Seu Zé Nando: dá até para retomar uma tradição mais católica e presentear as crianças no Dia de Reis), estocar o bacalhau salgado (100% desidratado e impregnado de sal, dura uma eternidade) em janeiro para poder comê-lo na Semana Santa, deixar para comer ovo de páscoa em maio (curiosamente, o preço do chocolate em barra e dos bombons quase não varia: comprem o chocolate das crianças nessas apresentações e deixem os ovos para maio) e panetone em fevereiro/março/abril, vocês já entenderam a ideia.

Quando a parcela de consumidores que adota esse comportamento ultrapassar um certo limiar, o somatório de vendas perdidas na temporada mais o de excedentes desovados resultará em prejuízo líquido, o qual certamente não será pouco.

Leitores, mãos e carteiras à obra! Chega dessa esganação, gente gulosa e sem noção tem mais é que ficar no prejuízo, mesmo, é o que eu sempre disse! Esse ano comprei chocolate em barras para o Webister e já deixei bem claro para ele que os ovos chegarão pelo menos uma semana depois do Domingo de Páscoa. Sigam o exemplo, sigam as dicas e vamos lá virar essa esganação do avesso contra esse bando de "joselitos": todo mundo aí deixando para adquirir/consumir produtos de estação nas épocas de suas respectivas queimas de estoque!

Só temos a ganhar. Enquanto não atingirmos massa crítica, continuaremos a consumir (muito) mais por (muito) menos. Quando atingirmos, os produtores e comerciantes ver-se-ão obrigados a parar de gulodice e manter seus preços dentro de patamares minimamente decentes mesmo nas próprias datas-chave. As possibilidades de que resolvam baixar a produção para forçar a alta de preços, contando com o fato de que cedo ou tarde VAMOS consumir, são muito baixas (eu diria quase nulas). Baixar produção representa prejuízos em qualquer cenário, ninguém gosta de reduzir ritmo de produção.

Resuminho da ópera: vamos deslocar o consumo dos produtos sazonais para depois do pico da temporada. Enquanto as coisas continuarem na mesma, lucramos com as promoções. Quando mudarem, os preços param de entrar no cio todo santo ano.

Agora que postei, volto ao trabalho: pesquisinha básica para meu departamento na POLI-USP, traduções, o de sempre. Até a próxima!

17 de março de 2011

Só para dizer que não esqueci do blog...

Mais de ano que não escrevo aqui, caramba!

Bom, fora o tanto de tempo que o Doutorado me toma, andei meio sem inspiração para escrever. Até falaria contra essa onda estúpida que está rolando por aí de neo-ateísmo, com os livros de figurelhas feito Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Daniel Denet e Sam Harris, mas já tem gente bem mais capacitada que eu refutando essas antas.

Ficam aqui as dicas de 4 excelentes blogs na área:

http://lucianoayan.com.br/ - é o pai da matéria, trabalha trucidando todas as manifestações da mentalidade revolucionária. Excelente argumentação, só peca um pouco por vezes ao adotar uma abordagem "voadora no peito", mas isso é até compreensível dado o nível de tosquice dos comentadores que tentam desafiá-lo na caixa de comentários.

http://quebrandoneoateismo.com.br/ - meio que um spin-off / complemento do primeiro, mais especializado no combate ao neo-ateísmo.

http://neoateismoportugues.blogspot.com/ - exemplos escolhidos à dedo do "melhor" do neo-ateísmo lusitano, dissecados para fins de estudo e refutação.

http://www.franciscorazzo.com.br/ - blog mais de filosofia, onde volta e meia são apresentados mais alguns argumentos e exemplos esclarecedores de que Fé e Razão NÃO se opõem.

Em termos de leituras, tenho mergulhado fundo em Filosofia, e encontrei um autor nacional totalmente polêmico pelo simples fato de ser conservador até à medula: Olavo de Carvalho. Tirando os fatos de ser ele tabagista inveterado, cético climático e favorável à astrologia (hei! Ninguém é perfeito!), poucos escrevem com tanto acerto e discernimento sobre políticas nacional e mundial e temas filosóficos em geral.

Outro autor que encontrei (por indicação de OC), igualmente nacional, é Mário Ferreira dos Santos. Este já é uma verdadeira ave-rara, no sentido mais pleno da expressão. Conciliando os pontos positivos de autores tão distintos quanto Pitágoras, Nietzche, Tomás de Aquino e Heidegger, dentre outros, criou uma obra tão vasta quanto única. Uma pena que os trabalhos de edição e revisão de seus textos tenham sido tão mal conduzidos até o momento, mas para quem tiver paciência para passar por cima disso e reconstruir os textos ao longo de cada leitura fica a dica de um marco na história da filosofia mundial: Filosofia Concreta. Sendo o ápice da construção de seu sistema filosófico próprio, pede, no mínimo, a leitura prévia dos títulos anteriores "Tratado de Simbólica", "Pitágoras e o tema do Número" e "Lógica e dialética - pentadialética, decadialética e dialética", leitura essa igualmente laboriosa.

De resto, cuidando da saúde como nunca. Tive uma bela perda de peso (de 119kg a 95kg em 4 meses e meio) em função de uma reeducação alimentar (por que regime é coisa temporária e destinada a falhar) intensa que me obrigou a me tornar bastante criativo na hora de preparar saladas, legumes, cereais variados e grelhados magros. A única parte que considero verdadeiramente chata é que sobremesa agora, para mim, é fruta ou fruta. E se eu não quiser, também pode ser fruta. Bom, vocês entenderam.

Ah, talvez ano que vem eu poste de novo. Até mais!