29 de junho de 2009

Cenas dos próximos capítulos:

Senhores, bom dia.

Esse micropost (para os meus padrões de prolixidade, é claro) é para adiantar a vocês a programação dos próximos posts.

A filosofia desta página será de alternar questões mais pesadas, indo desde liberdade de expressão para católicos até uma discussão semi-profissional sobre Economia Ecológica, com abobrinhas e perfumarias indo desde gastronomia (tema predominante para os primeiros posts "abobrinhentos") até dicas veterinárias para gateiros. Esta alternância se dará nas postagens principais, dos fins de semana. Os posts eventuais ao longo da semana tratarão sempre de burocracias e questões de relações públicas, a exemplo do de hoje.

Isto posto, fica a programação para os próximos 3 fins de semana:

4/5 de julho: postagem "abobrinhenta" sobre café, falando sobre meus gostos (olha o ego aí, gente!), curiosidades enciclopédicas e dicas de preparo, além de uma ou duas eventuais receitas com café;

11/12 de julho: postagem "carga pesada" sobre Economia Ecológica, tema ao qual planejo inicialmente dedicar 3 postagens pesadas. A personalidade agressiva da postagem está garantida pelo choque direto entre as conclusões deste campo mais recente da ciência econômica (fusão de Economia com Ciências Ambientais) e a nossa atual cultura de consumo; e

18/19 de julho: postagem coringa, com tema a definir. Por enquanto apenas a leitora Laivine se manifestou (via Skype: sizenandoalves@gmail.com). Mas se manifestou, e é isso que conta), então o tema desse fim de semana pode ser Homeopatia. Já adianto que, se for, serão dois temas pesados em seqüência, por que eu vou assestar minhas baterias contra os princípios-base desta impostura científica (recomendo a leitura de  "A impostura científica em dez lições", de Michel de Pracontal) e fazer fogo bonito.

As duas primeiras semanas já estão com seus posts em processo de elaboração (fermentando na minha cachola) e o coringa aguarda vossas sugestões.

Tenham um bom dia!

26 de junho de 2009

Liberdade de expressão

Senhores, boa madrugada.

Como informei no post anterior, agora publico aos sábados ou domingos (madrugada de sexta para sábado também serve).
O tema de hoje é de especial interesse para mim, por que me afeta diretamente. E acredito que é de interesse para todos os irmãos da ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana, mas na internet quem é do mundo gosta de nos identificar através da sigla, como se fossemos uma organização paramilitar ou sei lá eu o que). Antes, um esclarecimento. Não sou sacerdote. Sou um leigo, apenas e tão somente um fiel leigo. Mas como todo fiel, sou parte da Igreja, como irmão em Cristo e portanto parte do Corpo Místico de Cristo que é a Santa Madre Igreja.
Escrevo hoje sobre liberdade de expressão, e temo pelo dia em que sentirei a necessidade de escrever sobre liberdade de pensamento. Por que liberdade de expressão, em qualquer lugar e por mais que queiram dizer o contrário, é igual a onça pintada, sogra e software livre. Todo mundo é a favor, mas ninguém quer na própria casa. Sim, por que todo mundo é a favor da liberdade de expressão, até a hora em que o primeiro católico resolve abrir a boca ou clicar em "Responder"/"Postar"/"Publicar"/etc. Não é complexo de perseguição, são fatos. No momento em que a pessoa se declara cristã, metade do público já prepara as foices e as tochas. E assim que o infeliz se declara católico, então, o resto do público acende a fogueira e prepara o molho vinagrete. Se é na rede, já pega fama de troll e/ou é trollado, se é no mundo real, quem não tacha de beato falando na cara tacha pelas costas. E quem mais advoga pela liberdade de expressão é justamente o primeiro a amolar as facas e juntar a lenha, diga-se de passagem.
Exemplo típico: debates sobre células-tronco. Todo mundo pode falar o que bem entender, com ou sem embasamento científico, falando ou não em implicações éticas, sendo contra ou a favor da clonagem de seres humanos, favorável ou contrário à criação de quimeras/híbridos dos mais variados tipos, até o momento em que o primeiro católico abre a boca pra falar contra o uso de células-tronco embrionárias. Pode experimentar, não falha. A primeira reação sempre é de "Calem a boca deste obscurantista!". Ninguém pergunta, ninguém lê o resto da postagem ou permite que o indivíduo conclua sua argumentação em prol do uso de células-tronco adultas ou induzidas, nada. É de "Cala a boca, seu ignorante abjeto!" pra baixo. E o mais chato é que, embora os laboratórios farmacêuticos e os acadêmicos famintos por verbas de pesquisa neguem até a morte, todos os tratamentos efetivos desenvolvidos até hoje foram desenvolvidos a partir de células-tronco adultas, nunca a partir das embrionárias, que só Deus sabe como é que se manda que virem células do tecido certo pra cada ocasião (literalmente...).
Aliás, alguém aí de fora da ICAR sabe por que é que no Brasil o "prazo de validade" de embriões congelados é declarado como sendo de 3 anos? Por que na época da declaração era essa a idade média de uma fatiazinha bacana dos estoques, disponibilizando assim material a vontade para os primeiros estudos laboratoriais com verbas ($$$ é a palavra mágica, nesses assuntos), e por que era o máximo que se tinha noticiado à época, no Brasil, de idade de um embrião implantado que depois virou bebê. Só que lá fora as idades foram ajustadas para 8 anos, 10 anos e depois agasalharam de vez que não tem, por que há notícias e mais notícias na rede para quem googlear 13 year frozen embryo. Juro! Um embrião congelado por 13 aninhos foi implantado e a criança (se não me falha a memória britânica) tá feliz e saltitante por aí. Isso fora os casos de embriões de 8, 10 e 12 anos, mas vamos logo botar o pau da barraca em órbita. A verdade é que não tem esse prazo de validade, pessoal. Um embrião é vida até a hora em que alguém faz com que deixe de ser, não importa o quanto o mundo esperneie (e lá vem mais pedra do mundo, mas eu quero é mais).
E quando o infeliz resolve advogar pelos valores da temperança e da castidade, então? Aí é gente virando as costas e saindo, inclusive perdendo a amizade, no mundo real, e ameaça de kick/ban no mundo virtual. Aliás, não me espanto nada se meu blog for "denunciado" depois dessa postagem. Fora a sanha com que todo mundo passa a procurar uma brecha para tacar pedrada na pessoa. Não foi a toa que o Filho do Homem, no sermão das bem-aventuranças, deixou-nos esta mensagem tremenda: "Bem aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.".
Nada mais real, nada mais verdadeiro. A cada vez que um de nós ousa lembrar de que viemos para ser luz do mundo e sal da terra e tenta agir de acordo, as patadas e pedradas voam de todos os lados. Daí que eu digo que eu quero é mais. Por que vá falar alguém, hoje, em disciplina, a ver se não o tacham de retrógrado e metido a milico.  Vá falar alguém, hoje, em temperança, sem que lhe pespeguem epítetos tão desdourantes quanto santarrão, se não mais. Vá falar alguém hoje em castidade, a ver se não lhe atulham a caixa postal com preservativos, como já planejaram fazer a Sua Santidade, o Papa. Vá alguém postar um texto referente a qualquer destes valores em um fórum, a ver se não recebe no mínimo uma MP do administrador. Vá alguém escrever sobre isso em um blog, a ver se não lhe entopem a caixa de comentários com gentilezas do tipo "crente idiota", "virgenzinho estúpido" ou "hipócrita defensor de pedófilos". Enfins, a coisa mais gentil que alguém pode ouvir é algo do tipo "Nossa, como fulano ostenta essa tal dessa fé!".
Pois que seja, é meu dever "ostentá-la", por que "Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.". Então digam o que quiserem, por que aos olhos do mundo eu tenho é obrigação de "ostentar", mesmo. E que venham as pedradas, por que eu quero é mais!
Na sequência, a coisa mais óbvia é começarem com as mistificações do gênero "a igreja é uma força obscurantista que sempre lutou contra o progresso da ciência" e "os católicos são um baluarte do atraso, da truculência e da hipocrisia, como bem atesta A INQUISIÇÃO" ou ainda "é muito bonito falar tudo isso enquanto os padres comem criancinhas".
E dá-lhe o cidadão ter que se defender e defender à Igreja contra as mesmas acusações distorcidas, infundadas ou mal formuladas, vez após vez, principalmente por que para muitos dos que as lançam ao nosso rosto não importa o que respondemos, pois o fazem de forma retórica como guardiões das verdades históricas e da razão. O caso mais clássico é ouvir falar, vez após vez, que a Igreja quase queimou Galileu por causa de seus escritos científicos heliocêntricos. Primeiro: não foi por causa disso que Galileu foi chamado por um Tribunal do Santo Ofício, mas por uma questão de desobediência e de emissão de opiniões incorretas em questões de Doutrina.
O Papa Urbano VIII tinha aconselhado pessoalmente a Galileu (católico fervoroso, diga-se de passagem) que escrevesse seu "Diálogo sobre os dois grandes sistemas do mundo" como uma apresentação imparcial das hipóteses geocêntrica e heliocêntrica, para que a igreja tivesse tempo de apresentar aos fiéis uma argumentação filosófica e disciplinar (não dogmática, pois os dogmas são inalteráveis, nem doutrinária, por que não era o caso) adequada às conclusões astronômicas e sem prejuízos à compreensão das Escrituras por parte dos fiéis. Como os responsáveis pela avaliação do livro não tinham suficiente conhecimento astronômico para a empreitada de julgar esse material, como Galileu acabou por privilegiar totalmente o sistema heliocêntrico de forma parcial (ao contrário da recomendação papal, que era de apresentar inicialmente o heliocentrismo como um dispositivo matemático para melhor explicação dos fenômenos astronômicos) e como um dos personagens do livro de Galileu apresentou os argumentos geocêntricos de forma caricata e Urbano VIII se reconheceu na caricatura, acabou que o astrônomo foi convidado a dar explicações.
Outro clássico é se deparar com o conceito (pré-conceito, na verdade) de que a Igreja diz que sexo só se faz com fins de reprodução: mas você faz tudo o que a Igreja manda? Não faz sexo fora do casamento, não se masturba, não usa preservativo, não isso, não aquilo, não aquilo outro...? Nada mais falso, senhoras e senhores. O sexo em si mesmo não é mau, mau é o mau uso que se faz dele. Segue abaixo um texto que postei em um fórum do mundo, a respeito do assunto:
"O que acontece é que, ao contrário do que o mundo fala, sexo une as pessoas. Daí a importância de não se fazer fora de um relacionamento conjugal.Você certamente já deve ter ouvido falar de pelo menos um(a) amigo(a) que tenha um relacionamento horroroso com outra pessoa, da qual não consegue se desvencilhar por que "o sexo entre nós é incrível", não?

Vem disso, do fato de que o ato sexual é um momento de intimidade tão grande e tão absoluta que forçosamente deixa uma marca, um elo, entre as pessoas que o praticam. Por mais mínimo que seja, mas deixa. E o sexo foi feito assim justamente (entre outras coisas) por esse motivo, para que o casal que escolheu unir suas vidas tenha mais e mais motivos para permanecer mais e mais unido. Por que o sexo em si mesmo é bom, mau é o mau uso que se faz dele. De resto, assim como qualquer outra parte da criação, diga-se de passagem. Fazer sexo só por fazer sexo é tão incompleto e inadequado quanto comer por gulodice. Alguém que sai transando só pelo prazer é como um gordinho que se entope de chocolate só por que é gostoso. Da mesma forma, o sexo dentro de um casamento feliz é um momento abençoado de felicidade e completude, da mesma forma que uma refeição em família, em uma mesa cercada de parentes e amigos que conversam e riem felizes por estar contigo, é um momento de felicidade e união."

Simples, mas quem não crê, e principalmente quem não quer crer vai achar dificilímo de entender ou mesmo verdadeiramente insano/ininteligível. Em verdade, estreita é a porta e árduo o caminho para a salvação, e a sabedoria de Deus é loucura aos olhos dos homens! Mas antes que alguém venha me chamar de santo ou beato, já informo que cometi muitos erros ao longo da vida e os cometo até hoje. Sou humano, ora, pílulas! O que nos diferencia enquanto católicos é que nós nos sabemos peregrinos nesta terra e, apesar das constantes quedas, nos esforçamos para nos manter em pé e caminhando rumo à Jerusalém Celeste. Minha vontade ainda não se conformou totalmente à do Pai Eterno, mas sempre que eu me lembro eu peço que o Altíssimo torne meu coração mais conforme ao Seu. Justamente por isso, também, é que temos o sacramento da Reconciliação (a.k.a. Confissão e penitência).

Outra atitude, menos comum e mais "gentil", é uma espécie de condescendência intelectual, essa já mais característica dos ateus, muitos dos quais acham que somos "coitadinhos" necessitados de "esclarecimento". Já me perguntaram se eu corri de volta para a fé por causa de algum perrengue na vida. Como se a Fé fosse um escapismo, característico de pessoas fracas e incapazes de enfrentar a realidade de forma racional. Não, senhoras e senhores, não é escapismo compreender que há uma Causa Primeira para o Universo e que essa Causa Primeira é um Deus pessoal e que nos ama. Convido quem estiver disposto a uma senhora aventura intelectual a ler a Summa Theologica de Tomás de Aquino (aviso, está em inglês): http://www.newadvent.org/summa/. Vai levar um tempão, pois são 4 longos livros, eu mesmo ainda estou no começo. Mas realmente vale a pena para quem quer entender melhor como pensa a ICAR. Também recomendo, nesse sentido, o Catecismo da Igreja Católica (em português de Portugal, e ainda preciso ler inteiro e com calma - até agora só tinha lido o Compêndio, que é uma versão abreviada sob a forma de perguntas e respostas): http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html.

Também não posso esquecer dos relativistas espirituais, que acreditam que toda forma de religiosidade é positiva e nos acusam de "querer monopólio". Aí vai um debate individual com cada um, que não caberia aqui (o post já está gigante até na minha opinião). Mas cabe mais uma digressão, para aqueles que dizem que toda e qualquer religião institucionalizada é apenas um clubinho onde se reunem pessoas geográfica e/ou consangüineamente próximas. Para estes, deixo meu testemunho pessoal de único católico fervoroso da família e as conversões que presenciei tanto pessoalmente (no grupo de catequese para jovens e adultos de minha paróquia, que convenci minha esposa a freqüentar antes de nos casarmos na Igreja) quanto à distância (testemunhos e reportagens no periódico católico This Rock, da Catholic Answers - http://www.catholic.com/magazines/thisrock.asp), bem como a sugestão de pesquisar sobre movimentos missionários e congregações como a dos Vicentinos e a dos Jesuítas.

Finalmente, a velha história de falar de padres pedófilos como última barreira para nos mandar calar a boca. Cabe informar que, segundo me consta, um procedimento comum da Igreja é transferir os acusados de pedofilia para regiões distantes do local da acusação, com os seguintes objetivos:

1) Impedir que o sacerdote em questão possa interferir no rumo das investigações, seja por intimidação ou por qualquer outro meio;
2) Em caso de culpa real, cumprir o duplo propósito de livrar as vítimas da ação deste culpado e dar ao mesmo ocasião e tempo de fazer penitência em lugar mais retirado; e
3) Em caso de inocência, se necessário for para a segurança do acusado, livrá-lo das mãos de seus falsos acusadores.
Nada de acobertar culpados, não é mesmo? Mas quem é que diz que isso aparece na imprensa? As punições eclesiásticas não vêm a lume não por que não ocorram, mas por que não é do interesse da imprensa dizer que ocorreram. Desmentidos não vendem jornais e punição eclesiástica de padres é algo que só interessa à Igreja, não aos demais leitores, ouvintes e telespectadores. E tantas e tantas outras coisas que eu poderia escrever aqui, em um post gigante até para os meus próprios padrões. Mas acabei entrando em uma bela digressão e é melhor voltar ao ponto principal, que é: liberdade de expressão só existe enquanto você não ofende os ouvidos do mundo com a Palavra da Vida e com a sã doutrina da Fé.
Um último exemplo, com o qual encerro meu caso, é essa nova legislação "anti-homofóbica", que criminaliza toda e qualquer crítica pública ao "estilo de vida homossexual", como se os irmãos afligidos por atração pelo mesmo sexo fossem uma "minoria necessitada de defesa de seus direitos como cidadãos" e qualquer um que dissesse o contrário fosse um criminoso da pior espécie, da mesma laia de quem abusa de menores ou de quem espanca mulheres. Pois não são essa minoria a ser defendida, não. São pessoas que padecem de uma moléstia espiritual gravíssima e necessitam de preces e orientação. Quem quiser me apedrejar, fique a vontade, pois assim fizeram vossos pais aos profetas, que Ele enviou antes de enviar os santos apóstolos e de nos mandar a todos que evangelizemos.
Pois afastar-se do projeto original do Criador é a própria definição de pecado, que por sua vez é a verdadeira moléstia da alma, que adoece ao escolher um bem terreno aparente ao invés do Bem Supremo que é Deus, quando se afasta de Sua Vontade. E o projeto original do Criador para o sexo é que este seja vivido dentro do casamento. No entanto, vá alguém dizer isso sem ser chamado de "medieval", "homofóbico", "preconceituoso", "intolerante" ou coisa que o valha.
Aliás, o conceito de tolerância é outra história que renderia uma postagem inteira. Só deixo aqui o resumo da ópera: ame a pessoa humana do pecador, sim, mas não ame o pecado que ela comete. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Amor ao próximo, sim, "tolerância"/CONDESCENDÊNCIA para com as falhas do próximo, não.
Aqui fica mais um ponto: união civil para estes irmãos, sim. Afinal de contas, o Estado é laico. Mas casamento, NÃO. Casamento é o sacramento do matrimônio, então não tem conversa. Contrato de união civil pode ser celebrado até entre uma alface e uma lapiseira, mas Casamento é entre um homem e uma mulher católicos. Por que não orna querer "casar na igreja" sem ser católico. É o mesmo que querer fazer um Bar-Mitzva sem ser judeu, peregrinar para Meca sem ser muçulmano ou se banhar no Ganges para fins de purificação espiritual sem ser hinduísta.

E com essa última observação eu me retiro e aguardo os garfos de feno, as tochas e os urros da multidão enfurecida.

24 de junho de 2009

Adendo à postagem de hoje.

Pois é, postar com pressa dá nisso.

Primeiro, esqueci de dizer que chá não se adoça. Seja com mel, com açúcar (branco, mascavo, rapadura ou melaço, tanto faz) ou com adoçante. Chá se saboreia puro, ou acompanhado de doces (como os japonêses costumam fazer na cerimônia do chá).

Aliás, esqueci de mencionar o chá verde no estilo japonês (a granel, em pó e feito mais concentrado) e o genmai-chá (chá verde com arroz torrado), bem como os chás de gengibre (puro ou com especiarias - mas aí já vira quentão, né?) e de ginseng. Todos pedem, assim como o chá de jasmim, que se os tome com tempo para aproveitar totalmente a experiência. O genmai-chá é uma experiência gastronômica no mínimo curiosa, pois o sabor do arroz torrado produz um resultado final único.

O chá de ginseng, normalmente encontrado em envelopes individuais de papel alumínio composto com filme plástico, é mais usado no combate à fadiga, mas também tem um sabor bastante delicado e agradável.

Finalmente, preciso mencionar o uso do chá verde na culinária. Não apenas como sabor de bolos e sorvetes (vocês precisam experimentar isso vindo ao bairro paulistano da Liberdade), mas em um prato da culinária japonêsa pouquíssimo conhecido fora da colônia, que é um dos diversos tipos de chirashi-zushi. Chirashi-zushi é quando você prepara uma tigela de arroz puro (gohan) e cobre com tiras de peixe, ovas ou outro tipo de "recheio" usado em sushis. Neste tipo específico de chirashi, você completa o prato derramando chá verde quente sobre a tigela, o que coze o ingrediente que cobre o arroz e ainda empresta o delicado sabor do chá verde ao resultado final. Um dos tipos mais comuns é o de atum, chamado maguro-chá (maguro é atum, em japonês).

E agradeço à leitora Laivine pelas informações sobre chimarrão:
1) Amargo não se adoça;
2) Não quebre o sabor do amargo com a adição de erva cidreira ou outros artifícios similares (já vi gente colocando leite em pó junto com o mate, dá pra acreditar?);
3) Não deixe que o amargo esfrie; e
4) Não mexa a cuia até a erva desmoronar.
A água quente é jogada sobre a erva para que o sabor saia, não precisa ficar mexendo.

Em tempo, também preciso fazer um adendo ao post sobre música. Esqueci de mencionar o folk-rock.

Folk-rock é um gênero que se caracteriza pelo uso de letras folclórico-mitológicas e instrumentos típicos de uma ou mais culturas antigas. Suas melodias costumam ser ricamente elaboradas e suas letras se referem a lendas e mitos antigos, muitas em idiomas mortos ou pouco usados, como latim e diversas versões de gaélico. Seus ouvintes estão mais próximos do padrão dos ouvintes de rock progressivo do que dos de qualquer outra vertente, com a exceção de alguns Nova-Era perdidos no meio do grupo. Mais uma coisa: folk-metal não é metal propriamente dito, é folk com um ou dois elementos originalmente característicos do metal (normalmente trechos de instrumental torturado e/ou trechos de vocais guturais). E os ouvintes de folk-metal, embora muito mais próximos do padrão dos ouvintes de progressivo, às vezes podem ser afetados pelo messianismo característico dos metaleiros.

De vez em quando eu farei um ou outro adendo aos posts anteriores, conforme a memória e o tempo ajudarem e os leitores ajudarem.

Até o fim de semana!

Chá.

Senhores, bom dia.

Em primeiro lugar, algumas informações de ordem burocrática, que fiquei a dever no primeiro post. A frequência de postagem que planejei para essa nova empreitada é de uma por semana, a partir do próximo fim de semana, e os posts serão redigidos e postos no blog preferencialmente aos sábados, podendo ficar para o domingo em caso de contratempos.

Aos leitores, peço que comentem, para que eu possa ter uma idéia do tipo de maluco que meu texto conseguiu atrair e possa planejar a pauta de uma a cada 5 ou  6 postagens "em função do interesse público": o assunto será sugerido por um ou mais leitores, mas o ponto de vista será o deste pascácio que por hora vos digita.

Isto posto, vamos ao exibicionismo inútil do dia: chá. De saquinho, a granel, enlatado pronto ou em refrigerantes, definitivamente é minha bebida não-alcoólica favorita e, como todo pedante que se preze, gosto de acumular cultura inútil sobre as minhas preferências (jura? Nem parece...). Mas antes de escrever sobre o pouco que eu sei, um apelo aos fabricantes de bebidas prontas à base de chá: PAREM DE COLOCAR ÁCIDO CÍTRICO EM TUDO!!!!!

Falando sério, em bebidas à base de chá preto ainda dá para perdoar, por que é parte da tradição inglêsa servir alguns dos diversos "brews" de chá preto com gotas de limão para "temperar", enquanto outros são servidos com gotas de leite. Mas em bebidas à base de chá verde é desastre na certa. O chá verde e sua variante branca - colhida das pontas e brotos duas vezes ao ano - têm sabores extremamente próprios e suaves, absolutamente incompatíveis com a agressividade característica das frutas cítricas (principalmente do limão). Aqui em São Paulo é possível adquirir, em lojas de produtos orientais (na Praça da Liberdade há algumas fantásticas), chá verde pronto engarrafado de produção chinêsa, que não tem o maldito ácido cítrico na receita, e a diferença de sabor é algo simplesmente absurdo. Desde que tomei a primeira garrafa dessa marca, me recuso terminantemente a consumir os produtos da marca "Feel Good" e de outros produtores nacionais, que insistem em fazer bebidas de chá branco (ainda mais suave e delicado que o verde comum) COM LIMÃO. Pelo amor do milho, chá verde e chá branco não são cachaça pra fazer batida!

Protesto feito, vamos a um pequeno debate: em saquinhos ou a granel? Na verdade é mais uma questão de quanto você consome, tanto no curto (bule grande, bule pequeno, só uma xícara por vez?) quanto no longo (quantas xícaras por semana? ao mês? ao ano?) prazo. A granel é melhor para quem faz bules médios ou grandes a cada vez, e/ou toma grandes quantidades no longo prazo. A forma a granel perde princípios aromáticos muito mais rápido depois que a embalagem é aberta pela primeira vez, mas tem a conveniência de não se precisar lidar com 6 ou mais bolsinhas na hora de fazer um bule maior para mais gente, mais frio ou simplesmente maior consumo por vez. A melhor proporção costuma ser de uma colher de chá da planta por xícara e mais uma para o bule. Já as bolsinhas/saquinhos são mais práticas para xícaras individuais ou para quem toma pouco chá no longo prazo, preservando os aromas das plantas por mais tempo após a abertura da caixa.

Eu, particularmente, prefiro a granel em casa e em saquinhos quando estou fora. Tenho uma xícara na minha baia e algumas caixas de saquinhos, e pego água quente na cantina da faculdade (pesquisador na engenharia elétrica da POLI, quem é de lá conhece o Dentinho's).

Já em relação aos tipos de chás. Minha preferência, ultimamente, é pelo chá verde. Os chás pretos, tais como Orange Pekoe, Darjeeling e Earl Grey, têm níveis de cafeína muito elevados e meus neurônios precisam de uma pausa. Fora isso, ainda preciso fuçar na rede para descobrir se a Camelia sinensis tem propriedades digestivas quando não é fermentada, por que o tanto que eu consigo comer a mais após duas ou três xícaras de chá verde em relação ao tanto que eu consigo comer sem o chá é realmente impressionante. Para quem conhece, na Rua da Glória tem um "coma o quanto aguentar" de comida japonêsa que tem de um tudo, desde ostras frescas até rolinhos de ouriço do mar. Sem o chá verde (normalmente quando escolho sakê), saio de lá me sentindo empanzinado. Com o chá, como 150% do que comeria sem e nem sinto que comi muito.

Uma variedade de chá verde que merece atenção especial é a mistura do chá verde (totalmente isento de fermentação) com flores de jasmim. Gostaria de ter uma máquina do tempo só para poder cumprimentar e agradecer o chinês que descobriu que essa mistura funciona. Recomendo tomar puro, sem acompanhar com doces ou qualquer outra coisa, e com tempo para dedicar à experiência única que é degustá-lo. O chá verde com jasmim (ou simplesmente chá de jasmim) deve ser apreciado com calma e de forma contemplativa, para se perceber as nuances da mistura da Camelia sinensis com as pétalas de jasmim selecionadas.

Mas sempre apreciei muito o chá preto - conhecido pelos chineses como chá vermelho ou pu-ehr. Meu favorito nessa linha é o Orange Pekoe, de produção indiana (assim como o Darjeeling) e feito a partir de folhas selecionadas uma a uma, e consumido puro (pelo menos para o meu gosto, mas se algum britânico ler isso eu agradeço se me informar se seu complemento tradicional é leite ou limão). O Earl Grey já é mais um gosto adquirido, pois a mistura da erva fermentada com o óleo de mexerica (bergamota é mexerica em português de Portugal) resulta em algo totalmente peculiar.

O chá do tipo Oolong, um verde semi-fermentado que não chega a preto, é o rosê dos chás de Camelia sinensis (verdes, brancos, Oolong e vermelhos/pretos).

Mas não existe apenas a Camelia nessa história toda. Outra gigantesca família é a dos chás "de tempero" ou "medicinais": hortelã, manjericão, alecrim, maçã com canela, camomila, erva doce, anis e erva cidreira. Aquele cházinho que a vovó faz quando estamos mal, ou para ajudar a dormir. Meu preferido é o de erva cidreira ou capim-cidrão, que tem sabor de infância. O jardim da casa dos meus pais tinha uma touceira grande de capim-cidrão, da qual colhíamos, lavávamos e preparávamos um punhado tantas vezes quantas a touceira aguentasse sem começar a diminuir. De qualquer forma, a dica aqui é sempre que possível usar o ingrediente fresco, exceção feita ao anis ou anis-estrelado. E sempre que possível na forma a granel, para fazer grandes bules.

Ainda ficam mais duas categorias, a dos chás de frutas e a das "misturinhas". Chás de limão, maçã e groselha preta e coisas do tipo "Bom dia feliz", "Doces sonhos" e outras invencionices. Os de frutas são melhores em saquinhos, para acompanhar um lanchinho da tarde, e as misturebas são melhores não tomadas. Principalmente as da Oetker, fujam daquilo como o diabo da Cruz, que a receita base é sempre a mesma: flor de hibisco, botões de rosa, corantes e aromatizantes - BLEARGH!!!

Pior que misturinha, só a mania de colocar ácido cítrico nas bebidas prontas. Já há uma marca de refrigerante à base de chá verde no mercado, e eis que a infeliz é de chá verde COM LIMÃO. Gostaria sinceramente de saber por que cargas d'água toda a produção nacional de bebidas gaseificadas (exceção da Coca, que leva ácido ortofosfórico - obrigado pela informação, Desfavor!) e de bebidas prontas com chá entope as latas e garrafinhas com essa gereba. Os refrigerantes tem acidulante ácido cítrico e os chás são "com pêssego" ou "com limão". Saco!

E deixando o melhor para o final, nossa amiga, a erva-mate: Ilex paraguariensis. Torrada, faz o chá mate, que é ótimo no calor e, esse sim, é apropriado para se tomar com limão, com abacaxi ou misturado com absolutamente qualquer outra coisa, conforme demonstrado à exaustão por estabelecimentos como os da rede Rei do Mate. Crua, é o bom e velho chimarrão, a respeito do qual convido os leitores gaudérios a falar nos comentários. Nada melhor em um dia de frio, mas frio de verdade, que uma boa cuia de amargo partilhada com os amigos. Por que o chimarrão é um rito social, com algumas regras básicas.

Primeiro: chimarrão NÃO É quente demais. A temperatura é ideal para esterilizar a bomba, já que a bebida passa pela roda como um cachimbo da paz.

Segundo: não se mexe na bomba depois que a cuia foi "montada", senão a bomba entope (a menos que você use aquelas camisinhas de bomba).

Terceiro: a primeira cuia é de quem "monta", que deverá descartar o primeiro gole da primeira cuia, já que a concentração de cafeína desse primeiro gole pode equivaler a uma cuia inteira depois de algumas águas.

Quarto: cada um que bebe deve tomar toda a sua cuia, até "roncar". Ou seja, tome toda a bebida da cuia, até a bomba fazer barulho com a passagem de ar. Só aí é que se passa a cuia adiante para se adicionar nova dose de água quente.

Se não me engano tem mais duas ou três coisas, mas a memória me escapa. Novamente, fica aqui o pedido aos gaudérios que me socorram repassando as regras que tiverem faltado.

Até o fim de semana, pessoal!

23 de junho de 2009

Insônia

Senhores, boa madrugada.

São 4 da matina, e estou feito uma coruja, com os olhões abérrrtos (tentativa de sotaque caipira failed...).

Hoje em dia qualquer um pode ter um blog, então lá vamos nós tentar de novo. Afinal de contas, o melhor do Brasil é o brasileiro e a teimosia é a força de vontade dos chatos.

Mas vamos começar isso com um tema, a ver se dessa vez vai (pro vinagre, pro brejo, mas pra algum lugar vai). Vou falar sobre músicas (um bom bocado) e ouvintes (nem tanto), mas não esperem grandes ensaios antropológicos. Essa postagem será toda de orelhada.

Abrindo com o que eu gosto de ouvir (pode me chamar de narcisista, eu sou mesmo!):

1) Música celta: Enya, Clannad, The Chieftains, Altan, Anúna, Celtic Woman, etc. Ritmos contagiantes, letras que são pura poesia, melodias poderosas e/ou pungentes, e o som das diversas variedades de gaélico é realmente qualquer negócio.

2) Música japonesa: enka (gênero meio ocidentalizado mas ainda muito característico dela, vocais femininos fantásticos - desde que você não se preocupe com diabete, já que o nível glicêmico de muitas das músicas é quase inigualável), folk japonês (shamisen - "violão" de 3 cordas -, shakuhachi - flauta de bambú - e koto - híbrido de violão e harpa) e trilhas de animês, games e filmes (Joe Hisaishi é o cara!).

3) Música erudita: tudo, desde Barroca até Clássica Contemporânea. Googleiem Iannis Xenákis, Arvo Part, Eric Satie e Einojuhani Rautavaara, só para começar a brincadeira.

4) Jazz, soul e blues: muuuita música. Vou deixar alguns nomes: Eberhard Weber, Dave Brubeck, Ella Fitzgerald, Aretha Franklin, Thelonious Monk e Charles Mingus. Tem mais, mas não estou com vontade de fazer listas completas.

5) Samba de raiz: Beth Carvalho, Noel, Cartola, Pixinguinha e tantos outros mestres. Por que samba de verdade é uma coisa, essa porcaria que enfiam nas rádios é outra completamente diferente, ao contrário do que eu leio ou ouço em alguns lugares.

6) Sertaneja de raiz: Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, Renato Teixeira, Rolando Boldrin, Almir Sater, Jacó e Jacozinho, Inezita Barroso e mais tantos outros mestres. Novamente, sertaneja de verdade é uma coisa, sertanojo é outra. E Xitãozinho e Chororó não são músicos, são prostitutos. Se tem uma dupla de vendidos no cenário musical brasileiro, são eles. Peguem seus primeiros discos, com pérolas como a canção que dá nome à dupla e "A majestade, o sabiá", e esse lixo que eles fazem hoje, e me digam se não dá vontade de pegar os dois e dar-lhes uma surra de peixe morto!

7) Badi Assad: essa moça merece um verbete à parte, como de resto todo brasileiro que precisou ir para o exterior para poder fazer sucesso (gravadoras e rádios, vosso lugar no inferno está garantido!). Deixo o link para sua página oficial, a voz dela é uma seda e sua musicalidade transborda de uma forma indescritível a cada canção: http://www.badiassad.com/.

E já chega, que ainda tem chão e eu quero dizer mais coisas.

Análise do ouvinte: metido a culto, exibido e esquizofrênico. Ou seja, eu.

Agora vamos à descida de lenha gratuita e entupida de generalizações, que era o verdadeiro propósito dessa postagem quando eu tinha começado. Quero encher o saco de meio mundo e agradar apenas quem for tão "seboso" quanto eu. Spoiler: muito achismo e muitas generalizações estúpidas (pleonasmo? talvez...).

Axé: ritmo enjoado, letras obtusas e emburrecedoras, filosofia de vida medíocre (sexismos ao luar, pornografia e apologia à imbecilidade), coreografias obscenas e muito jabaculê para as rádios (tomem nota: quanto só toca na base do jabá, boa coisa não pode ser). Prova matemática de que só toca com jabá: sintonizem vossos rádios agora no inverno e percebam como tem bem menos axé que de costume no ar. Esse "ritmo" pertence à categoria "músicas de calor"/"músicas de verão", que empesteia as ondas do rádio com mais força por volta do Carnaval, categoria essa que só existe graças ao mau e ancestral jabaculê. Seus ouvintes costumam ser pessoas rasas ou pouco afeitas ao raciocínio lógico, com gostos pouco ou nada refinados e faltos de cultura musical (ou de qualquer outra espécie). Quem ouve axé não ouve música erudita. O mesmo diagnóstico e quase a mesma descrição caem como uma luva para o "funk carioca".

Pagode: letras medíocres, melodias pobres, ritmos primários, harmonia zero e muito jabá. Quem ouve e diz que é samba definitivamente não entende Fanta-uva de música. Aliás, cabe aqui um esclarecimento: o nome pagode não pertence, originalmente, a essa degeneração do samba que as grandes gravadoras empurram goela abaixo de nossa pobre patuléia ensandecida. Pagode, originalmente, era um ritmo sertanejo conhecido como pagode de viola ou pagode caipira. Fica um link para quem quiser se aprofundar: http://www.revistaviolacaipira.com.br/link09-18.htm. Os ouvintes do pagodinho de plástico (essa excrecência derivada - mal e porcamente, diga-se de passagem - do samba, onde um canta com voz anasalada e 8 fazem dancinha tosca atrás do "vocalista") são ainda mais obtusos e barbáricos que os ouvintes de "música de calor" (axé e "funk carioca").

Rock: aí a coisa complica. Existem algumas variedades de rock, e cada uma é um gênero musical completamente distinto. Vou mencionar algumas famílias, mas a lista completa pediria um post só para isso.

Vamos começar com os diversos tipos de metal: É TUDO A MESMA COISA. Se metal, então tudo igual. Hmmm... Quase tudo, por que tem os metais melódico e progressivo, que fazem parte da família do rock progressivo, e não da família heavy-metal. Mas tirando esses membros da família do progressivo, todo metal tem vocais guturais, letras questionáveis e mais "atitude" que musicalidade. Seus ouvintes são fanáticos da pior espécie e acham que são a última Coca-Cola gelada no meio do deserto.

Rock progressivo e krautrock: letras psicodélicas ou ausentes (muita música instrumental pura nessa família), melodias intrigantes, harmonias incomuns e capacidade de remeter a estados alterados de consciência. Grupos e artistas como Tangerine Dream, Emerson-Lake-and-Palmer e Rick Wakemann, entre outros. Seus ouvintes podem tanto ser metidos a cult quanto altamente intelectualizados, pouco ou nada afeitos ao mainstream e a opiniões convencionais. O tipo de gente que gosta de visitar a FNAC e a Livraria Cultura como programas de fim de semana. Ainda preciso dizer que me amarro nesse som?

Pop-rock: aí o bicho pega. Esse rótulo é tão elástico quanto MPB e ainda mais problemático. Abrange desde "boy-bands" (lixo! lixo! lixo!, queima eles, Jesus!!!) até compositores-cantores como Laura Pausini (diva! adoro! fantástica! casa comigo, mulher!!!). Seus ouvintes podem incluir absolutamente qualquer tipo de gente, dada a elasticidade do rótulo. A mesma análise vale para MPB, ipsis literis.

Saindo do rock, vamos para alguns outros tipos que eu ouço (haja ego...). Como já falei dos tipos de música, vou me restringir aos tipos de ouvinte. Seguirei a mesma ordem da lista.

1) Bichos-grilos, pessoal da Nova Era e místicos em geral se amarram em música céltica. Esse tipo de gente é que faz com que todos os artistas do gênero sejam automaticamente classificados como New-age, para desgosto de quem ama boa música e não é xarope. Os demais ouvintes tem sensibilidade musical apurada e gosto por ritmos energéticos (ou uma vontade de aparecer fantastólica).

2) Pessoal da colônia, otakus, pedantes ou thrill-seekers. As diversas sonoridades da produção musical nipônica são muito características, pedindo ouvidos "educados". Muitas dessas sonoridades são "gostos adquiridos" (tal como o gosto por vinho, por exemplo) e pedem um certo esforço da parte do ouvinte iniciante.

3) Old-schoolers, idosos, pedantes, alguns thrill-seekers (ouvintes de clássicos contemporâneos tais como Stockhausen e Iannis Xenákis) ou gente realmente culta. Novamente, muitas sonoridades dentro das diversas correntes do gênero pedem graus variados de esforço (e às vezes até de algum tanto de disciplina) da parte do ouvinte não iniciado.

4) Desde easy-listeners (jazzinho no estilo bossa-novesco) até thrill-seekers (Charles Mingus e Thelonious Monk compuseram verdadeiras montanhas-russas musicais). Quase a mesma análise dos ouvintes de erudita.

5) Old-schoolers e saudosistas em geral. Somos (pãtz... alguém alfinete meu ego para que ele desinche um pouco, por favor, obrigado!) poucos e estamos em extinção.

6) Idem acima.

7) Precisa de explicação para gostar da música que essa fada faz???

Ah, esqueci de mencionar os músicos-comediantes. Outro grupo tão variado quanto os tipos de rock. Menciono alguns: Juca Chaves, Língua de Trapo, Premeditando Breque e Rogério Skylab. Todos gênios, cada qual à sua maneira, mas todos de um lirismo inigualável, desde a poesia fina e sofisticada de Juca Chaves até o deboche niilista e torturado de Skylab.

E agora vou voltar pra cama, antes que a patroa resolva triturar meu micro. Bom dia, cambada!