24 de junho de 2009

Chá.

Senhores, bom dia.

Em primeiro lugar, algumas informações de ordem burocrática, que fiquei a dever no primeiro post. A frequência de postagem que planejei para essa nova empreitada é de uma por semana, a partir do próximo fim de semana, e os posts serão redigidos e postos no blog preferencialmente aos sábados, podendo ficar para o domingo em caso de contratempos.

Aos leitores, peço que comentem, para que eu possa ter uma idéia do tipo de maluco que meu texto conseguiu atrair e possa planejar a pauta de uma a cada 5 ou  6 postagens "em função do interesse público": o assunto será sugerido por um ou mais leitores, mas o ponto de vista será o deste pascácio que por hora vos digita.

Isto posto, vamos ao exibicionismo inútil do dia: chá. De saquinho, a granel, enlatado pronto ou em refrigerantes, definitivamente é minha bebida não-alcoólica favorita e, como todo pedante que se preze, gosto de acumular cultura inútil sobre as minhas preferências (jura? Nem parece...). Mas antes de escrever sobre o pouco que eu sei, um apelo aos fabricantes de bebidas prontas à base de chá: PAREM DE COLOCAR ÁCIDO CÍTRICO EM TUDO!!!!!

Falando sério, em bebidas à base de chá preto ainda dá para perdoar, por que é parte da tradição inglêsa servir alguns dos diversos "brews" de chá preto com gotas de limão para "temperar", enquanto outros são servidos com gotas de leite. Mas em bebidas à base de chá verde é desastre na certa. O chá verde e sua variante branca - colhida das pontas e brotos duas vezes ao ano - têm sabores extremamente próprios e suaves, absolutamente incompatíveis com a agressividade característica das frutas cítricas (principalmente do limão). Aqui em São Paulo é possível adquirir, em lojas de produtos orientais (na Praça da Liberdade há algumas fantásticas), chá verde pronto engarrafado de produção chinêsa, que não tem o maldito ácido cítrico na receita, e a diferença de sabor é algo simplesmente absurdo. Desde que tomei a primeira garrafa dessa marca, me recuso terminantemente a consumir os produtos da marca "Feel Good" e de outros produtores nacionais, que insistem em fazer bebidas de chá branco (ainda mais suave e delicado que o verde comum) COM LIMÃO. Pelo amor do milho, chá verde e chá branco não são cachaça pra fazer batida!

Protesto feito, vamos a um pequeno debate: em saquinhos ou a granel? Na verdade é mais uma questão de quanto você consome, tanto no curto (bule grande, bule pequeno, só uma xícara por vez?) quanto no longo (quantas xícaras por semana? ao mês? ao ano?) prazo. A granel é melhor para quem faz bules médios ou grandes a cada vez, e/ou toma grandes quantidades no longo prazo. A forma a granel perde princípios aromáticos muito mais rápido depois que a embalagem é aberta pela primeira vez, mas tem a conveniência de não se precisar lidar com 6 ou mais bolsinhas na hora de fazer um bule maior para mais gente, mais frio ou simplesmente maior consumo por vez. A melhor proporção costuma ser de uma colher de chá da planta por xícara e mais uma para o bule. Já as bolsinhas/saquinhos são mais práticas para xícaras individuais ou para quem toma pouco chá no longo prazo, preservando os aromas das plantas por mais tempo após a abertura da caixa.

Eu, particularmente, prefiro a granel em casa e em saquinhos quando estou fora. Tenho uma xícara na minha baia e algumas caixas de saquinhos, e pego água quente na cantina da faculdade (pesquisador na engenharia elétrica da POLI, quem é de lá conhece o Dentinho's).

Já em relação aos tipos de chás. Minha preferência, ultimamente, é pelo chá verde. Os chás pretos, tais como Orange Pekoe, Darjeeling e Earl Grey, têm níveis de cafeína muito elevados e meus neurônios precisam de uma pausa. Fora isso, ainda preciso fuçar na rede para descobrir se a Camelia sinensis tem propriedades digestivas quando não é fermentada, por que o tanto que eu consigo comer a mais após duas ou três xícaras de chá verde em relação ao tanto que eu consigo comer sem o chá é realmente impressionante. Para quem conhece, na Rua da Glória tem um "coma o quanto aguentar" de comida japonêsa que tem de um tudo, desde ostras frescas até rolinhos de ouriço do mar. Sem o chá verde (normalmente quando escolho sakê), saio de lá me sentindo empanzinado. Com o chá, como 150% do que comeria sem e nem sinto que comi muito.

Uma variedade de chá verde que merece atenção especial é a mistura do chá verde (totalmente isento de fermentação) com flores de jasmim. Gostaria de ter uma máquina do tempo só para poder cumprimentar e agradecer o chinês que descobriu que essa mistura funciona. Recomendo tomar puro, sem acompanhar com doces ou qualquer outra coisa, e com tempo para dedicar à experiência única que é degustá-lo. O chá verde com jasmim (ou simplesmente chá de jasmim) deve ser apreciado com calma e de forma contemplativa, para se perceber as nuances da mistura da Camelia sinensis com as pétalas de jasmim selecionadas.

Mas sempre apreciei muito o chá preto - conhecido pelos chineses como chá vermelho ou pu-ehr. Meu favorito nessa linha é o Orange Pekoe, de produção indiana (assim como o Darjeeling) e feito a partir de folhas selecionadas uma a uma, e consumido puro (pelo menos para o meu gosto, mas se algum britânico ler isso eu agradeço se me informar se seu complemento tradicional é leite ou limão). O Earl Grey já é mais um gosto adquirido, pois a mistura da erva fermentada com o óleo de mexerica (bergamota é mexerica em português de Portugal) resulta em algo totalmente peculiar.

O chá do tipo Oolong, um verde semi-fermentado que não chega a preto, é o rosê dos chás de Camelia sinensis (verdes, brancos, Oolong e vermelhos/pretos).

Mas não existe apenas a Camelia nessa história toda. Outra gigantesca família é a dos chás "de tempero" ou "medicinais": hortelã, manjericão, alecrim, maçã com canela, camomila, erva doce, anis e erva cidreira. Aquele cházinho que a vovó faz quando estamos mal, ou para ajudar a dormir. Meu preferido é o de erva cidreira ou capim-cidrão, que tem sabor de infância. O jardim da casa dos meus pais tinha uma touceira grande de capim-cidrão, da qual colhíamos, lavávamos e preparávamos um punhado tantas vezes quantas a touceira aguentasse sem começar a diminuir. De qualquer forma, a dica aqui é sempre que possível usar o ingrediente fresco, exceção feita ao anis ou anis-estrelado. E sempre que possível na forma a granel, para fazer grandes bules.

Ainda ficam mais duas categorias, a dos chás de frutas e a das "misturinhas". Chás de limão, maçã e groselha preta e coisas do tipo "Bom dia feliz", "Doces sonhos" e outras invencionices. Os de frutas são melhores em saquinhos, para acompanhar um lanchinho da tarde, e as misturebas são melhores não tomadas. Principalmente as da Oetker, fujam daquilo como o diabo da Cruz, que a receita base é sempre a mesma: flor de hibisco, botões de rosa, corantes e aromatizantes - BLEARGH!!!

Pior que misturinha, só a mania de colocar ácido cítrico nas bebidas prontas. Já há uma marca de refrigerante à base de chá verde no mercado, e eis que a infeliz é de chá verde COM LIMÃO. Gostaria sinceramente de saber por que cargas d'água toda a produção nacional de bebidas gaseificadas (exceção da Coca, que leva ácido ortofosfórico - obrigado pela informação, Desfavor!) e de bebidas prontas com chá entope as latas e garrafinhas com essa gereba. Os refrigerantes tem acidulante ácido cítrico e os chás são "com pêssego" ou "com limão". Saco!

E deixando o melhor para o final, nossa amiga, a erva-mate: Ilex paraguariensis. Torrada, faz o chá mate, que é ótimo no calor e, esse sim, é apropriado para se tomar com limão, com abacaxi ou misturado com absolutamente qualquer outra coisa, conforme demonstrado à exaustão por estabelecimentos como os da rede Rei do Mate. Crua, é o bom e velho chimarrão, a respeito do qual convido os leitores gaudérios a falar nos comentários. Nada melhor em um dia de frio, mas frio de verdade, que uma boa cuia de amargo partilhada com os amigos. Por que o chimarrão é um rito social, com algumas regras básicas.

Primeiro: chimarrão NÃO É quente demais. A temperatura é ideal para esterilizar a bomba, já que a bebida passa pela roda como um cachimbo da paz.

Segundo: não se mexe na bomba depois que a cuia foi "montada", senão a bomba entope (a menos que você use aquelas camisinhas de bomba).

Terceiro: a primeira cuia é de quem "monta", que deverá descartar o primeiro gole da primeira cuia, já que a concentração de cafeína desse primeiro gole pode equivaler a uma cuia inteira depois de algumas águas.

Quarto: cada um que bebe deve tomar toda a sua cuia, até "roncar". Ou seja, tome toda a bebida da cuia, até a bomba fazer barulho com a passagem de ar. Só aí é que se passa a cuia adiante para se adicionar nova dose de água quente.

Se não me engano tem mais duas ou três coisas, mas a memória me escapa. Novamente, fica aqui o pedido aos gaudérios que me socorram repassando as regras que tiverem faltado.

Até o fim de semana, pessoal!

Um comentário:

Anônimo disse...

Regras de chimarrão?

NÃO tem açúcar.
NÃO tem ervinha cidreira.
NÃO deixe esfriar.
NÃO fique sacudindo até a erva desmoronar.

Fora o mencionado antes, é basicamente isso.

Hmmm.. me deu uma vontade de tomar um chimas agora. ^-^

Chá... chá? Não sou uma grande apreciadora de chás, gosto de chá gelado de frutas, tipo maçã e limão... Os de ervinhas quente, tenho o paladar pouco aguçado pra esse tipo de coisa, to mandando qualquer coisa com mato dentro (se quiser me trollar com canábis, vai em frente, vitima fácil falando) menos o de anis que é enjoado demais. x)