10 de março de 2010

Pequeno espectro político.

Senhores, desculpem o descuido para com este pequeno espaço.

Os temas de que tratei ultimamente me deixaram em um cul-de-sac literário, pois embora eu aprecie imensamente os compositores cujas resenhas prometi, minha competência no assunto está aquém da necessária para bons posts.

Mas hoje uma conversa me mostrou que há quem precise de alguns esclarecimentos do que vem a ser um espectro ideológico/não-ideológico em política, com alguns exemplos. Em particular no caso do Brasil, onde a ausência já prolongada de uma direita propriamente dita torna a discussão absolutamente nebulosa, por falta de parâmetros de balizamento.

Nada mais justifica dizer que pessoas que, à semelhança de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, passaram o período do regime militar brasileiro exilados, sejam hoje figuras "de direita". Ou que se diga que o PSDB, uma dissidência do PMDB (ex-MDB), seja um partido "de direita".

Então, segue aqui um espectro político extendido, por que não existem apenas esquerda, direita e centro. Por outro modo: nem todo político tem posicionamento ideológico, e nem todo comportamento em política é exclusividade de uma dada corrente ideológica.

Primeiro grupo, bastante bem representado no Brasil: a esquerda. Uma definição correta de esquerda envolve alinhamento, em maior ou menor grau, com as teses marxistas. Atenção: em maior ou menor grau. Não é preciso ser um comunista raivoso, bolchevique, de boininha preta e emblema da foice e do martelo na roupa ou camiseta do Che. Basta ser avesso ao capitalismo e/ou ao mercado (novamente, em maior ou menor grau). Vai desde os exaltados do PSOL/PSTU/PCO aos calminhos das alas mais "centro" do PT.

Segundo, com alguns poucos representantes: o centro. Tenta sincera e honestamente conciliar pelo menos parte das teses marxistas a parte das teses de direita. De outro modo, à maneira de Olavo de Carvalho: acredita ser possível obter o melhor dos dois mundos em relação às mentalidades revolucionária (como definida por Olavo de Carvalho, vide link) e evolucionária/conservadora (esta última conforme a definição de Russel Kirk, vide link). Tem vários expoentes no PSDB e alguma gente no DEM.

Direita: regida pela mentalidade evolucionária/conservadora descrita no segundo link acima. Não há mais expoentes aqui no Brasil, salvo talvez o sr. Mário de Oliveira, que candidata-se este ano à Presidência (vide link).

Fora estes 3 grupos, que englobam a parte do espectro político que se pode chamar de ideológica "clássica", há também os seguintes grupos:

1. Os partidários de outras ideologias: seus posicionamentos não necessariamente subscrevem-se a qualquer dos 3 grupos acima, mas seguem uma agenda específica. Exemplos clássicos são os partidos verdes sérios (o brasileiro não está neste grupo) e os partidos cristãos, muito embora esses últimos sejam mais propensos a entrar à direita na parte ideológica "clássica" do espectro, mas não necessariamente - vide Teologia da Libertação (sic). Um exemplo nacional talvez seja o grupo do sr. Eimael (democracia cristã), mas não tenho dados que possam confirmar isso.

2. Os não ideológicos. São um grupo bastante amplo e heterogêneo, no qual enxergo à primeira vista 3 divisões principais:
a. Governismo sistemático: seja por falta de espinha para fazer oposição quando esta é salutar, seja por interesse, seja por sincera adesão a todos os governos que tenham passado ao longo de sua carreira, o político deste grupo é sempre membro da bancada governista. Exemplo clássico: Paulo Salim Maluf. Sejamos honestos, o homem se fez no regime militar por que foi o que estava em curso no tempo em que ele iniciou sua carreira. Se ele fosse cubano, seria um castrista ferrenho. Este vídeo (na verdade uma foto acompanhada de um jingle) é emblemático.
b. Oposição sistemática: "se hay gobierno, soy contra!". Anarquistas em geral, membros mais exaltados da parcela mais exaltada da esquerda e misantropos, entre outros. No Brasil, talvez alguns mais exaltados do PSTU e do PCO.
c. Oportunismo total: aquele político que está lá para se locupletar, e o mundo que queime à vontade lá fora. Conhecidos como bancada dinheirista (copyright Casseta e Planeta) ou fisiologistas, entre outros termos igualmente desdourantes. Exemplo clássico: família Sarney (e de resto, boa parte da massa do PMDB, como Orestes Quércia e outras figuras de igual quilate). Não tem posição fixa sobre o que quer que seja e ficam ao lado de governo ou oposição conforme lhes for mais lucrativo.

Ou seja, existem muitos tons de cinza entre o branco e o preto, além de uma pancada de outras cores.

Fora isto, a quem ainda não percebeu eu informo que sou de direita, no sentido clássico que defini neste texto. Um conservador, ciente de que existem uma ordem moral duradoura e valores absolutos, e descrente da possibilidade de que qualquer indivíduo possa atinar com saltos quânticos em termos de política, moral ou bom gosto.

In corde Jesu
Sizenando

2 comentários:

Laivine disse...

Haha, Seu Zé Nando é direita. Eu não sei o que sou, acho que no fim das contas vou virar anarquista. Hoooo "nem sei o que significa esta palavra, mas soa tão legal!!!" Hoooo o/

Meu avô sempre dizia que a Política era uma ciência linda, até que as pessoas acabaram com ela! :º

Eduardo disse...

Olha, acho que faltou falar que todos os partidos brasileiros são meramente eleitoreiros, sem filiação ideológica firme.

esquerda e direita são conceitos ultrapassados. Até o "partidão" virou eleitoreiro.

espero não ter enfocado em excesso um unico ponto, mas foi o que mais me chamou atenção.