26 de agosto de 2009

A quanto tempo, não? Economia Ecológica 3.

Observação em 11/04/2014

Atenção, novos leitores: esta postagem será mantida apenas para fins de registro histórico, pois como alguém que gostaria de se tornar um bom cristão algum dia eu finalmente me manquei de que DEUS PROVERÁ e, portanto, essa estorinha de Ecologia é só um nome fofo para satanismo (não confiar no amor de Deus foi o que fez Lúcifer cair).

Senhores, bom dia.
Em primeiro lugar, desculpem o colossal atraso.
Agora, vamos ao último post sobre economia ecológica, que será deveras curto, composto por alguns comentários e opiniões.
Começo reforçando (ou apresentando, nem lembro) o conceito de "crescimento deseconômico". Toda produção, seja de produto ou de serviço, implica tanto em uma utilidade marginal (benefícios resultantes da produção da unidade mais recente deste produto ou serviço) quanto em uma "desutilidade" marginal (prejuízos - geralmente sociais, humanos e/ou ambientais). A utilidade é decrescente (cada unidade a mais traz menos benefícios) e a desutilidade é crescente.
O problema acontece quando a escala de produção de alguma coisa finalmente atinge o ponto em que utilidade = desutilidade. "Crescer" em termos crematísticos (aumentar ainda mais a produção em termos quantitativos) a partir desse ponto significa "descrecer" em termos oikonômicos (o meio ambiente chora e a soma dos prejuízos ultrapassa a dos benefícios para todo mundo).
Uma medida de fácil acesso para se verificar se a economia global como um todo está crescendo ou descrecendo é a pegada ecológica, que mede quanto gastamos de recursos naturais e de capacidade de recuperação do meio ambiente, e tem dados disponíveis no site (em inglês): http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/
Adivinhem se já não estamos ladeira abaixo?
Meu outro comentário é sobre uma modinha pavorosa que se abateu sobre as melhores cabeças pensantes da área, que é o conceito de Economia do Hidrogênio. Essa idéia consiste em acreditar que Hidrogênio gasoso é um combustível (está disponível na natureza para ser extraído ou produzido de forma rápida e fácil para uso como insumo energético) e substituir os combustíveis fósseis por esse gás.
O pequeno problema é que a 2ª Lei da Termodinâmica é inexorável, meus amigos. A cada vez que temos uma transformação energética (conversão de uma forma de energia em outra), temos uma perda de "energia disponível"/exergia. Ou seja, toda conversão de energia resulta em geração positiva e não-nula de entropia e em "desperdício de energia". Perde-se capacidade da energia de produzir trabalho útil (que é a definição de exergia).
Acontece que, a menos que se encontre um outro meio de produzir hidrogênio gasoso que não seja a eletrólise da água ou a reforma catalítica de outros combustíveis, toda produção de hidrogênio para uso como insumo energético implica em conversões energéticas adicionais e desnecessárias. A eletrólise gasta uma eletricidade que poderia ser usada para outra coisa, e a reforma transforma quimicamente um combustível que já poderia ser usado para outra finalidade em sua forma original.
As únicas opções que me vêm à mente são a fotólise da água (forma de aproveitamento de uma exergia solar que não nos estaria disponível de outro modo) e a engenharia genética de microorganismos produtores de H2 gasoso (idem, mas pouco provável, já que seriam microorganismos dedicados a dar um passa-moleque efetivo na 2ª Lei, bem mais forte que aquele passa-moleque aparente comum a toda forma de vida).
Enfim, hidrogênio não é combustível, é vetor energético (ou "bateria", se vocês preferirem). H2 gasoso é um modo de armazenar energia, não um insumo energético propriamente dito.
Assim sendo, qualquer aplicação do hidrogênio em que o uso de um vetor energético (seja o H2 ou qualquer outro) não seja imprescindível (ou seja, onde não for realmente necessário armazenar energia) é contraproducente, e há muitos vetores energéticos menos dispendiosos e trabalhosos que o uso deste gás, que deve ser armazenado ou em hidratos metálicos (tecnologia complexa cuja manufatura implica em gastos energéticos consideráveis) ou em tanques pressurizados e resfriados (gasto energético colossal).
Portanto, falar em Economia do Hidrogênio, a menos que se façam ressalvas fortíssimas e toda uma série de explicações, é no mínimo um sinal claro de despreparo técnico.
Finalmente, um comentário pessoal:
- "Me recuso a sequer aprender a dirigir enquanto os veículos híbridos elétrico/biocombustível não chegarem ao Brasil com preços minimamente acessíveis às classes C e D!".
Sério, dirigir em outras condições, salvo exceções muito específicas, é um ato de um egoísmo bárbaro. O transporte público atende a grande maioria das necessidades, e o fato de ele ser deficitário e desconfortável deve-se, em grande parte, à pouca demanda por parte de pessoas esclarecidas e dotadas da capacidade de influenciar o mundo ao seu redor. Se mais pessoas capazes de interferir nos processos decisórios envolvidos usassem transporte público, mais pressão haveria no sentido de melhorar seu fornecimento.
Fora isso, o automóvel ocupa um espaço de pista por passageiro muito maior que o ônibus, e o transporte ferroviário/metroviário gasta muito menos energia por (passageiro transportado) x (distância percorrida). Carros estragam o trânsito dos ônibus e motos estragam o trânsito de todo mundo (costurando entre os outros veículos, reduzem a velocidade média de todos os outros motoristas).
E o que o transporte público não atende, o táxi resolve. Ponha na ponta do lápis a despesa fixa com um automóvel, somando combustível, seguro e impostos, e compare com o custo mensal de usar um táxi para as exceções e transporte público para os deslocamentos mais comuns.
Até o próximo post, se houver!

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