28 de julho de 2009

Mais um aviso aos navegantes.

Senhores, boa noite.

Só para avisar que NÃO encurtarei NEM facilitarei meus textos para agradar leitores com baixa alfabetização funcional.

Quer textos curtos e simples, compre "Júlia" ou "Sabrina" na banca de jornal.

Até a próxima!

27 de julho de 2009

Economia Ecológica 2: o tripé do DS.

Observação em 11/04/2014

Atenção, novos leitores: esta postagem será mantida apenas para fins de registro histórico, pois como alguém que gostaria de se tornar um bom cristão algum dia eu finalmente me manquei de que DEUS PROVERÁ e, portanto, essa estorinha de Ecologia é só um nome fofo para satanismo (não confiar no amor de Deus foi o que fez Lúcifer cair).

Senhores, desculpem o atraso.
No post anterior sobre oikonomia, apresentei os seguintes conceitos iniciais:

  • Oikonomia X Crematística
  • Mundo vazio
  • Mundo cheio; e
  • Teoria dos Cinco Capitais (natural/físico, humano, social, manufaturado e financeiro).

  • Antes de encerrar, convidei-os a fazer uma pequena "lição de casa", recordando termodinâmica básica (1ª e 2ª leis) e procurando se informar do significado das palavras ENTROPIA e EXERGIA.
    Para quem não a fez, segue um par de definições rápidas:

  • Entropia: medida do grau de "desordem" de um sistema, tende sempre a aumentar. Quanto maior a entropia de um sistema, menor a exergia disponível.
  • Exergia: capacidade que a energia possui de realizar trabalho útil. Embora a energia seja "indestrutível e eterna" (Lavoisier), a exergia se esvai em proporção direta à geração de entropia de um dado processo. Pode-se dizer que a exergia é o "combustível" que move o Universo.

  • Da segunda lei da termodinâmica, temos que a geração de entropia em um processo é sempre positiva (processos termodinamicamente irreversíveis, ou seja, processos do mundo real) ou nula (processos termodinamicamente reversíveis, ou seja, abstrações físicas onde o atrito é nulo e outras coisinhas lindas que só existem em problemas de física na escola). Com isso, o gasto (ou falando com mais propriedade a DESTRUIÇÃO) de exergia em um processo é igualmente sempre positiva (mundo real) ou nula (nos livros).
    Quando toda a exergia do universo for exaurida, este sofrerá o que alguns físicos chamam de "morte térmica", transformado em uma sopa disforme e homogênea de poeira cósmica e calor de baixa temperatura.
    Agora para algo completamente diferente: lembram que eu disse que o nosso ecossistema global, que inclui todos os recursos naturais/físicos da Terra, é finito? Lá nas figurinhas de mundo vazio e de mundo cheio. Tá lá, Ecossistema Global FINITO. Por que cargas d'água a palavra FINITO, e por quê eu a friso insistentemente aqui? Só por que, ao contrário de Julian Simon, Bjorn Lomborg e outros menos cotados, eu sou um neo-malthusiano e, portanto, sei que os recursos provenientes de nosso lindo planeta azul que estão à disposição da humanidade são finitos. Ou seja, a quantidade deles pode até ser estuporantemente gigantesca, mas "dá para contar". Qualquer que seja o recurso: solo arável fértil disponível, água potável, oxigênio atmosférico, cobre, ferro, silício, manganês, chumbo, molibdênio, zinco, cana de açúcar, ovelhas, you name it.
    Alguns desses recursos são renováveis, desde que se respeite a velocidade natural de reposição, outros estão fadados a esgotar-se caso usados até o fim. Adivinhe em qual destas categorias está nossa amiga exergia.
    Ganhou um pirulito do tio e uma estrelinha no caderno quem respondeu AMBAS. Agora vem o mais divertido, a explicação de "Como assim, ambas?!?". Acontece que, embora o planeta conte com um estoque finito de fontes de exergia, tais como petróleo, gás natural, carvão, xisto betuminoso, areias betuminosas, urânio, plutônio e tório, também temos acesso a um suprimento contínuo de exergia proveniente do Sol (luz solar - diretamente ou indiretamente via fotossíntese -, ventos, ondas, gradientes de temperatura e salinidade dos oceanos, etc.) e da interação gravitacional entre a Terra e a Lua (marés).
    Muito que bem, então se acabarmos com os combustíveis fósseis e físseis, desde que sobrevivamos ao efeito estufa adicional resultante de consumirmos TODAS as nossas reservas de combustíveis fósseis ao invés de largarmos mão deles antes, sempre teremos as fontes renováveis? Então por que é que os ecochatos fazem tanto barulho?
    Bom, primeiro por que não vai dar para segurar a onda de todo esse aquecimento global se produzirmos todo esse fumacê. Segundo (e aqui é que a coisa fica divertida), por que embora os suprimentos de exergia solar e lunar sejam razoavelmente constantes e permanentes para os próximos dois bilhões de anos pouco mais ou menos, eles se dão a uma razão constante. Isso significa que, ou a economia global dá os seus pulinhos e aprende a se virar só com esse tanto de exergia para consumir por unidade de tempo, ou a coisa desanda.
    O problema é que, em função da disponibilidade histórica dos combustíveis fósseis e físseis, a economia global está atualmente viciada em funcionar consumindo uma quantidade tal de exergia por unidade de tempo que, para o atual estado da arte das tecnologias energéticas, corre um sério risco de ser inviável quando finalmente não tivermos outra opção que não suprir essas necessidades exergéticas a partir dos suprimentos solar e lunar.
    A figura abaixo ajuda a entender do que é que eu estou falando no parágrafo acima:

    O "estoque terrestre" é o somatório dos estoques terrestres de combustíveis fósseis e físseis. Ao "estoque solar" (toda a energia proveniente do Sol que atingirá a Terra ao longo da história do planeta) somemos a energia gravitacional das marés e teremos o fluxo de energia disponível para nós na ausência do "estoque terrestre" por unidade de tempo.
    Como na verdade hoje o "fluxo solar" é menor que o "fluxo terrestre" (taxa de consumo dos combustíveis fósseis e físseis por unidade de tempo na economia global), ou revertemos esse vício por consumos energéticos exagerados ou na hora que o "estoque terrestre" acabar a coisa desanda. Isso se não desandar antes por conta do aquecimento global.
    E agora, senhoras e senhores, começa o post propriamente dito, que isso tudo foi só introdução. O que é mais engraçado é que talvez a introdução venha a ser mais extensa que o post.
    A partir dos conceitos apresentados na introdução (entropia, exergia, ecossistema global FINITO e "ampulheta entrópica"), dá para ver que ou a gente tira o pé do acelerador, pisa no freio com as quatro patas E puxa o freio de mão até o talo, ou a espécie humana caminhará alegremente de rodinhas ladeira abaixo rumo ao precipício.
    Agora, qual a alternativa?
    A alternativa é o que nós "oikonomistas" (economistas ecológicos) chamamos de Desenvolvimento Sustentável.
    Pela definição mais tradicional, Desenvolvimento Sustentável é "aquele em que nós atendemos a todas as necessidades das gerações presentes permitindo que as geraçõas futuras também possam satisfazer todas as suas necessidades" (Relatório da Comissão Brundtland de Desenvolvimento e Meio Ambiente - Nações Unidas, 1987). Ou seja, um desenvolvimento que segue a sabedoria dos antigos, segundo a qual "Sabendo usar não vai faltar".
    Por que não dá para manter um padrão de atividade econômica mundial que consome em um ano os recursos ecológicos equivalentes à produção e reposição anuais de 1.3 planetas Terra (http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/).
    Pois muito que bem, não basta dizer o quê fazer, precisa dizer como. E os próximos parágrafos tratarão disso.
    O Desenvolvimento Sustentável, como seria de se esperar, pede por um modelo de economia ESTÁVEL (steady-state economy), em que não há crescimento quantitativo, mas apenas e tão somente desenvolvimento qualitativo. A maioria dos pesquisadores nessa área, inclusive, acreditam ser necessária uma primeira fase de redução quantitativa (1.3 é maior que 1, né?).
    Os CREMATISTAS (aqueles que se dizem "economistas") dizem que uma steady-state economy (economia em regime "estacionário" ou "estável") é uma utopia ou um pesadelo. Bom, pesadelo e utopia, para mim, é achar que crescimento exponencial cabe em um sistema finito, mas cada um com sua tara. Mas tirando esses tarados, que contam com representantes do quilate de Julian Simon e Bjorn Lomborg (pra ver como são sérios e científicos... ...kkkkkkkkkkkkkk...), qualquer um que entenda de matemática em nível primário ou ginasial percebe que a conta não fecha com 1 planeta para morar e 1.3 planetas de consumo.
    De forma bem resumida, uma economia sustentável (aquela que se adequa aos parâmetros de funcionamento de um desenvolvimento sustentável) deve apresentar 3 características:
    1. Escala compatível;
    2. Eqüitatividade; e
    3. Eficiência alocativa.
    Como ninguém nasceu sabendo, expliquemos cada um destes 3 requisitos.
    O primeiro é relativo ao "tamanho" do subsistema econômico, em comparação com o ecossistema global finito. Uma economia sustentável deve manter seus fluxos de matéria e energia em escalas compatíveis com a capacidade global de fornecimento de serviços ecológicos, de modo a "caber" em um planeta Terra ou menos.
    O segundo é mais difícil de por na cabeça, por que implica em se importar com os outros. Significa distribuir os fluxos de matéria e energia de uma forma que respeite as necessidades de todos os seres humanos vivos (eqüidade intra-generacional), de todas as gerações presentes e futuras (eqüidade inter-generacional) e de todas as formas de vida (eqüidade inter-espécies).
    É de suma importância, nesse segundo ponto, perceber que não se trata de "vermelhismos ao luar" (por favor, leiam "Capitalism as if the world matters") ou de "abraçação de árvore". A eqüidade intra-generacional é até uma questão de segurança, pois quem tem comida na mesa e um teto sobre a cabeça não sente tanta vontade assim de se explodir em nome de Alah, por exemplo. A inter-generacional é a própria definição de sustentabilidade, é permitir que nossos descendentes recebam uma Terra pelo menos tão inteira quanto a gente encontrou ao chegar. E a inter-espécies é uma precaução, por que nós NUNCA sabemos qual é a espécie de inseto ou de alga que vai ferrar com toda enorme teia alimentar que sustenta a humanidade se nós fizermos o desfavor de extingüi-la.
    Por que é verdade. Você nunca sabe qual é a alga da qual se alimenta o krill, que alimenta toda a cadeia marinha do Ártico, cujos peixes, por sua vez, sustentam uma porrada de outras espécies vivas. No fim das contas, extingüir a alga errada pode acabar com toda a produção marinha de alimentos. Do mesmo modo, extingüir o inseto errado pode acabar com a polinização de dezenas de culturas agrícolas. Se você não acredita no direito das outras espécies vivas de existirem felizes e em paz nesse mundo, pelo menos se manque que todas elas são necessárias para você poder estar aqui.
    A propósito, sabia que a Amazônia não é o pulmão do mundo? Ela é o ar-condicionado da América do Sul e talvez até do planeta todo, mas não o pulmão. Ar condicionado da América do Sul, por que TODO o nosso regime de chuvas na parte mais continental e menos marítima do território depende em maior ou menor grau do transporte de vapor d'água por evapotranspiração das árvores da floresta. Ou seja: desmate a Amazônia acima de um certo limite e o Centro-Oeste seca de uma forma saariana, por exemplo. Engraçado que muito canalha que desacredita os diversos movimentos ambientalistas está investindo justamente em cenários desse tipo (um caso é a Monsanto desenvolvendo sementes à prova de sêca).
    E o golpe de misericórdia. Sabem quem é o pulmão do mundo? Ganha mais um pirulito do tio e uma estrelinha no caderno quem respondeu O FITOPLÂNCTON OCEÂNICO. É isso mesmo que vocês leram, quem produz todo o oxigênio que respiramos, via excesso de fotossíntese em relação à própria respiração, são as micro algas do oceano.
    Finalmente, expliquemos a eficiência alocativa. Uma vez que se tenha determinado o tamanho correto da economia (Ciências Ambientais + Oikonomia) e distribuído de forma correta e justa os fluxos de matéria e energia através de nosso sistema econômico e do ecossistema global finito, só então é que se trabalhará no sentido de distribuir esses fluxos de matéria (recursos e rejeitos) e energia (insumos energéticos e rejeitos) de modo a maximizar a quantidade de bens e serviços que podemos obter a partir deles.
    Só a partir daí é que entram a eficiência energética, a eficiência material, a eficiência na cadeia de suprimentos, a desmaterialização (que tem limites, pois só é possível falar em valor econômico a partir do momento em que este é afixado a um substrato material e/ou energético - papel para notas, metal para moedas, eletricidade para manter os registros eletrônicos de créditos e débitos, etc, etc, etc.) e tudo o mais. Não antes. Nada de colocar tudo isso a serviço de um "crescimento econômico" quantitativo, que já de a muito que se tornou crescimento deseconômico.
    Isso por que de a muito que a desutilidade marginal da produção econômica - ou seja, todos os problemas sociais, ambientais e etcterais resultantes da produção da última unidade de PIB global - já supera pantagruelicamente sua utilidade marginal - os benefícios "econômicos" resultantes dessa última unidade. Resumindo: já estamos produzindo mais problemas que soluções, e crescer quantitativamente só fará piorar isso.
    A quantidade de poluição e devastação ambiental, social e humana necessárias para produzir mais dólares está custando mais caro que os bens e serviços "compráveis" com esses dólares.
    Bom, por hoje é só, pessoal.
    Daqui mais quinze dias (ou dezesseis ou dezessete, sei lá, desculpem...) eu faço uma revisão rápida do que vimos até aqui e passo mais dois ou três conceitos e pontos para discussão e meditação.
    Forte abraço!

    19 de julho de 2009

    A propósito

    Tenho Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=mp&uid=13665763151994088919

    E Twitter: http://twitter.com/sizenandoalves

    Usarei ambos para informar sobre novos posts.

    Como cuidar de um resGATINHO

    Senhores, bom dia.

    O post de hoje é para aqueles que, a exemplo deste tantã que vos escreve, pega gatos de rua para criar, "arribar" e encaminhar para adoção junto a outros gateiros que tenham espaço em seus lares para mais alguns filhotes felinos mas não tenham a disposição necessária para fazer o serviço de PS e emergência.

    Vamos falar de despulgamento, vermifugação, alimentação de filhotes muito novos (fórmula neonatal felina), brinquedinhos, padrões de comportamento de filhotes novos, aclimatação à casa e mais uma penca de coisas.

    Por que quando a gente pega um gatinho na rua, ele certamente vem com pulgas e quase que certamente está com alguma dor de barriga. Então o primeiro passo é a dupla dinâmica despulgamento e vermifugação.

    Primeiro pelo mais importante, que é o que NÃO fazer. Não se despulga um gato com coleira ou talco anti-pulgas. Esses métodos só podem ser usados em cães, pois o pulguicida contido nestas formulações é tóxico para os felinos.

    Gatos a gente despulga com solução líquida de pulguicida. Adultos são despulgados com soluções líquidas comercializadas em doses individuais (pipetas plásticas em forma de guitarra elétrica): você aplica uma pipeta dessas na nuca de cada gato. Filhotes são despulgados com soluções líquidas comercializadas sob a forma de spray, para que se aplique doses menores, mais adequadas ao tamanho do resGATINHO: abra o frasco e aplique a solução com um algodão embebido, pois o barulho do acionamento do spray estressa excessivamente o animal.

    E não use despulgantes por via oral, o efeito deles é temporário e de curtíssima duração. Só devem ser empregados em caso de infestação extremamente grave, como primeira medida de combate, a ser seguida pelo tratamento padrão descrito acima.

    Quanto à vermifugação, a única opção é o uso de vermífugos sob a forma de comprimidos. As formulações mais comuns são usadas à razão de 1/4 de comprimido por kilograma de peso do animal, mas é bom consultar a bula. Segure o animal com firmeza e introduza o comprimido (ou fração) no fundo da garganta do gato em um único movimento, depois segure sua boca fechada e massageie suavemente a garganta para facilitar o engolimento. O movimento deve ser firme porém suave. De preferência, da primeira vez leve seu gato para ser vermifugado pelo veterinário e preste atenção no modo como o profissional administra o comprimido ao seu bichano.

    Depois dessa primeira limpeza, é hora de atentar para o restante da condição geral do seu novo hóspede: pelos, limpeza das orelhas, limpeza dos olhos e peso do animal.

    Pelo: puxe beeem de leve em diversos pontos ao longo de todo o corpo do gato (não é para arrancar, é só para dar uma esticadinha de leve na pele). Se sair pelos em algum dos pontos, verifique se a cor na base do pelo é distinta da cor do resto. Em caso positivo,  pode ser sinal de fungos na pele de onde saíram.

    Limpeza das orelhas: verifique se há excesso de cerume. Em caso positivo, este pré-diagnóstico se dá em duas etapas: limpe bem todo o cerume que puder e reexamine no dia seguinte. Caso o excesso de cerume retorne já por ocasião desse reexame, há possibilidade de infestação por sarna otodécica (sarna de ouvido) e/ou fungos.

    Limpeza de olhos e nariz: a presença de uma quantidade excessiva de secreções nos olhos e de qualquer secreção no nariz podem indicar rinotraqueíte (gripe felina) ou clamídia (uma infecção bacteriana realmente chatinha). Limpe cuidadosamente com algodão umedecido em soro fisiológico e, em caso de resGATO filhote, recheque os olhos no dia seguinte, já que um excesso aparente de secreção nesta parte do rosto pode ter sido apenas o resultado de uma mãe inexperiente que não limpava as remelinhas do filhote com freqüência e cuidado o bastante.

    Peso (condição de subnutrição): basta observar se o animal parece muito magro, com costelas e coluna aparentes. A subnutrição é facilmente revertida com a oferta de alimentos de boa qualidade, em particular de pastas supercalóricas (pet-shops e veterinários podem indicar as melhores para seu novo amiguinho), a menos que se trate de um filhote muito novo (1 mês ou menos). Filhotes muito novos precisam ser "amamentados" com solução substituta de leite caseiro, que pode ser preparada em casa conforme a receita abaixo:

    . 1 copo de leite integral (de caixinha) 
    . 1 copo de água (fervida, filtrada ou mineral) 
    . 2 colheres de sopa de farinha láctea 
    . 1 gema de ovo cozida e amassada com o garfo (sem a clara, claras fazem mal para o bebê gatinho) 
    . 1 colher de chá de mel 
    Misture tudo, bata no liquidificador e coloque numa vasilha de vidro lacrada. Guarde na geladeira e na hora de alimentar o bebê gatinho retire só a quantidade necessária. Esta receita serve para até 3 dias. Depois disso precisa fazer uma nova.
    (receita obtida em http://www.sosgatinhos.com.br/drkitz/mcookdica.htm) 

    As demais condições devem ser tratadas por médico veterinário. As dicas acima são apenas para um primeiro pré-diagnóstico.

    Mais uma coisa: não dê leite integral puro ou laticínios a um gato, felinos em geral costumam ser intolerantes a lactose e o leite de vaca puro lhes provoca uma solene disenteria.

    Quanto a acostumar o bichano com a nova casa, os cenários variam conforme a idade do seu resGATO e a quantidade de gatos que já moravam lá antes dele chegar.

    Nossos amigos felinos são animais territorialistas, e a chegada de um "intruso" à comunidade local sempre é recebida a patadas em um primeiro momento. Cabe a nós, humanos da casa, conciliarmos os antigos com os novos. Antes de mais nada, não devemos soltar um resgato novo sem assistência no meio dos veteranos. Tanto por que estes vão cair em cima daqueles quanto para fins de quarentena. Por que a gente não sabe se algum resgato pode estar doente e transmitir alguma porcaria para os "da casa".

    Durante os primeiros dias, a menos que algum dos exames explicados acima tenha dado indicações de que é preciso levar seu amiguinho ao veterinário, deixe o resgato isolado em um comodo da casa de tamanho médio com porta trancável. Nesse período, ponha pedaços de pano (mini mantinhas, pedaços de cobertor, mini lençóis) na caminha provisória do resgato e nos locais de dormir dos veteranos, e vá trocando os panos entre um e outros. Isso fará com que se acostumem com o cheiro uns dos outros e diminua o potencial de conflitos.

    Após a quarentena, introduza os resgatos ao convívio dos veteranos um por vez, sempre na sua presença, e com petiscos para gatos à mão para dar a cada veterano enquanto você lhe faz uma preleção sobre os deveres de hospitalidade que ele, como seu "filho" mais velho, tem em relação a cada recém chegado. Estou falando sério, converse com seus gatos. Eles te entendem em 100%, e só não respondem de forma inteligível por que o aparelho fonador do Felis catus não lhe permite articular os sons dos idiomas humanos. Mesmo assim, os gateiros mais experientes conseguem compreender pelo menos parcialmente o conjunto de miados e linguagem corporal de seus "filhotes" mais antigos e a conversa é quaaase de mão dupla.

    Falando em filhotes, o convívio com os menorzinhos exige uma paciência extra. Este parágrafo é para os gateiros convictos, que partilham o leito com seus "filhotes" e dorme "de bolinho" com a gataiada toda. Os gateiros de mentirinha que trancam seus gatos em outra parte da casa na hora de dormir podem pular essa parte. Gatos são animais noturnos, e os filhotes costumam, mesmo sozinhos, brincar a noite toda. Prepare-se a cada vez para dormir no seguinte ciclo: dorme 2 horas, brinca-brinca-brinca 20 minutos, dorme 2 horas, brinca-brinca-brinca 20 minutos, dorme duas horas, etc. até a hora oficial de acordar. Por que você VAI brincar-brincar-brincar com o filhote: ser gateiro não é opção, é vocação.

    Para aqueles que acreditam em "disciplinar" gatos, um aviso: eles não são como os cães, que convivem conosco na vertical (nós mandando e eles obedecendo). Gatos convivem com você na horizontal, como iguais. Então essas dicas de "disciplina" servem única e exclusivamente para lidar com gatos do tipo Joselito (raríssimos, por sinal): aqueles que quebram vasos, fazem "fúúú" de graça pra tudo, enfim, os que realmente "não sabem brincar". A dica é a seguinte: compre um borrifador desses de jardim e mantenha-o carregado com água. Cada vez que seu gato for pego "no flagra" fazendo alguma cachorrice, borrife-o uma ou duas vezes. Acerte no corpo para bobagens médias e no rosto para joselitices-master.

    Atenção: não é para borrifar um gato por que ele está brincando à noite ou arranhando móveis. Um gato é um gato, se você não for gateiro tenha peixes ou passarinhos. O borrifo é para danos à propriedade que impliquem em risco para o animal (vasos de plantas e objetos de vidro, por exemplo) e para comportamentos socialmente inaceitáveis como roubar comida do prato. Roubar comida do prato pode parecer fofinho, mas desregula o tubo digestivo do animal e o expõe a alimentos tóxicos: gatos não podem ingerir cebola ou alho sob hipótese alguma, estes alimentos induzem anemia por hemólise (rompimento dos glóbulos vermelhos do sangue). Gatos também não podem ingerir chocolate (teobromina, para eles é como uma overdose de café) e já mencionamos antes sua intolerância à lactose.

    Quanto a arranhar móveis, as dicas mais simples são: disponibilizar arranhadores e marcar os móveis com odores cítricos. Gatos odeiam cheiros cítricos, então duas gotinhas de óleo essencial de limão devem afastá-los do seu sofá favorito ou da poltrona que era herança da vovó. Outro meio de afastar seus amiguinhos de peças tããão importantes assim de sua mobília é envolver a base dos móveis em papel alumínio (não sei por que, mas os gatos não curtem mexer em papel alumínio). Quanto aos arranhadores, tenha sempre pelo menos dois: um horizontal e um vertical. Cada gato gosta de arranhar de um jeito, e quem gosta de um tipo de arranhador não está nem aí pro outro.

    Agora, os brinquedinhos para distrair seus fofuchos enquanto você não puder lhes dar atenção direta. Os mais simples costumam ser os melhores, como novelos de lã e bolinhas de papel. Mas se você quer sofisticar a diversão, compre bolinhas de pingue-pongue com penas, que estão disponíveis na grande maioria das pet-shops. Além disso, a dica óbvia: tenha gatos aos pares, eles brincam entre si quando a gente não está lá para lhes dar atenção e vivem muito mais felizes.

    Dica extra: se seus gatos tiverem cerca de uns 8 meses de idade ou mais, você também pode lhes oferecer catnip. Também conhecida como erva dos gatos, gatária ou erva-gato, essa planta possui em suas folhas um óleo essencial rico em nepetalactona. Essa substância, inofensiva para os humanos, põe a parte do sistema olfativo responsável pela detecção de feromônios "em curto" e faz com que o animal "viaje" da forma mais maconhosa possível e imaginável. O gato fica literalmente babando na gravata e vendo Papai Noel por coisa de uns quinze minutos (não tente interagir com ele nessa hora, apenas assista o espetáculo e garanta que ninguém o perturbe durante o "barato"), depois ele sai tranquilão como se não tivesse acontecido chongas. Como os receptores olfativos dele estão saturados, a planta só fará efeito novamente após coisa de umas duas horas. Não faz mal algum ao gato (exceto à sua dignidade felina, por que eles ficam realmente hilários quando estão pirando com catnip), relaxa-o maravilhosamente e não tem qualquer efeito colateral. Pãtz, pensando bem eu tenho inveja deles: podem se "drogar" e não lhes acontece lhofas... Hmpft!

    Vacinas: sim, por que não é lá muito legal dar para adoção um adolescente ou adulto sem o primeiro protocolo de vacinação completo. Os gatos devem tomar as vacinas anti-rábica (AR) e V4 (quádrupla felina, protege contra panleucopenia, clamídia, rinotraqueíte e calicivirose). O protocolo antigo era de 3 doses de V4 e duas de AR, mas alguns veterinários advogam protocolos mais curtos, com uma dose a menos da V4 e ou da AR. A V4 deve ser aplicada a partir dos 2 meses de idade e a AR a partir dos 3, sendo que as doses do protocolo de cada vacina devem ser dadas mensalmente: 2 meses = 1 V4, 3 meses = 1 V4 + 1 AR e 4 meses = 1 V4 + 1 AR, para o protocolo antigo.

    Se você recolher um gato adolescente ou adulto e for prepará-lo para enviar para adoção por outro gateiro, também é de praxe mandar o animal já castrado. A castração também é obrigatória para todos os gatos que forem integrados à família. Um gato ou gata castrado vive o dobro do que vive um animal "inteiro" e as fêmeas castradas tem uma chance absurdamente menor de desenvolver câncer de mama. Além disso, os machos castrados não marcam território com urina.

    Outra dica importante é sobre alimentação. A melhor coisa que você pode fazer por seus gatos é alimentá-los com água fresca e ração de qualidade. A água deve ser oferecida em abundância e estar sempre disponível, para diminuir as chances de cálculos renais e outros problemas no trato urinário. A ração deve ser de preferência premium ou super-premium, pois as rações de supermercado (conhecidas no meio gateiro como "rações de combate") são pobres em nutrientes e mal formuladas. As nobres exceções dentre as "de combate" são a Cat-Chow (Purina) e a Sabor e Vida (Guabi). Só compre rações de supermercado em caso de problemas financeiros, superpopulação felina no lar ou para ajudar na alimentação de focos de gatos de rua, pois é por isso que as chamamos "de combate": só as compramos "em situação de guerra".

    E NUNCA, NUNCA, NUNCA dê a qualquer gato a maldita da Whiskas. Essa bomba é garantia de problemas renais já no médio prazo. Os fabricantes dessa solene porcaria andaram dizendo que mudaram a formulação do produto e "blá-blá-blá-Whiskas-sachê", mas não acredite. Gato nenhum merece ter que aturar essa trolha. Dê ração de combate, dê Cat Meal, dê "ração Garfield", dê comida caseira, mas não dê Whiskas.

    Para encerrar, a questão do banheiro. Tudo o que você precisa fazer é oferecer as caixas de "areia" (granulado sanitário) em local adequado, à razão de uma caixa para cada dois gatos. Tire os torrões e "charutinhos" diariamente, repondo um pouco do granulado, e troque todo o granulado a cada duas semanas. Os melhores granulados são os de sílica e os de argila branca. Os de argila marrom formam uma lama nojenta se você se distrai e deixa passar um dia sem manutenção. Eu costumo preparar as bacias novas a cada duas semanas forrando o fundo da bacia com sílica em pedrinhas (em pó espalha pela casa toda, muito chato) e cobrindo com argila branca, e faço as reposições diárias com argila branca (a sílica dura bem mais e custa caro que dói). Para educar um gato novo, basta recolher a primeira sujeira dele e colocar em cima de uma caixa de granulado sanitário disponibilizada no cômodo da "quarentena". Aliás, a grande maioria só precisa ter a caixa de granulado disponível que já faz tudo no lugar certo logo de saída.

    Só para reforçar: tudo o que está escrito aqui é por experiência própria no trato com gatos ao longo de alguns anos, mas eu sou leigo. SEMPRE consulte um profissional médico veterinário de sua confiança.

    Bom dia, e bons resGATOS!

    13 de julho de 2009

    Completando o aviso de ontem

    Aos que notaram a ausência de assuntos religiosos na programação apresentada ontem, explico: estou lendo o Catecismo completo da Igreja Católica, para não emitir opiniões que estejam em desacordo com a sã doutrina da fé.

    Quando concluir essa leitura, passarei a incluir postagens sobre dogmas católicos e sua repercussão na vida de um fiel que verdadeiramente se proponha a viver em conformidade com as leis da Santa Madre Igreja. Acredito que esses posts incluirão surpresas até mesmo para quem se acredita um bom católico, pois estudarei o Catecismo com mais afinco nas partes que me autorizarem a apontar como inadequadas ou até mesmo errôneas algumas demonstrações "equivocadas" de religiosidade, tais como a impressão dos famosos milheiros de "santinhos" como "pagamento" por graças alcançadas, como se o Altíssimo fosse um enorme "caixa automático divino", onde o fiel põe um cartão-promessa, digita a senha "novena poderosa não sei das quantas" e saca uma graça.

    Aproveitando que eu pedi orientação ao meu padre confessor em relação a essa questão específica, já informo a vocês, leitores: essa manifestação equivocada de religiosidade é mais que inadequada, ela é ERRADA, mesmo. Não se barganha com o Pai Eterno. A verdadeira prece é um diálogo com Deus, através da qual nos dispomos a conformar nossas vidas com a Sua Vontade.

    Mas o detalhamento desse ponto, um eventual estudo (rápido, não dá para tuchar um estudo de antropologia e história da religiosidade humana em uma postagem de um blog) de como esse tipo de "devoção" evoluiu na cultura religiosa brasileira e a completa demonstração de como, por quê e quanto isso é ERRADO até o último santinho de Sto. Expedito, eu deixo para depois que eu concluir minha primeira leitura completa do Catecismo.

    Paz e bem!

    12 de julho de 2009

    Aviso aos navegantes: correção de rota

    Senhores, boa tarde.

    Dada a falta de sugestões, comunico-vos o adiamento indefinido da primeira postagem com tema coringa.

    O post do próximo fim de semana versará sobre medicina veterinária ultra-mega-básica para felinos útil tanto para quem está com seu primeiro gatinho em casa e não sabe o que fazer quanto para quem quer se aventurar a diminuir a quantidade de gatos abandonados na rua pondo-os para dentro de casa.

    Falarei sobre despulgamento, vermifugação, aclimatação do bichano na casa, caixa de areia, ração, brinquedos, vacinas e mais o que eu lembrar na hora.

    Os demais posts seguirão sua programação normal: Economia Ecológica 2; Literatura 1 (Thomas Hardy e mais alguns que eu escolher na hora, resenhando pelo menos uma meia dúzia de livros, com direito a uma porrada de spoilers); Economia Ecológica 3; Literatura 2 (Catcher in the rye de J. D. Salinger, On the road do Kerouac e mais alguns, resenhando pelo menos mais meia dúzia); "Por que não assistir novela" (muita coisa de orelhada, mas vocês verão que tudo faz sentido); Literatura 3 ou Música 1 (aí vai depender da minha memória ou da minha vontade na hora, essa fica em suspenso); e "A homeopatia é uma fraude" (escreverei esse post "com meu fígado", como costumam dizer meus orientadores acadêmicos).

    Até mais, macacada!

    11 de julho de 2009

    Economia Ecológica 1: Oikonomia X Crematística

    Observação em 11/04/2014

    Atenção, novos leitores: esta postagem será mantida apenas para fins de registro histórico, pois como alguém que gostaria de se tornar um bom cristão algum dia eu finalmente me manquei de que DEUS PROVERÁ e, portanto, essa estorinha de Ecologia é só um nome fofo para satanismo (não confiar no amor de Deus foi o que fez Lúcifer cair).

    Senhores, boa madrugada.

    Antes de mais nada, vamos esclarecer um detalhinho logo de saída: o que se denomina atualmente “ciência econômica” ou “economia” é apenas um pedacinho da verdadeira Economia, denominado CREMATÍSTICA, que é o ramo da Economia dedicado ao estudo da arte de produzir e acumular dinheiro e seus meios de produção.

    Economia propriamente dita, do grego Oikonomia ou “ciência/arte de cuidar da nossa casa” envolve, por princípio, todos os ramos do conhecimento hoje reunidos sob o rótulo de Ciências Ambientais. Por que os gregos sabiam das coisas, e a Oikonomia cuida por questão de princípio de toda a nossa “casa” (óikos = casa; nomos = administração), que é nosso bom e velho planeta Terra. Afinal de contas, não dá para produzir moedas se não houver ouro para minerar ou construir navios mercantes se não houver árvores que derrubar, certo?

    Pois foi isso que os atuais “economistas” (continuarei a tratá-los pelo título de sua escolha, por que crematista é um palavrão, e os economistas de verdade serão aqui chamados oikonomistas) esqueceram ao longo do tempo. Graças a esse esquecimento, os atuais economistas enxergam o processo econômico como um ciclo fechado, em conformidade com a figura abaixo (emprestada de http://www.ulbra-to.br/DownloadArquivo.aspx?idArquivo=5bebfbd5-5eb9-465a-a616-1d8708801ba2):


    Estaria tudo muito bem nesse modelo, se nos serviços produtivos se incluíssem aqueles prestados pelo ecossistema, tais como fornecimento de minérios e solo fértil, purificação das águas, da atmosfera e dos solos, regulação climática, polinização de culturas agrícolas e tantos outros. O problema todo é que os economistas passaram a definir capital apenas como sendo capital financeiro (dinheiro e crédito) e manufaturado (maquinário e congêneres).

    Com isso, branquinho sai por aí dizendo que os capitais manufaturado/financeiro (dinheiro, maquinário, etc.) e natural (recursos naturais em geral) são perfeitamente intercambiáveis/substituíveis, ou seja, se faltar recurso natural, basta enfiar mais máquinas e dinheiro na conta que eles acreditam que dá tudo certo. É sério, se você perguntar para um economista clássico se existe o problema da escassez de recursos naturais, ou ele ri na tua cara (sendo que ele é quem é demente, por rir) ou ele te dá uma preleção fantastólica dizendo que na falta de um recurso natural a inventividade humana dá conta de criar uma nova máquina, processo produtivo ou outra mumunha qualquer que resolve o “seu suposto problema de escassez de recurso natural”. Por que, para ele, o ecossistema é apenas mais uma parte da economia, de onde você pode retirar recursos e onde você pode descartar seus rejeitos, enquanto que a "economia" cresce em volta e fora dele tanto quanto você quiser, conforme o diagrama abaixo:

    Mas aí você me pergunta: “De onde é que veio uma idéia de jumento desse calibre? Os caras comeram cocô quando eram criancinhas ou o trote na faculdade de economia é tão escroto que transforma o cérebro da turma em polenguinho?” Pois eu mato o paradigma velho e mostro o novo.

    Quando começaram os primeiros estudos quantitativos sérios de economia, na época em que Adam Smith escrevia sua História da Riqueza das Nações e Davi Ricardo escrevia seus estudos sobre funções de produção (lá pros idos da Primeira Revolução Industrial, máquinas a vapor e todas essas coisinhas), havia uma abundância aparentemente inesgotável de bens do tipo capital natural (recursos do ecossistema e capacidade terrestre de provimento de serviços ecológicos e reciclagem de rejeitos) e uma falta considerável de bens da economia (maquinário, mercadorias manufaturadas, dinheiro, crédito e a festa toda que a gente já conhece). O mundo estava “vazio” de bens da economia, como podemos ver no diagrama abaixo:


    Em um tal cenário, era até compreensível que os economistas focassem seus modelos no trato daquilo que estava em falta e esquecessem do que estava sobrando. Eles apenas fizeram o que preconiza Pareto, que é trabalhar com os 20% dos dados que fazem os 80% da diferença em relação ao fenômeno que você está modelando para fins de estudo. Só que branquinho esqueceu de “por na Cônsul” a existência dos bens e serviços fornecidos pelo ecossistema. Sabe como é, o que vem fácil a gente não presta atenção nem toma conta. Daí para o diagrama anterior, no qual cidadão vê o ecossistema como mais um lugar de onde tirar recursos e onde jogar rejeitos, dentro de uma economia que pode expandir-se indefinidamente à revelia do ecossistema, é um pulinho.

    Com tudo isso, é até razoável que algum leitor menos afeito a essas questões venha a perguntar: “Oras, mas o mundo não estava ‘vazio’? Qual o problema?”
    O problema é justamente que o mundo ESTAVA vazio, do verbo JÁ NÃO ESTÁ MAIS. Com a aceleração continuada da economia global, que consome quantidades cada vez maiores de recursos materiais, insumos energéticos e serviços naturais (de absorção e reciclagem de resíduos inclusive), chegamos ao que nós oikonomistas denominamos mundo cheio.

    A economia mundial simplesmente está “batendo na tampa” do ecossistema global finito. Não há minério, solo fértil, água potável e etc. e tal para todo mundo, e os economistas de plantão ainda querem que a economia mundial continue a crescer indefinidamente. Perceberam o desastre? A conta não fecha, mas como eles esqueceram uma parcela dos números, não enxergam mais esse não fechamento.
    Antes que alguém venha me chamar de vermelhinho ou coisa que o valha, um esclarecimento adicional: o capitalismo propriamente dito não é intrinsecamente incompatível com a economia ecológica (oikonomia). A incompatibilidade vem da contabilidade incompleta praticada em sua versão atual. Hoje, contabilizam-se apenas e tão somente os capitais financeiro e manufaturado, de onde vem que a conta não está fechando. Pois basta reinserir nesse “livro-caixa” os lançamentos correspondentes aos capitais humano, social e natural/físico (recomendo a leitura de “Capitalism as if the world matters”, de Jonathon Porritt).
    Capital humano é tudo o que podemos, como pessoa, aportar a um processo produtivo, incluindo força física, inteligência lógico-matemática, todos os demais tipos de inteligência (intrapessoal, interpessoal, espacial-motora, musical, etc.) e nosso capital intelectual (conhecimentos, habilidades e competências).
    Capital social é todo o conjunto de regras e interações sociais que nos permitem produzir e conviver em harmonia: instituições, leis, regras, cultura, etiqueta, etc.
    Capital natural ou capital físico é a soma de todos os serviços e produtos fornecidos pelo ecossistema: purificação atmosférica, ciclo da água (incluindo regularidade de regimes de chuvas), fornecimento e renovação de solos férteis, fertilização de culturas agrícolas, fornecimento de matérias primas diversas, fornecimento de oxigênio atmosférico pelo fitoplâncton oceânico, reciclagem de rejeitos sólidos pelo solo e respectiva microfauna bacteriana, etc., etc., etc.
    Uma vez que você devolve os “números” correspondentes a essas informações ao seu “sistema de equações”, a conta volta a fechar. Afinal de contas, capital é todo e qualquer estoque a partir de cujo fluxo podemos auferir bens e serviços. E o bom e velho capitalismo é o sistema de mercado em que a oferta e a procura dos bens e serviços regem sozinhos os fluxos dos diversos tipos de capital (a boa e velha "mão invisível" de Adam Smith). Desde que você se lembre de incluir em seu modelo todos os capitais envolvidos em seu processo econômico, o modelo funciona.
    Hoje eu já deixei com vocês os conceitos de Oikonomia X Crematística, mundo vazio, mundo cheio e Teoria dos Cinco Capitais (natural/físico, humano, social, manufaturado e financeiro).
    Antes de encerrar, convido-os a fazer uma pequena "lição de casa": recordem termodinâmica básica (1ª e 2ª leis) e fucem no Google atrás das palavras ENTROPIA e EXERGIA. Isso será útil para o melhor aproveitamento do próximo post desta série.
    Por enquanto já está de bom tamanho para uma introdução, então à guisa de fechamento vou apenas deixar alguns autores obrigatórios:
    • Nicholas Georgescu-Roegen: pai da matéria, com seu The Entropy Law and the Economic Process;
    • Robert Costanza: membro fundador da International Society of Ecological Economics; e

    • Herman Daly: meu autor favorito, extremamente prolífico. Para os iniciantes, recomendo seu altamente didático “Ecological Economics: Principles and Applications”, em co-autoria com Joshua Farley.
    Agradecimentos: As ilustrações "sem créditos" pertencem originalmente às transparências de aula da disciplina PEA-2200: Energia, Meio Ambiente e Sustentabilidade, para a qual presto serviços como aluno-monitor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
    Daqui duas semanas, retomarei alguns dos conceitos básicos e construirei para vocês um pequeno “teorema de impossibilidade”, uma ferramenta básica de suma importância para o remodelamento da teoria econômica visando a obtenção de uma economia ESTÁVEL e, portanto, SUSTENTÁVEL, e para a compreensão de por quê isso é absoluta e inequivocamente necessário.
    Até lá, pessoal!

    7 de julho de 2009

    Mini adendos

    Senhores, bom dia.

    Aqui em São Paulo já saiu o quarto volume da coleção portuguêsa de Júlio Verne, "Viagem ao Centro da Terra". Uma pesquisa rápida na internet mostra que o autor em questão tem dezenas de outros livros além de seus títulos mais conhecidos, espero que a iniciativa européia tenha produzido exemplares de todos eles.

    Uma curiosidade: Jules Gabriel Vèrne Allotte foi de uma produtividade literária assombrosa. Sua obra completa totaliza 65 romances (incluindo os 54 títulos da série Viagens Extraordinárias), cerca de vinte contos e ensaios, trinta peças, alguns trabalhos geográficos, libretos de ópera (dos quais só encontrei informações sobre a opereta cômica Colin-Millard, de Aristide Hignard, em co-autoria) e poemas.

    Fora isso, esqueci de incluir um tipo especial de preparo de café: a prensa francêsa, ou cafetière à piston (também conhecida como Bodum ou melior). Essa pequena engenhoca produz uma bebida intermediária entre o café de coador e o café turco.




    Seu funcionamento é bastante curioso: após misturar e deixar em infusão por cerca de 5 a 10 minutos o pó de café e a água quente em um recipiente (atualmente estes costumam ser de vidro resistente a choques térmicos, como os vidros de borosilicato - e.g., Pyrex), introduz-se neste recipiente a "prensa" propriamente dita. Esta é uma espécie de êmbolo de seringa, que comprime a parte sólida da mistura água-pó e permite a passagem da bebida resultante através de uma peneira metálica de malha fina encimada por uma placa metálica perfurada.

    Uma vez que a peneira metálica não pode ser excessivamente fina (ou a bebida acabaria não passando sem um esforço extra do usuário), usa-se um pó moido mais grosso (regula-se o moinho para moer menos fino). Mesmo assim, sempre passa uma pequena quantidade de pó para a bebida, o que contribui para um sabor diferenciado, fora o fato de que, sendo este um preparo sem filtro, os óleos essenciais do grão estão fortemente presentes no café resultante, embora em menor quantidade em relação ao produto de uma moka ou de uma máquina de expresso.

    Uma vez que a parte superior do mecanismo é uma tampa adaptada, o conjunto recipiente + café + prensa pode ser levado à mesa como um simpático bule. Só não pode deixar a bebida dentro da prensa por mais do que cerca de 20 minutos após o preparo, ou o contato continuado com os sedimentos pode fazer com que ela amargue.

    Como um vídeo é melhor que mil palavras, fica o link: http://www.videojug.com/film/how-to-make-cafetiere-coffee .

    Bom cafezinho, e bom dia!

    6 de julho de 2009

    "Abrindo edital"

    Senhores, bom dia.

    O post sobre Economia Ecológica já está em fase de "fermentação" na minha cabeça, e devo informá-los de que sua extensão me levará a publicá-lo por partes. O primeiro bloco tratará apenas de apresentar as noções básicas, primeiros conceitos e autores consagrados desta fusão de Ciências Ambientais com Economia. As chulapadas na cara do grande público serão estruturadas em um ou dois posts subseqüentes, que publicarei por volta de 25/26 de julho (com certeza) e 8/9 de agosto (se houver terceiro bloco).

    O "Edital" referido no tema é quanto ao tema da postagem-coringa de 18/19 de julho, que ainda está em aberto. Por enquanto tenho apenas uma sugestão, para falar sobre homeopatia. Aguardo mais sugestões, ou pelo menos avisos vossos de que o primeiro tema sugerido já está do gosto de todos. Avaliarei apenas as sugestões que me chegarem até dia 12 de julho, pois não gosto de redigir postagens agendadas com menos de uma semana de prazo para trabalhar. Principalmente no caso das "coringa", que podem exigir trabalho de pesquisa adicional.

    O tema escolhido será anunciado dia 13, junto com os agradecimentos a todos aqueles que tiverem colaborado com suas sugestões.

    Quanto à postagem de 1/2 de agosto, será sobre um tema "abobrinhento" que ainda não escolhi, para fazer o rodízio de pesada de mão das postagens principais.

    Até a próxima!

    5 de julho de 2009

    Momento enxaqueca

    Senhores, boa tarde.

    Antes de mais nada, sim, advogarei em causa própria. O que normalmente não é uma boa recomendação, mas neste caso hão de convir que só advogando em causa própria, mesmo.

    Fora isso, não pertenço ao time do Aldo Rebelo (um xarope que devia tomar tomar surra de peixe morto todas as manhãs, a ver se virava gente), que acredita que não se devam usar palavras de outros idiomas misturadas com o português sob hipótese alguma. Não me apetece fazer como os lusos que chamam o mouse do computador de rato.

    Isto posto, meu protesto é contra o uso da palavra NERD. Afirmo e reitero a quem pedir que todo aquele que a usa está prestando um desserviço a si e a todos a seu redor; quer fale a sério, quer esteja de brincadeira ou mesmo ainda se o disser por pura preguiça mental.

    Muito embora eu saiba que o inventor do avião é Alberto Santos Dumont e que o melhor refrigerante do mundo é o Guaraná Champagne Antártica e prefira folclore nacional a essas histórias de Santa Claus e Halloween, não sou lá muito patriota. Não implico com o uso de termos em inglês quando importamos para a nossa um artefato de outra realidade. Pessoas que se divertem quebrando códigos de segurança em computadores e coisas do gênero são hackers, não há por que quebrar a cabeça inventando um nome em português para isso. Assim como ludopédio é o raio que o parta, fique sabendo quem quis renomear o tal do futebol.

    Mas a palavra NERD se refere a um arquétipo de per si extremamente nefasto e amaldiçoadamente arraigado à psiquê nacional, que é o popular CU-DE-FERRO. Trata-se da noção de que todo o ser humano com gosto pela aquisição de conhecimentos e desenvolvimento da própria potência intelectiva, marcadamente aqueles que tem maior predileção pelas áreas de ciências exatas, é uma espécie de "aleijão mental" sem direito a vida social ou afetiva.

    Os componentes mais clássicos desse arquétipo são a noção de que sua aparência física é forçosamente repulsiva, os assuntos de sua predileção áridos e aborrecidos, seu senso estético absolutamente deformado e a convivência com tal ser uma experiência excruciante a ser evitada a todo e qualquer preço.

    A origem do termo nacional, versão chula do arcaísmo "caxias" (homenagem ao Duque de Caxias, em virtude do alto grau em que este apresentava a virtude da disciplina), provém da alegação (por parte dos colegas inaptos e invejosos) de que, para obter a seqüência ininterrupta de altas notas que caracteriza a vida acadêmica deste tipo de indivíduo, ele deva ter glúteos de aço, para suportar permanecer tanto tempo sentado diante dos livros.

    Como podemos ver, o uso desse termo e as atitudes associadas integram-se à cultura da pessoa desde a mais tenra idade, pois que os alunos repetentes já o inculcam em seus coleguinhas. A explicação para isso é ainda mais simples. Em função dos instintos sociais inerentes ao ser humano, as classes costumam se organizar em estruturas sociais que giram em torno daquelas crianças que se destacam, sendo que todas, pelo instinto natural que nos leva a buscar a aceitação pelo grupo, desejam destacar-se de forma positiva. Os repetentes, obviamente, não conseguem fazê-lo em função de sua competência acadêmica, mas a natureza lhes deu a vantagem do tamanho e da força física, que eventualmente lhes conferem melhores resultados nas atividades esportivas e outras brincadeiras das aulas de Educação Física. Resultado óbvio, hostilizam os melhores alunos e criam em suas respectivas turmas uma cultura de que "quem gosta de estudar não é legal".

    E se você "não é legal", não tem apelação. Passa sua vida escolar sem amiguinhos, sem namoradinha e sem ter a quem recorrer. Os psicologicamente mais fracos cedem e entram para a turma do fundão, tentando se integrar a essa estrutura social distorcida sendo bagunceiros e palhaços de turma.

    Já os poucos fortes bastar-se-ão a si mesmos e comprazer-se-ão em desenvolver suas competências à revelia da patuléia desvairada, mas os anos de vida social escassa ou inexistente cobram o seu preço. Suas personalidades costumam se tornar introspectivas em maior ou menor grau, seu senso crítico torna-se altamente apurado e seu individualismo exacerbado a níveis incomuns (o proverbial "botão de FODA-SE" é apertado até o talo).

    Alguns, a minoria barulhenta que dá munição ao estereótipo, chegam realmente a se tornar socialmente incapazes por misantropia pura e simples. Os demais desenvolvem personalidades próprias, sempre fora de conformidade com o que for mainstream à época, pelo único e suficiente motivo de que toda unanimidade é burra e eles não. Essa recusa automática a integrar-se ao mainstream completa a sentença de isolamento social (total ou parcial, dependendo da qualidade do ambiente humano que o cerca) do indivíduo, em função da preguiça mental da grande maioria das pessoas, que permanece presa à busca pela aceitação e via de regra tem por hábito escolher a rota mais fácil, que é abraçar as coisas e pessoas que forem mainstream e refugar as que não são.

    Então, da próxima vez que você for chamar alguém de NERD, pense muito antes de fazê-lo.

    1. Você realmente acredita que é demérito para um ser humano o amor ao conhecimento?
    2. Você realmente acredita que inteligência é sinônimo de "não ser legal"?
    3. Você sincera e honestamente se orgulha de pertencer à mé(R)dia?
    4. Seus gostos são ditados pelos outros e você é feliz por isso?
    5. Você sincera e honestamente se orgulha de ter senso estético limitado e/ou capacidade intelectual inferior?

    Para aqueles que responderam afirmativamente às cinco perguntas acima e estão estufando o peito e enchendo a boca para dizer que eu sou um nerd perdedor chorão, uma notícia e um conselho. Vocês são DESPERDÍCIOS DE OXIGÊNIO AMBULANTES. Aproveitem que não gostar de crianças está na moda e façam um favor à espécie: ABSTENHAM-SE DE SE REPRODUZIR, RETIREM SEUS GENES INFECTOS DO NOSSO POOL!

    Mas se a sua resposta para qualquer uma daquelas perguntas for NÃO, então dobre a língua, peça mentalmente perdão a si mesmo (de joelhos, por que o desserviço que você estaria prestes a se fazer é do tamanho que você está sentindo agora para maior) e tire essa palavra do seu vocabulário e da sua mente.

    Ufa! Falei.

    4 de julho de 2009

    Temperando o cafezinho

    Senhores, bom dia.

    Complementando o post anterior, antes de mais nada a questão do açúcar. Gosto é igual nariz, mas alguns poderiam se beneficiar de uma plástica. Os iniciados na arte de apreciar um bom café (que tem tantas nuances quanto a de apreciar uma boa taça de vinho, como já foi dito) são unânimes em dizer que, assim como o chá, não se adoça um bom expresso. Os cafés feitos em máquina de espresso ou moka são tomados puros, de preferência sem leite.

    Para quem é viciado em café com leite, a partir da máquina de café é possível obter o chamado latte, que é um café com leite artístico. Basicamente, vertem-se quantidades controladas de leite vaporizado sobre creme de espresso ou espresso ristretto e esculpe-se a espuma resultante, produzindo desenhos e padrões geométricos variados. Alguns desenhos mais avançados são complementados com filetes trabalhados de calda de chocolate. Para melhor entender do que se trata, recomendo clicar e assistir: 

    O espresso também pode ser eventualmente apreciado com a adição de pequenas quantidades de licor. Os melhores são os de anis (sendo o campeoníssimo o italiano Sambuca) ou laranja (Cointreau).

    Já o cafezinho de coador pode ser adoçado, dependendo da concentração. Quanto menos concentrado, mais se pode adoçar. Não recomendo o uso de mel, o sabor é forte demais mesmo para combinar com um cafezinho carioca/mineiro, mas quem quiser experimentar um café como se fazia na roça pode adoçar sua xícara com açúcar mascavo ou lascas de rapadura.

    Também em relação ao café de coador, é possível adicionar algumas especiarias (sempre à razão de uma especiaria por xícara sem licor ou adoçante, ou vira pasticcio):

    • Chocolate em pó: para quem quer "capuccino à brasileira", já que o legítimo capuccino se faz com espresso e espuma de leite vaporizado;
    • Canela: empresta um aroma especial, pode ser usado ao gosto do freguês. Única que eu uso também no espresso;
    • Noz-moscada: para cafés de coador mais encorpados, confere um sabor único; e last but not the least,
    • Cardamomo: o óleo aromático das sementes em suas bagas é o diferencial em um bule de café árabe/turco, que é um capítulo à parte. As sementes também podem ser previamente esmagadas e adicionadas a uma xícara de cafezinho comum.

    O café turco ou café árabe, mencionado acima, é feito em um bule para café de coador, com um pó moído de modo a ficar especialmente fino, e não é coado. Misturam-se o pó de café, bagas de cardamomo e açúcar (opcional, recomendo não adicionar) à água antes de se levar o bule ao fogo. Uma vez feita a infusão, serve-se como está e deixa-se decantar na xícara por alguns segundos antes de consumir.

    Para quem desejar fazer o café turco da forma tradicional, também é possível encontrar em lojas especializadas o "bule" (na verdade uma caçarola, chamada cevze) específico para esse preparo. Uma curiosidade cultural é a "leitura" do café, em que após o consumo de uma xícara da bebida a pessoa "lê seu futuro" nos desenhos formados pela borra (http://www.business-with-turkey.com/guia-turismo/cafe-turco-fazer-ler-borra-sorte.shtml).

    Bom café para todos!

    3 de julho de 2009

    Vai um cafézinho aí?

    Senhores, boa noite.

    Sendo o café minha segunda bebida não-alcoólica favorita, está oficialmente confirmado que eu sou um cafeinômano. Nada mais natural, uma vez que minha graduação foi em engenharia. Todos os que se formaram em cursos que exigem que a pessoa vire noites para entregar trabalhos todo santo semestre acabam adictos de cafeína em maior ou menor grau.

    Digressões à parte, vamos ao que interessa, que é o único e verdadeiro amor de nossas vidas, O CAFÉ. Comecemos com um pouco de história: segundo reza a lenda, a planta (Coffea arabica) foi descoberta na Etiópia no século III d.C. por Kaldi, um pastor de cabras. Uma noite, preocupado em saber por que cargas d’água suas cabras não voltavam para o redil como de costume, foi atrás delas e encontrou-as enchendo as fuças de frutos de cafeeiro, avançando de moita em moita rumo à primeira overdose de cafeína da história.

    Agora vocês perguntam: e o que fez nosso herói? Pois fez o que lhe mereceu este título. Seguindo o adágio “Se os animais comem, eu também posso comer”, colheu um punhado daqueles frutos, mandou pra dentro e logo começou a dançar de alegria junto com seu querido rebanho. Feliz como só fica quem tomou um bom porre de expresso, no dia seguinte (imagino que nem tenha dormido, fritando com a overdose) foi ao mosteiro mais próximo e mostrou esse presente dos céus aos monges que, provavelmente preocupados com a cara de “virado” de nosso melhor amigo, decretaram que boa coisa esta planta não poderia ser.

    Pois bem, herói que é herói manda bem até quando manda mal. Desacorçoado com a declaração dos monges, disse que os frutos eram “obra do demônio” e tacou fogo neles. Nascia ali a torra! Seduzidos pelo aroma irresistível do melhor amigo do estudante, os monges sugeriram que se moessem os grãos ali torrados e se experimentasse qual seria o sabor da infusão feita com este pó. Daí pra frente, foi só alegria! Da Etiópia, os grãos se espalham pela África, especialmente pela África árabe, de onde chegam à Europa entre o final do século XVI e o início do XVII, com os holandeses plantando os primeiros cafezais não africanos em nível de exportação na ilha de Java (de onde os estadunidenses chamam a bebida de Java até hoje).

    Agora, mais uma curiosidade histórica: as primeiras barrinhas de energia da história da humanidade eram de café, elaboradas na África sob a forma de bolinhas compostas de gordura animal e frutos de cafeeiro, na mesma época em que nosso herói dançava com as cabras. E não pára por aí: também é de lá e da mesma época a primeira bebida energética: vinho de frutos de cafeeiro! Mesmo feito com os frutos inteiros (polpa inclusive), dá para imaginar que whisky com energético nem chega perto da qualidade da receita original. Gostaria realmente de saber por que é que ainda não atinaram com reeditar estas delícias para o mercado capitalista globalizado. Quem é que há de querer saber de Red Bull quando existir vinho de frutos de cafeeiro?

    Quanto à expansão do Coffea pelo mundo, reza a lenda que a devemos a um contrabandista indiano. Como bons negociantes, os árabes mantinham para si o monopólio do produto exportando apenas grãos fervidos ou tostados e, portanto, mortos. Não era possível plantá-los e passar a produzi-los por conta própria a partir de uma remessa importada para consumo. Mas eis que o peregrino-contrabandista Baba Budan, de retorno de sua peregrinação a Meca, traz algumas sementes vivas/férteis debaixo de uma cinta de pano (um feito muito mais nobre do que levar dólares na cueca, diga-se de passagem!).

    Voltando à história oficial, a rápida expansão do café pelo mundo colonial se deveu em grande parte ao excesso de confiança dos holandeses, que distribuíram mudas de cafeeiro de presente para aristocratas ao redor do mundo, espalhando, assim, o nosso pretinho gostoso pelo mundo (eu escrevi isso? cazzo, preciso de um expresso... digitar de madrugada só poderia dar nisso...).

    E agora para um pouco de ciência. Coffea arabica é o nosso querido / amado / idolatrado / salve!salve! café arábica, a variedade a partir da qual se obtém todos os cafés gourmet: Bahia e Bourbon Santos (nacionais), Supremo (Colômbia), Java e Sumatra (Indonésia), Altura e Pluma Coixtepec (México) e tantos outros. Já o nosso cafezinho do dia a dia é feito a partir da espécie Coffea canephora, também conhecido como Robusta ou Conillon. A bebida feita a partir do robusta é menos saborosa, mas é mais rica em cafeína.

    É interessante notar como mais uma vez somos vítimas da “maldição do produtor de commodities”: virtualmente toda a nossa produção de arábica vai para o mercado de exportação, sobrando apenas parte da produção de robusta e os refugos da produção de arábica para o mercado nacional. E isso por que somos o maior produtor mundial do grão, deixando todos os outros produtores no chinelo em termos quantitativos e perdendo em qualidade (na linha de cafés gourmet) apenas para a produção colombiana.

    De qualquer forma, exceção feita às poucas marcas de café gourmet encontradas no mercado e a importação e reimportação de produtos de alta qualidade por parte de algumas casas especializadas, o café que encontramos à nossa disposição em território nacional é de qualidade marcadamente inferior, sendo as melhores marcas feitas com uma mistura de grãos de qualidade inferior de diversas variedades de robusta/conillon, enquanto que as piores nos fazem passar por desgostos que variam da adição de cevada e chicória torradas à presença de gravetos, insetos e coisas piores.

    Desta forma, ou arcamos com o custo de um café gourmet, ou nossa única proteção contra uma falta de qualidade que atinge as raias da insalubridade é a aquisição de produtos certificados (sic) pela Associação Brasileira da Indústria de Café – ABIC.

    Claro que isso é em relação aos cafés comercializados sob a forma “torrado e moído”, mas se você tiver bala na agulha para comprar um pequeno moinho, o mundo dos cafés em grão abre suas portas e você escapa automaticamente da cevada, da chicória e dos gravetos, além de poder aproveitar o máximo de aroma e sabor, uma vez que estas características do café começam lentamente e gradualmente a se degradar a partir do instante da moagem.
    Além disso, a oferta de cafés gourmet na forma “em grão” é mais extensa que na forma “torrada e moída”, e a maioria das máquinas de expresso vêm com moinho já associado ou com a opção de aquisição de um moinho produzido pela mesma empresa que produziu a máquina.

    Falando em máquinas de expresso, vamos às diversas formas de preparar a bebida, a partir da obtenção do pó (seja por moagem, seja adquirindo o produto já moído – no último caso, dê preferência às embalagens a vácuo, que preservam as características do produto por mais tempo). Vou elencá-las por ordem de concentração máxima da bebida obtida, das mais para as menos concentradas (gosto é gosto, mas para mim quanto mais concentrado melhor).

    O expresso de máquina: a máquina de expresso joga vapor de água a alta pressão sobre o pó, extraindo o máximo de princípios ativos, óleos essenciais e outros componentes organolépticos (responsáveis por aroma, sabor e outras propriedades que tornam uma boa xícara de café uma experiência tão rica quanto uma taça de bom vinho). A bebida obtida tem sua concentração controlada pelo barista (http://www.acbb.com.br/) que pilota a máquina, podendo variar desde um espresso ristretto (metade de uma xícara regulamentar de café, máxima concentração de sabor, mínimo de cafeína) até um cafezinho mineiro/carioca (mínima concentração de sabor, máxima extração de cafeína). Quanto mais concentrada a xícara preparada na máquina, mais espesso o creme ou “colarinho” que flutua sobre a bebida. Um bom expresso deve ter creme rico e encorpado, de cor caramelo.

    A “moka”: essa cafeteira de origem italiana é a segunda melhor forma de fazer café, para aqueles que apreciam uma xícara do legítimo “espresso”. O vapor é forçado igualmente a passar através do pó, mas por suas características de construção isso se dá à pressão atmosférica e a uma temperatura pouca coisa superior à da ebulição da água ao ar livre, com menor extração de óleos essenciais e outros compostos do pó. Desta forma, exceto em alguns modelos modificados que contam com um pequeno peso como o das tampas de panelas de pressão, não há formação de creme.

    O coador ou cafeteira: forma mais comum de preparo, produz o popular cafezinho, cuja concentração depende apenas da proporção de pó para água que se use. Embora o coador de papel seja muito mais prático, o melhor sabor é obtido com o coador de pano. 
    ATENÇÃO: um coador de pano nunca deve ser usado novo/“virgem”. Antes do primeiro uso, deve-se passar um primeiro café “perdido” (não será bebido) por ele, e o pó usado deverá dormir dentro desse coador de um dia para o outro. Em seguida, o coador será apenas enxaguado com água corrente em abundância.

    Nota: NUNCA lave um coador de pano com água e sabão. Apenas enxágüe com bastante água e seque bem, deixando secar à sombra. Conforme o uso, o tecido se impregna de óleos essenciais e outras substâncias do café, resultando sempre em uma bebida melhor a cada passada.

    Além disso, quando preparar a bebida em coador, é importante não ferver a água, que deverá estar àquela temperatura em que começam a surgir algumas bolhas de vapor maiores no fundo da panela/bule/leiteira antes de se adicionar o pó e desligar o fogo. É importante prestar atenção neste detalhe, pois deixar a mistura ferver ou permitir que a água abra fervura violenta antes de misturar o pó, no preparo em coador, faz com que a bebida oxide em contato com o oxigênio do ar, dando ao café o que os especialistas chamam de gosto de “queimado”. Mistura-se completamente o pó à água para garantia de uma boa infusão, até que se forme um creme sobre a superfície da água. Em seguida, derrama-se a mistura dentro do coador.

    Para encerrar esta postagem, duas receitas. Uma, do melhor drink que já inventaram nessa vida, o Irish Coffee; a outra, uma mousse.

    Irish Coffee:
    Ingredientes

    • Uma dose de whisky irlandês (25 ml)
    • Dois expressos longos
    • Uma colher de sopa bem cheia de açúcar mascavo
    • Creme de leite fresco integral (para fazer creme batido, por que chantilly de lata NÃO PRESTA)
    • Açúcar a gosto

    Preparo

    • Prepare o creme batido, batendo o creme fresco com açúcar a gosto até ficar tão próximo quanto você conseguir de chantilly (ou seja, bata enquanto você tiver paciência para bater – ajuda muito usar um batedor especial desses para bater claras em neve);
    • Esquente a sua taça ou xícara com água quente;
    • Dissolva o açúcar no whisky;
    • Adicione o café quente, deixando espaço para acomodar cerca de 1cm de altura de creme batido;
    • Verta o creme sobre as costas de uma colher apoiada na borda da taça ou xícara, para que o creme flutue sobre a bebida sem afundar.

    Se minha explicação não ficou legal, clique no link e assista o vídeo (em inglês, sorry): http://www.youtube.com/watch?v=1Vfde8rCO-w&feature=related.

    Mousse de café:
    Ingredientes

    •  4 folhas de gelatina branca
    •  3 gemas
    •  2 colheres (sopa) de café
    •  1 xícara de leite
    •  1 lata de leite condensado
    •  3 claras em neve
    •  Chantily e cerejas para decorar 

    Modo de preparo

    • Prepare a gelatina conforme as instruções da embalagem;
    • Desmanche as gemas e o café no leite e reserve;
    • Misture bem a gelatina com o leite;
    • Leve ao fogo em banho-maria para dissolver completamente e deixe esfriar;
    • Quando esfriar, junte o leite condensado e as claras em neve, coloque em taças e decore.

    Bom apetite, e boa insônia!

    Fontes bibliográficas:

    2 de julho de 2009

    Provando que eu sou um alienado

    Senhores, bom dia:

    A leitora Laivine (única a ter tanta coragem ou falta do que fazer a ponto de comentar neste blog até o momento) me informou que a notícia do post abaixo já é do ano passado.

    Obrigado, Lai!

    Buenas, de qualquer modo mantenho o post abaixo, por que é o registro de quando este alienado que vos escreve tomou conhecimento de mais este desastre "musical". É só mais uma prova de que ser alienado não é necessariamente negativo, já que nos poupa desse tipo de "informação", bem como de saber o que está acontecendo na novela das 8 que começa às 9, e tantas outras coisas sem as quais não se entabula uma conversação hoje em dia.

    Daí que está no meu perfil: Pra que amigos, se eu tenho os livros?

    Abração pra amiga Laivine (pãtz, tá parecendo programa de rádio AM daqueles bem rurais) e bom dia pra todo mundo!

    1 de julho de 2009

    A propósito

    Fiquei sabendo hoje pela televisão que Chitãozinho e Xororó fizeram recentemente uma apresentação conjunta com o grupo FRESNO.

    Eu não disse que eles são dois prostitutos?

    Mini-resenha: coleção portuguêsa de Júlio Verne

    Senhores, boa-tarde:

    Como diria a troupe do Monty Python, "And now for something completely different".

    Além das postagens programadas e algumas vinhetas, de vez em nunca também jogarei meia dúzia de parágrafos "de bobeira", para a freqüência de atualização não ficar baixa demais.

    Hoje vou falar sobre uma iniciativa editorial da Publisher Comércio Internacional, aqui de São Paulo, distribuída nas bancas pela DINAP S/A, Distribuidora Nacional de Publicações.

    Trata-se da colecção (com o C extra, por que está em português de Portugal) das obras completas de Júlio Verne, publicada quinzenalmente e atualmente em seu terceiro volume (pelo menos no eixo Rio-São Paulo, já que não sei se a distribuição será simultânea em todo o território nacional ou setorizada): 5 semanas em balão. A colecção abriu com Vinte mil léguas submarinas e seguiu com Viagem ao mundo em 80 dias.

    Pelo menos na banca onde compro (estação São Joaquim do metrô) quase não houve divulgação. Também, imagino a felicidade dos jornaleiros, neste nosso país, quando se deparam com um produto tão pouco palatável quanto um livro grande (algumas centenas de páginas), de capa dura (cara de livro "velho").

    O estilo de Monsieur Verne é bastante peculiar, intercalando momentos de ação no melhor estilo block-buster com longas digressões psicológicas ou científicas. Estas últimas poderão parecer enfadonhas aos mais impacientes (confesso que por volta da metade de "Vinte mil léguas" as séries de peixes e organismos marinhos já me estavam aborrecendo um pouco), mas acredito que farão a delícia daqueles que tiverem vocações de cunho filosófico e ou naturalista.

    Fora isso, o trabalho editorial da RBA Coleccionables S/A (empresa espanhola responsável por elaborar esta colecção em 2003) está até bastante razoável. Exceto por alguns pequenos erros de impressão, os volumes são muito bem cuidados, com ilustrações de capa visualmente atraentes, em um estilo nostálgico que há de lembrar a cada um a biblioteca do vovô. No mesmo espírito estão as ilustrações em preto e branco das páginas internas, no melhor estilo "bico de pena".

    Recomendo e dou nota 8.