2 de março de 2012

Quaresma, tempo de conversão.

Senhores, boa noite!

Antes de mais nada, minhas desculpas pela inatividade. 6 meses sem escrever são mesmo um excesso, até mesmo para os meus padrões de desleixo blogístico.

Isso posto, vamos ao assunto do post de hoje. A Quaresma.

A Quaresma é o período de 40 dias que vai da Quarta Feira de Cinzas à Quinta Feira Santa - a quinta da Semana Santa, em que celebramos a instituição da Eucaristia (Comunhão) por Nosso Senhor Jesus Cristo. Esse período é um tempo de Conversão, Arrependimento e Penitência, em que devemos meditar e praticar atos sacrificiais: preces, jejum/abstinência e esmolas.

A fundamentação teórica é extensa, para quem quiser estudar a respeito, mas o principal está nos parágrafos 540, 1095 e 1438 do Catecismo da Igreja Católica: http://catecismo-az.tripod.com/conteudo/a-z/p/r.html#QUARESMA

Resumindo, recordamos os 40 dias e 40 noites em que Jesus jejuou no deserto, antes de ser tentado por Satanás com os pecados da vaidade, do orgulho e da cobiça e resistir de forma perfeita e inigualável, ganhando para nós a graça de sermos capazes nós também de resistir às tentações do inimigo.

A obrigação mínima de quem deseja ao menos tentar ser um bom católico, nesse período, em adição à Missa dominical, é fazer jejum (hoje denominado abstinência, mas isso é um assunto que precisaria de outra postagem para ser tratado em profundidade) de carne vermelha (gado: bovino, ovino, caprino, suíno, eqüino, etc.) e de álcool. E isso em adição ao mesmo jejum (abstinência) para a Sexta Feira Santa, em honra à Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz.

Essas práticas sacrificiais são tanto ofertas a Deus, em reparação pelos nossos pecados e pelos pecados de nossos irmãos e irmãs, quanto exercícios de auto-disciplina, uma qualidade raríssima nesses tempos de culto à auto-gratificação instantânea e irrestrita que vivemos hoje. A prece nos lembra de que somos criatura, e não Criador, e a Ele devemos toda honra, todo louvor e toda glória. A esmola nos lembra de que temos a obrigação de amar nosso próximo, criatura de Deus assim como nós. E o jejum nos faz mortificar a carne: disciplinamos nosso corpo a aceitar que ele é apenas uma roupa que veste nossa alma, e não o ator principal que está no comando.

Um histórico do desenvolvimento da tradição da Quaresma e dos jejuns/abstinências correspondentes (em inglês) se encontra em http://www.newadvent.org/cathen/09152a.htm. Aliás, o site newadvent é um excelente recurso de consulta sobre questões de Catolicismo em geral.

A propósito, pesquisando agora para escrever esse post descobri que a obrigação real é pouquinha coisa mais rigorosa: o chamado "jejum da igreja", que consiste em café da manhã frugal (chá/café/suco + torradas/biscoitos - esses últimos em pequena quantidade), uma refeição completa na hora do almoço e uma "meia refeição" (a chamada "colação": chá/café/suco + uma quantidade pequena de comida leve) na hora da janta, sempre sem carne vermelha nem álcool. Francamente? Coisa fácil, se a gente tiver um módico de vergonha na cara.

Agora para a parte de protesto do post (não seria um post do Águas se não tivesse isso...): Quaresma de verdade ignora solenemente a "Campanha da Fraternidade" (CF), essa invenção horrorosa da banda podre da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A CF é pura Teologia da Libertação (TL, um assunto que renderia outra postagem polpuda), sempre falando de algum tema absolutamente alheio à trinca Conversão, Arrependimento e Penitência que deve caracterizar nossas ações, práticas piedosas e meditações durante o período quaresmal.

Ano passado a CNBB já tinha tomado uma reprimenda direta de Sua Santidade Bento XVI, falando a esse respeito, por conta do tema da CF 2011. Primeiro que o tema foi de ecologia, tirando o foco dos fiéis do Criador e direcionando para a criação: teologicamente um erro crasso, fruto de uma atitude totalmente anti católica. Segundo que a exegese que fizeram do versículo que diz "A criação geme, como que com dores de parto", foi desonesta ao extremo. O trecho em questão (Carta de São Paulo aos Romanos, capítulo 8, versículo 12) fala não do que fazemos com a criação, mas da ansiedade nossa e de todas as criaturas no aguardo da Parúsia, a Segunda Vinda do Cristo no Fim dos Tempos.

E agora, para a CF 2012, desandaram a maionese de vez. COMO ASSIM, "conscientização sobre saúde pública"?!? Agora, em cima de desrespeitarem a obrigação de meditar sobre CONVERSÃO, ARREPENDIMENTO E PENITÊNCIA, ainda tratam de um assunto deste mundo sem sequer tentar disfarçar?!!!? Miserere nobis, Domine Deus, miserere nobis! Dessa vez passaram de todas as medidas! Senhores, já de há muito que eu não contribuía para as coletas da CF. Ultimamente tenho feito ouvidos moucos, em silêncio, aos trechos de sermões que eu percebo como infectados por TL. Agora convoco os leitores: cada vez que o padre começar a falar da CF, paremos de ouvir e rezemos mentalmente um Credo, que ganharemos muito mais.

Agora retornando a uma nota mais amena: outro recurso internético de informações sobre a Fé é o blog do Padre Paulo Ricardo, no endereço http://padrepauloricardo.org/.

Além de uma extensa série de materiais gratuitos, uma contribuição mensal de 30 reais dá direito a acessar alguns cursos de formação teológica mais específica e/ou mais substanciosa. Eu particularmente acho que vale muito a pena.

De resto, nesse meio tempo arranjei um emprego como tradutor/revisor técnico-científico de inglês-português-inglês na Solução Supernova Consultoria Farmacêutica e estou um pouco menos longe de obter meu título de Doutor (eu acho que o meu orientador acadêmico é um caso de polícia, mas já ouvi dizer que todos são...). Vamos ver se tomo vergonha na cara e não demoro tanto a escrever o próximo post.

In corde Jesu semper, pax et bonum.

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