5 de agosto de 2009

Literatura 1

Senhores: desculpem o atraso.

Graças ao bom Deus, estou com um bom conjunto de textos para traduzir ($$ no bolso sempre é bom!) e meu tempo ficou apertado para postar.

Felizmente, o post atrasado é da família dos abobrinhentos, então é só ligar o módulo Janete Clair e sair digitando.

Basicamente, vou escolher meia dúzia dos livros que já li e falar a respeito deles: atenção, vai rolar spoiler a rodo.

Vamos começar com meu autor favorito em língua inglêsa, Thomas Hardy.

Em linhas gerais, esse vitoriano (inglês de 1800 e muito) adorava criar protagonistas super gente boa, desses com os quais a gente se identifica logo de primeira, e depois passar o livro todo destruindo a vida do(a) infeliz. Happy ending é algo que você definitivamente NÃO encontrará em livros dele, até onde me é dado saber.

Por enquanto, já li deste autor:

  • The melancholy hussar and other stories;
  • Tess of the D'Urbervilles; e
  • Jude, the obscure.

O primeiro é uma coletânea de contos, apresentando os temas favoritos do autor: preconceitos vitorianos e o quanto eles são estúpidos e ferram a vida das pessoas, amores mal-fadados, desilusões, fracassos e esperanças frustradas. Pessoas boas que não se podem casar por causa de convenções sociais artificiais e nojentas, projetos de carreira destruídos por mesquinharias e pequenez humana e outras coisas do gênero.

Todos os heróis e protagonistas morrem ou levam uma vida de fracasso destroçante, enquanto que os vilões e personagens secundários nojentos ficam de boa. Uma tremenda coletânea de lições de vida real, à época de sua primeira publicação.

O segundo é a história de uma jovem camponesa que, por causa de pais burros e sem-noção, acaba caindo nas mãos de um canalha endinheirado que a embucha e joga na rua.

Sem brincadeira! O pai da Tereza Durbeyfield (Tess, para os íntimos) era um pinguço inútil, e teve a má sina de cruzar caminho com um pároco (anglicano, lembrem-se que estamos na Inglaterra vitoriana) que gostava de desperdiçar seu tempo estudando genealogias. O tal pároco caiu na imbecilidade de informar o bebum que ele descendia de nobreza normanda, do clã dos D'Urberville. Pois o cachaceiro volta pro bar, bebe fiado e manda que lhe carreguem de volta para casa em liteira, só para vocês verem o tamanho da monguice do distinto.

Daí para a frente, só ladeira abaixo para a coitada da Tess. O malucão descobre um pouco mais para diante que há uma família atendendo pelo nome de D'Urberville alguns condados adiante (spoiler do spoiler: eram novos-ricos que compraram o sobrenome para dar alguma dignidade ao dinheiro), e convence a família toda de que seria uma boa mandar a Tess, que era a filha mais velha, para falar com eles e pedir uma ajudinha, já que são parentes.

Nem para a mãe dizer algo, por que Joana Durbeyfield, embora não bebesse, era tão cozida quanto o maridão. Pobre Tess... Lá vai ela, que encontra logo com o "homem da casa": Alec D'Urberville, um filhinho de mamãe (viúva, cega e desinformada - Alec fazia o que quisesse com a grana e com as propriedades, criadagem inclusive) comedor de empregadas.

Pois Alec convence Tess a ficar em uma granja de frangos, como se mamãe D'Urberville soubesse disso.

Algumas páginas adiante, Alec curra Tess.

Mais algumas páginas adiante, Alec enjoa de Tess, que volta grávida para sua aldeia. E isso com o povo todo achando que ela ia casar com o primo Alec! ...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

Tess tem seu filhote, trabalha na roça feito uma condenada, vê seu filhote morrer, continua trabalhando na roça feito uma condenada e finalmente tem que migrar para outro condado para poder continuar trabalhando sem que o resto de sua família se ferre com a sua desonra (vitorianos escrotos...).

Chegando no outro condado, trabalha-trabalha-trabalha até que aparece um sujeito aparentemente bacana. Ela tenta não gostar dele, por que sabe a cabeça do macharal do povo e do tempo dela, mas não consegue e cai de quatro e de boca no capim. O camarada, sem saber da história dela, cai igualmente aboxonado.

Ela tenta avisá-lo de seu passado, antes que aconteça algo mais grave, mas nãããão, não haveria um livro de Thomas Hardy se ela conseguisse avisá-lo a tempo. Os dois casam, ela finalmente conta a ele seu infortúnio (detalhe, depois de ELE ter dito que tinha passado dois dias comendo uma fulaninha sem casar a um par de anos atrás) e ele SURTA.

Angel Claire (esse é o nome do tal sujeito) simplesmente SURTA, dorme em cama separada, quase mata Tess em um ataque de sonambulismo e some para o BRASIL, vejam vocês. Passa um ano aqui antes de voltar, e nunca dá notícias para a Tess, que passa uma vida de cão chupando manga embaixo de pé de tamarindo, trabalhando feito uma escrava para se sustentar em um condado com o clima mais escroto de toda a Inglaterra.

Quando Angel Claire está para voltar do Brasil, Alec D'Urberville (por que filho da puta que é filho da puta SEMPRE VOLTA NA PIOR HORA nos livros do Thomas Hardy) reaparece, inferniza a vida da Tess e compra a família todinha dela para convencê-la a se tornar sua amante (já que esposa ela já era do Angel Claire). A infeliz da Tess resiste um par de meses, até que Alec solta a última cartada: "Queres que teus irmãos e irmãs tenham vidas bacanas e felizes, deixe que eu compro isso pra eles, basta que você seja minha". Bom, como o pai morreu e a mãe é uma encostada inútil do cão, Tess não teve escolha.

Pois depois disso é que Angel finalmente resolve PERDOAR Tess (olhem a desfaçatez do menino... Ah, uma jaula!) e procurá-la. Encontra-a morando com Alec, e ela o informa de toda a infelicidade que se abateu sobre ela. Pois é, desgraça pouca para protagonista de T. H. é bobagem.

Angel vai embora, dando a entender que se não fosse por ela estar com Alec estaria tudo bem, por que mesmo que se fossem agora a infâmia os perseguiria e yadda-yadda-yadda.

Na seqüência, Tess pira na batatinha, cata uma peixeira na cozinha, chama Alec de Conde Drácula e enfia a peixeira até o cabo no coração dele. Troca a roupitcha e sai alegre e lampeira procurando Angel.

Encontra-o, conta o que fez, fogem juntos por um tempo, acham um chalé abandonado e vivem uma pequena lua-de-mel (um minutinho de alegria pra coitada da protagonista, já que ela já tinha escolhido morrer, já explico).

Saem do chalé quando percebem que sua presença nele foi descoberta pelos proprietários, mas a polícia finalmente os alcança. Antes de serem alcançados, Tess convence Angel a procurar sua irmã mais velha (mais nova que a Tess, mas mais velha que o restante da irmãozada toda) e casar com ela - a moça ainda era pura, então para ela tava tudo beleza. O lance é que Tess sabia que quem mata um rico sempre vai pro vinagre, mesmo estando com a razão, e tinha aceito ir pro vinagre para que a infâmia não alcançasse Angel Claire (é o amor, minha gente!).

O livro termina com Angel e a irmã de Tess olhando para a Torre de Londres (prisão máxima para condenados à morte) e vendo o hasteamento da bandeira negra que indica que um condenado acabou de ser executado.

Moral da história, Angel Claire babaca fica com a irmã cabacinho da Tess e termina o livro lépido e fagueiro, enquanto que a pobre coitada da Tess termina sua vida de aflições sendo degolada na cadeia.

Finalmente, o terceiro: Judas, o Obscuro.

Nunca vi um protagonista apanhar tanto num livro, nem a Tereza de Tess of the D'Urbervilles.

O cara nasce pobre e quer fazer carreira acadêmica. Bom, já começou mal, por que na Inglaterra vitoriana mobilidade social era lenda. Mas o distinto (suuuper gente boa, como todo protagonista de T. H.) era esforçado, trabalhava feito um mouro, ganhava seu sustento dignamente e torrava toda a sobra com livros, aprendendo grego e latim na unha.

Se me lembro bem, ele era entalhador de pedras (stone mason), e especializado em entalhe de lápides mortuárias: meio macabro, tal e coisa, mas mão de obra técnica especializada para a época. Dava para tirar um sustento legal sendo solteiro, trabalhando com isso e com entalhes e restaurações de detalhes arquitetônicos em pedra de cantaria em construções antigas: castelos, universidades, catedrais e coisa e tal.

Tava lá ele, estudando sozinho na boa, trabalhando, juntando umas economias para quem sabe um dia ir para o condado vizinho pedir licença para assistir umas aulas na universidade local, depois de mostrar o quanto era esforçado e já tinha aprendido sozinho, enfins, tudo se encaminhando para não ser um livro do T. H.

Mas eis que o autor bota no caminho do nosso amigo uma garota safada e dadeira que o tira dos livros para fazer nheco-nheco. Problemas? Dois: 1) cuidar de esposinha fogosa tira o tempo livre que ele tinha para os estudos e 2) a grana dele só dá para cuidar de um casal sem sobra para livros ou qualquer tipo de luxo.

Mas vocês poderiam me dizer: "Ué, o Judas que largasse dessa bestagem de querer estudar e vivesse legal como um entalhador de pedra, já que a grana da profissão sustentava o casal direito.".

O problema é que a tal mulherzinha não valia o que o gato enterra. Primeiro ela começou a infernizar com o Judas (malhar o judas com o saquito do Judas - rsrsrs), depois se não me engano resolveu lhe enfiar galha e finalmente sumiu no mundo. Foi passear no Canadá, depois de transformar a vida e a auto-estima do Judas em purê de batata.

Uma vez sozinho no mundo, Judas resolve juntar as economias e os caquinhos e reiniciar seus planos. Já que o casamento não deu certo mesmo, não custava nada esperar a poeira baixar (homem pode, né? Vitorianos escrotos...) e reiniciar de onde tinha parado. O problema era só a idade dele, que alguns anos tinham se passado nesse lero.

Nesse meio tempo, ele tinha cruzado caminho com uma prima super gente fina (atenção, em livros do T. H. você SABE que quando alguém é super gente fina esse alguém está destinado a levar trolha até o fim do livro) com a qual tinha simpatizado, mas como sujeito decente e casado ele só ficou na amizade e tchau.

Pois bom, como o primo Judas estava casado, a prima acabou casando com um mestre-escola (um velhote que não fedia nem cheirava, se fosse gente boa tinha se ferrado no livro, mas como só não fedia nem cheirava teve um destino neutro: o autor meio que esqueceu de dar um fim pro personagem dele).

Agora que estava livre e desimpedido, se reencontra com essa prima (a família tinha avisado profeticamente quando eles eram pequenos que não era pra deixar que os dois se juntassem).

Os dois se aboxonam perdidamente, juntam-se e vão viver nesse condado vizinho onde o Judas queria tentar estudar.

O Judas trabalha entalhando pedra, reformando castelo antigo e tal, a prima dá umas aulinhas pra crianças.

Até aí, vai indo, mas eis que Arabella (a tal que não valia o que o gato enterra) reaparece do Canadá (eu diria que das profundas dos infernos, mas no caso foi do Canadá mesmo) para dizer que tinha um filho e que o moleque era dele. Depois de uns 6 a 8 anos, papagaio!

O tal moleque vai morar junto com Judas, a priminha e as duas crianças pequenas que eles tiveram. Mas com a reaparição de Arabella, o juntamento dos dois passa a ser mal visto na cidade e pouca gente lhes dá trabalho e paga (por que todo mundo acreditava que Judas e a priminha eram casados, mas com o retorno de Arabella e o aparecimento desse moleque se esclareceu e se lascou tudo), o que faz com que eles, os dois filhos e o filho do Judas com a Arabella passem um tanto de aperto.

Esse moleque é o toque de Midas do Thomas Hardy na história. O garoto tinha algo entre 6 e 8 anos e era quieto, caladão, deprimido e sombrio. Como se tivesse plena consciência de toda a escrotidão da história que cercou a vinda dele ao mundo e mais um pouco. Para vocês terem uma noção do climão tenebroso em volta do moleque, o Judas e a priminha deram-lhe o apelido de "Little Father Time" (Pequeno Pai Tempo - o Pai Tempo é a figura inglêsa do Tempo como uma pessoa que detem o conhecimento de tudo o que aconteceu ao longo das eras, é algo bem depressivo de se usar como apelido para alguém, indicando alguém extremamente taciturno).

Pois um belo dia Judas volta de entalhar umas lápides e a priminha volta de dar umas aulas, e eles encontram os bebês mortos abafados com travesseiro e o nosso "luminoso" Little Father Time pendurado em uma forca, com um bilhete aos pés: "Queridos papai e mamãe, quis poupar-vos o trabalho e as aflições de terem que cuidar de nós nestes tempos difíceis em que vosso dinheiro está tão escasso e tão duro de ganhar. Assim, mandei meus irmãozinhos para o céu e me matei" (bom, não foram exatamente essas palavras mas a mensagem era essa).

A priminha enlouquece de desgosto e volta para seu mestre escola, enquanto que o Judas passa alguns meses infeliz e adoecendo de loucura, tristeza e agonia.

No fim, os dois morrem, ele por último depois de vê-la morrer sabendo que a culpa dela morrer era toda dele.

Moral da história: coma chocolate para rebater, por que depois de ler esse livro dá um ataque de depressão monstruoso.

Faz um bom tempo que li esse livro, então devo ter pulado uma porrada de detalhe, mas o essencial tá ai em cima.

Eu tinha prometido meia dúzia de livros, mas acabou de chegar mais um pedaço gordo do meu trabalho de tradução bilíngüe e vou trabalhar que ganhar dindim é bom.

Até a próxima, quando completarei esse primeiro post com mais 3 livros analisados a la SeuZéNando: muito spoiler e muita opinião torta. Beijos nas crianças!

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